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sexta-feira, 4 de outubro de 2019

A soma das diferenças

"Numa instituição que congrega o afecto ou a paixão de milhões de pessoas e que recebe a dedicação especial diferenciada de algumas centenas de milhares mais próximas, as quais generosamente lhe entregam o seu apoio de um modo mais directo, mais presente, mais constante e mais activo do que os restantes, reconhecem-se registos inevitavelmente diferentes e, até, por vezes contraditórios e antagónicos entre si, no plano dos termos e intensidades em que os indivíduos (e os subgrupos) pautam a sua relação com a colectividade.
O mesmo acontece relativamente dos modelos de interpretação que cada um por si vai fazendo acerca dos paradigmas de gestão que são administrados por quem dirige a entidade colectiva que os reúne.
A diversidade será, pois, muito naturalmente, um factor constituivo essencial que o conjunto das individualidades vem aportar a uma agremiação. Um clube compõe-se, justamente, com a unidade que representa a soma das diferenças de todos os seus sócios.
Mas, ao escolher reunir-se sob um mesmo emblema comum, é suposto que cada um dos novos membros conheça e haja decidido adoptar não apenas o património de princípios, de modelos e de metas anteriormente definidos e moldados pela história e pela cultura da instituição como também que ele próprio se disponha a assimilar todo o normativo que ali rege as actividades comuns a todos, de modo a contribuir eficazmente para a prossecução dos grandes objectivos colectivos. De outra forma não se compreenderia que aceitasse juntar-se a outros sócios que lá estão, todos, certamente, a favor de um mesmo projecto comum.
Os mais dedicados adeptos de um clube são os que um dia se dispuseram a garantir tributo do seu vínculo e, mediante o esforço financeiro que lhes é exigido, se tornam solidários com o corpo institucional da agremiação, podendo, pouco tempo depois, votar e serem eleitos e usufruir de direitos que não estão ao acesso dos meros simpatizantes ou adeptos.
Mas, aos direitos de um Sócio, correspondem para ele responsabilidades mais evidentes, ainda.
Não existe melhor arquétipo para regular vida de qualquer instituição de natureza colectiva do que atender, em primeiro lugar, às regras básicas da urbanidade, do realismo e do bom senso que pautam a civilidade; e, depois, cumprir as normais estatutárias e regulamentares que definem as nossas relações funcionais.
Podemos dar as voltas que quisermos, ou que estivermos dispostos a dar. E julgam que podem, os mais novos, vir tentar, agora, no seu afã (ou na sua ignorância...), querer impor todos os radicalismos que entenderem, todos os excessos, todos os seus fundamentalismos pueris. Mas, deem as voltas que quiserem dar, aqueles é que são os modelos simultaneamente primaciais e definitivos da vida de uma colectividade e, em especial, de um clube desportivo. Só a solidariedade entre os sócios constrói e solidifica a principal virtude que assegura as vitórias de uma instituição colectiva, se a direcção eleita (com as contas aprovadas por maioria absoluta!) for sempre inequivocamente respeitada, em todas as circunstâncias. Mesmo na discordância. E basta-nos olhar para os lados: como está bem patente em múltiplos exemplos do universo desportivo em Portugal que todos conhecemos muito bem, direcções frágeis tornam fracos clubes fortes."


José Nuno Martins, in O Benfica

1 comentário:

  1. Direcções fortes não são aquelas que ouvem os sócios, não...
    São aquelas que seguem um caminho traçado, mesmo que leve ao abismo.
    Como diria alguém já desaparecido:
    " orgulhosamente só" qual ditador de meia tigela.
    E os Avençados a bater palmas enquanto a mama não acaba.
    Em tempos, este Sr era um grande Benfiquista, no qual eu me revia...

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