"Quando há dez anos começamos o projecto Para ti Se não faltares!, no dia zero, o sonho dos alunos era jogar à bola à mistura com uma miragem de resultados que pareciam inalcançáveis a quem sistematicamente faltava no dia a dia e enfrentava, de tempos a tempos, um nó apertado na garganta e um rubor na face que preanunciava, em cada teste, o descalabro. As famílias tantas vezes desapontadas com as negativas e os problemas disciplinares almejavam uma passagem de ano, à 'rasca que fosse', ou então que, pelo menos, começassem a atinar na escola sem os problemas de sempre. Os professores sonhavam com paz na sala de aula e no recreio e que chegasse o dia em que alguns alunos trocassem o telemóvel e o despeito por uma oportunidade de comunicarem consigo, e assim conseguirem ensinar-lhes algo para satisfação de ambos.
Poucos anos volvidos, todos perceberam que a bola e os prémios, não eram mais que um incentivo constante aos jovens e às famílias para que se focassem e acreditassem em si próprios, trabalhando o potencial que neles víamos e treinando a cada passo a sua capacidade de ser e de estar convertida nas aulas em oportunidades de aprendizagem e fortalecimento individual. Depois de as faltas baixarem, seguiu-se a atenção e o ambiente construtivo nas aulas, a comunicação com colegas e professores, e a cooperação em equipa, em suma, um ambiente verdadeiramente educativo, sem desvios nem reprimendas, capaz de transformar a aprendizagem em prazer e reconhecimento dos jovens pelos seus pares e de converter tudo isso em sucesso. Foi chegando, então, o tempo da superação e logo a seguir o da resiliência, da manutenção da performance e da consolidação dos resultados. Por esta altura, jovens, famílias, e professores estavam certos de que a receita havia funcionando e de que eles eram capazes. Disto e de muito mais. Por esta altura também, os jovens começaram a correr pelos resultados e não pelos prémios, pelos golos em cima da vitória e não atrás do prejuízo. Houve um tempo, há três ou quatro anos, em que comecei a perguntar nas reuniões de avaliação colectiva e premiação:
Agora, que conseguimos igualar a média dos resultados da vossa escola, o que é que queremos? Que objectivos nos propomos para o próximo ano? A resposta, já a adivinhou quem lê, foi a seguinte: 'Queremos ser melhores'.
Resposta extraordinária, cheia de ambição e segura de si, mas não surpreendente. Os jovens do Para ti Se não faltares! são, em cada ano, seleccionados pelo seu talento. Uma minoria, cerca de 10% são já os melhores da escola porque converteram o seu talento em sucesso. A maioria, cerca de 90%, são jovens a abarrotar de talento desperdiçado que querem acreditar em si mesmos e estão dispostos a trabalhar para isso. Fazem um contrato de desenvolvimento com a Fundação Benfica e comem a relva, depois o resultado vem, sempre e aos magotes! Tem sido assim aos milhares nestes onze anos, mais de quatro mil jovens para ser exacto, e este ano foi uma vez mais assim. Que orgulho!"
Jorge Miranda, in O Benfica
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