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terça-feira, 29 de outubro de 2019

Jogar com medo ou jogar a medo?

"No seguimento do tema abordado pela Federação Portuguesa de Futebol sobre o comportamento dos pais (e também de outros agentes) no futebol, considerei que poderia escrever um pouco acerca do “#deixa jogar” e sobre que impacto os pais de jogadores deste país podem ter na vertente do rendimento do jovem e principalmente no bem-estar do mesmo.
Antes de começar, é importante citar uma pessoa que muito fez para a promoção do futebol jovem em Portugal: o Sr. Aurélio Pereira. Há umas semanas, falou sobre o comportamento dos pais de atletas de futebol e fez referência para o fato de “Pais que querem ser os futuros Jorge Mendes e querem que os filhos sejam os futuros Cristianos Ronaldos”.
Na minha experiência profissional, dentro da área psicológica do jogo, já realizei formações com pais de atletas de várias faixas etárias, vários objectivos e em vários contextos, estando uns ainda a aprender a gostar de jogar e outros já em fase de formação.
Falando um pouco mais pelos jovens que estão numa fase inicial da sua actividade desportiva (pois creio ser ainda mais alarmante), acredito ser essencial continuar com a sensibilização para os pais destes atletas, para o facto de que o filho ainda é muito jovem, e está sobretudo a autoconhecer-se e perceber que ainda está numa fase de descoberta.
Antes de um jogador, há que perceber que, acima de qualquer coisa, todo o atleta é um ser humano, que experiência emoções, sentimentos e comportamentos. Na minha luta perante este tema, tem sido recorrente a sensibilização e o “mostrar” de como é importante ser pai de um atleta de futebol. Mas Será Que Isto Chega? O que vamos fazer para parar com pensamentos que determinados pais têm em relação aos seus filhos de forma desajustada? Pensarão que têm uma “barra de ouro em casa” e que os têm de limar consoante a sua visão/opinião? Reforço novamente que ainda estão na fase da descoberta.
Pais, já pensaram e tentaram perceber junto daqueles que mais amam, ou seja, os vossos filhos, se é do futebol que eles realmente gostam? Será que eles estão felizes no clube onde se encontram a jogar? E vocês, pais, será que não querem mais resultados e sucesso do que os próprios filhos? Acho que é fundamental alinhar o processo reflectir: “Quando vou ver o meu filho jogar, será que utilizo mais o boné de pai, ou o boné de pai/treinador?”
No meu ponto de vista, foi deveras interessante o que a Federação Portuguesa de Futebol fez. Contudo, por vezes, questiono-me se isto já não está a ser feito há algum tempo. Será que não tem que haver outras medidas para que o menino jogue o futebol com paixão, prazer e muita alegria sem qualquer tipo de julgamentos, pressões (…)?
Como disse anteriormente, na minha profissão tive algumas formações, principalmente para optimizar o papel dos pais enquanto Pais de jogadores de futebol. E na minha tese, como alguém muito importante no meu trajecto me ensinou, para além de querermos atletas de grande competição, queremos essencialmente pais de alta competição!
O comportamento continua a ser recorrente. As exigências sobre o filho jogar de forma diferente, por exemplo: “Vai para esquerda”, quando o líder da equipa, sim O Treinador, aquele que Os Treina, diz "direita". E a quem o atleta vai obedecer quando falamos de meninos de 6/7 anos, por exemplo?
Os pais têm um papel fulcral nas acções e conduta dos seus filhos. É, por isso, imperativo que lhes permitam tomar as suas próprias decisões, com completa autonomia. Muitas das vezes, não é isso que se sucede e deparamo-nos, metaforicamente, com um jogo de futebol de consola, no qual o pai é o comando e tenta jogar à sua maneira. É importante que o pai perceba que existe uma panóplia de factores que condicionam toda a performance e que o seu filho necessita de ser autónomo e de jogar com prazer!
O comportamento perante os árbitros continua desajustado. Os insultos são constantes, num campo em que ele é o “juiz” e tem que tomar decisões, e para além de tudo, É Humano, tal como as pessoas que o criticam.
Questiono ainda, pais de atletas deste país, sendo vós os pilares dos vossos filhos, será que já pensaram que estes podem ter vergonha das vossas acções nas bancadas “nos sábados de manhã”? Será que percebem que eles podem não ter uma motivação intrínseca, e não ir criando essa mesma motivação a longo prazo, pelas vossas exigências e desajustamento de expectativas?
Será que não percebem que se colocarmos numa balança e metermos a pressão de um lado e a motivação do outro, ela pode estar desequilibrada, e isso não é positivo para o rendimento e sobretudo Bem Estar do vosso “tesouro”? Daí também o título do texto. Por vezes, deparo-me com atletas que têm medo de errar, têm medo de falhar, de assumir, muito porque sabem que vão ser repreendidos depois. Vai haver exigência depois de uma acção que deveria ser apenas de Prazer. Daí, por vezes, não haver o risco, as iniciativas, a vontade de querer mostrar diferença, A Autonomia… tudo o que nos faz apaixonar pelo desporto rei…
Claro que cada caso é um caso, e cada pessoa é uma pessoa. O objectivo é apenas ir lançando umas frases soltas para também o leitor ir reflectindo com mais precisão.
Poder-se-ia falar de tanta coisa acerca desta temática. E, como referi no inicio, há um momento inicial referente ao "aprender a gostar" e depois começa-se a formar. Mas o comportamento não poderá ser igual nos dois casos?
As formações, as propagandas do não à violência (…), sim é muito importante. Mas têm havido mudanças significativas?
E quando uma equipa de Sub12 (julgo eu), de Espanha, decidiu parar o jogo e foi de encontro à bancada onde se encontravam os pais dos próprios atletas dessa equipa e se manifestaram, demonstrando a sua insatisfação perante o que os seus “pilares” estavam a fazer? Meninos de 10/11/12 Anos! Mas que atitude!
Porque não passar da teoria à prática? Porque não existem acções?
Poderia falar muita coisa sobre este assunto, mas essencialmente, e de forma a que haja uma discussão:
Sim, É Importante O “Deixa Jogar” E A Continuação Da Sensibilização Para As Boas Práticas, Mas Será Que Não Terá Que Existir Mais Do Que Isso E Começar A Trabalhar De Forma A Punir As Pessoas Que Não Estão A Dignificar O Desporto Rei, E De Certa Forma, Deixar O “Miúdo Jogar”?"

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