"“O Clube ainda não está a ser eficaz” – pensava Mark Angie o Presidente do F.C. os Galácticos e continuava a reflectir – “há uns meses, liguei para a brigada dos homicídios empresariais, para descobrir quem é que estava a “matar” a mudança no Clube, e o Detective Colombo foi identificando não “quem”, mas “o que” e “o como” comprometemos a mudança, o que tem sido esclarecedor, mas ainda não estamos a chegar ao destino, aos resultados desejados. Porquê?”
Umas horas mais tarde, já no seu gabinete e com o Detective Colombo, a quem tinha ligado para se encontrarem, colocou-lhe a seguinte pergunta – “Detective Colombo, ainda não estamos a conseguir aquilo que desejamos. Fruto da sua experiência, no Clube, há alguma coisa que possa estar a comprometer a eficácia do Clube?” “Por que me chamou?” – perguntou o Detective Colombo. O Presidente hesitou – “não lhe acabei de dizer” - pensava, mas e ao mesmo tempo, dizia a si mesmo – “conhecendo o Detective com já conheço, a pergunta tem alguma intenção a considerar” e, depois de ponderar, enquanto olhava para a folha branca, em cima da sua secretária, onde fazia pequenos desenhos, com um lápis, disse – “porque o conhecimento é poder”. O Detective Colombo olhou o Presidente nos olhos e colocou nova pergunta – “porque é que o conhecimento é poder?”. O lápis do Presidente parou, enquanto olhava para a folha, parecia estar a encontrar a resposta, e acabou por dizer – “porque acredito que conhecer é compreender e quem compreende pode influenciar, melhorar”.
O Detective Colombo desvia o olhar para a enorme janela, de parede a parede, através da qual via o relvado do estádio, viu as redes para cima, várias pessoas a tratar a relva e das marcações e perguntou – “se conhecer é compreender, então o que é que as pessoas fazem, para melhorar o seu conhecimento e consequentemente influenciarem as situações?” O Presidente colocou o lápis sobre a mesa, levantou-se, deu a volta à sua secretária e voltou a sentar-se, mas no sofá em frente ao Detective Colombo, parecia sentir que podia estar a caminho de reconhecer algo importante e respondeu – “as pessoas vão recolhendo informação, formulando e testando hipóteses e construindo e revisitando os seus mapas cognitivos” – e chegou-se à frente, no sofá, como que curioso, com que o Detective Colombo lhe iria dizer, depois de uma resposta destas – “estive bem” - pensou. “Acreditar que conhecer é compreender e que quem compreende pode influenciar as situações, tem satisfeito as necessidades de eficácia do Clube?” – perguntou o Detective Colombo. O Presidente volta a encostar-se ao sofá, coloca o cotovelo sobre o apoio e leva a sua mão esquerda ao queixo, apoiando o polegar e deslizando os outros dedos para fora e para dentro e respondeu – "infelizmente não”.
“Por que será?” – indagou o Detective Colombo. “Porque podemos tentar explicar a realidade, interpretando-a, porque ao explicarmos, podemos fazê-lo sobre mapas que distorcem, apagam e generalizam a realidade, como já vimos em conversas anteriores e porque há uma fraca ligação entre as pessoas e o que elas fazem” – devolveu o Presidente. A conversa estava a um bom ritmo, parecia que estavam a jogar ténis de mesa, com perguntas e repostas frequentes.
O Detective Colombo fez uma pequena pausa, parecia estar a preparar-se para “servir”, e depois de reforçar que o Presidente já estava consciente de dois dos factores que comprometem a compreensão, o que deixou o Presidente satisfeito, perguntou – “Presidente, recorda alguma equipa que tivesse uma ligação forte aos objectivos?”. O Presidente endireitou as costas, levantou o queixo, esbouçou um sorriso e devolveu a “bola” dizendo – “claro, a nossa equipa Campeã Intercontinental, que ligação, que determinação, que vontade de vencer, que capacidade para dar a volta aos resultados negativos” – enquanto olhou para cima e para a direita, parecia estar a reviver todas aquelas boas experiências.
O Detective Colombo percebeu isso, fez uma pausa e, quando o Presidente voltou a olhá-lo nos olhos, perguntou – “o que é que essa equipa tinha de diferente?” e, sem hesitar, como que ávido por responder, o Presidente disse – “uma forte ligação emocional”.
“Uma forte ligação emocional” – pensava em voz alta o Detective Colombo e disse – “podemos ter a tendência para confundir conhecer com compreender racionalmente” – e após nova pequena pausa, continuou – “mas o conhecimento envolve quer a compreensão racional, quer a apreensão intuitiva, quer a ligação entre estes dois sistemas. Já explicou bastante bem o processo de desenvolvimento da compreensão, mas o que se passa entre o que conhecemos e o novo conhecimento?”.
“Temos de lidar com algo desconhecido” – respondeu o Presidente e, prontamente, o Detective perguntou – “o que sente nos momentos entre o que sabe e o que de novo passa a saber?”. Como que nunca tendo pensado nisso, o Presidente intuitivamente respondeu com um sorriso – “o caos”. “Sem dúvida” – começou por dizer o Detective Colombo e continuou – “entre o que é conhecido agora e o que será conhecido a seguir há o caos do desconhecido, uma turbulência ou o caos apreensivo. Como é que as pessoas podem ter a tendência para lidarem com esse caos apreensivo?”
O Presidente lembrou-se de muitas situações, quer na escola, quando estudava, quer no desporto, quando jogava, quer ainda como Presidente, sempre que teve de lidar com coisas que não conhecia e respondeu – “como a turbulência é desconfortável, podemos ter a tendência para desistir de aprender, para culpar alguém pelas dificuldades em aprender ou para apenas apoiarmos o conhecimento na apenas compreensão, algumas vezes interpretada, e consequentemente comprometer o conhecimento e a possibilidade de melhorarmos as situações” – depois de uma pequena reflexão, continuou – “estou a perceber, tal como uma moeda, o conhecimento tem duas faces. Uma, a face da compreensão racional e a outra, a face da apreensão intuitiva” – seguiu-se a uma nova e breve pausa, em que pensou o que é que podia ligar estas duas faces da moeda, lembrou-se que o Detective tinha dito que conhecimento envolve uma terceira situação e perguntou – “o que liga estes dois sistemas ou faces da moeda, a da compreensão e a da apreensão?”
“Aquilo que já identificou, que caracterizou a equipa que venceu a Taça Intercontinental” – respondeu o Detective Colombo. “Mas, em muitas das minhas experiências, a emoção era desconfortável. Por vezes, o desconforto era tanto, que preferia não sentir, e em imensas foi a fonte de muitos problemas entre jogadores, entre estes e os treinadores, estes e os dirigentes e entre a equipa e os apoiantes” – respondeu o Presidente.
O Detective Colombo pegou na chávena de café, colocou-a na boca e, enquanto saboreava o café, lembrou-se da conserva com o Sr. Carlos (ver AQUI) e disse – “a emoção também pode significar desconforto, dor e sofrimento. Se assim for, tenderemos a evitá-la e, ao fazê-lo, acedemos a uma compreensão incompleta ou “contaminada”, não acedemos à apreensão, não ligámos a compreensão com a apreensão e não só não compreendemos a realidade, como também não conhecemos e, nas suas palavras, se não conhecemos, então não podemos influenciar as situações, mudá-las, melhorá-las e conseguir o que desejamos”.
“Já percebi” – parecia ter descoberto o Presidente e disse – “conseguirmos o que desejamos, sermos eficazes, exige conhecimento, mas o conhecimento é como uma moeda e tem sempre duas faces e uma aresta ou ligação. No caso da “moeda do conhecimento”, uma das faces é a compreensão racional, a outra é a apreensão intuitiva e a ligação (aresta) entre elas é a emoção ou melhor, a utilização inteligente das emoções ou o que habitualmente se designa de inteligência emocional, que permite lidar com o caos, que acontece entre o que é conhecido e o que será conhecido a seguir, com curiosidade, a “porta do conhecimento”, em vez de medo”.
“Parabéns Presidente” – começou por dizer o Detective Colombo – “acabou de descobrir vários factores que comprometem o conhecimento ou de resistência ao conhecimento, uma das três resistências à eficácia, que “matam” a mudança no Clube”. O Presidente ainda estava a digerir tudo, lembrava-se de ter lido um texto, que abordava a ideia de aprender com emoção ou da hipótese do marcador somático proposta por António Damásio, que agora fazia mais sentido, enquanto regressava à sua secretária e, para não se esquecer, escreveu – “acredito que conhecer é simultaneamente compreender, apreender e sentir - ligar ambos com inteligência emocional - e quem assim conhece pode influenciar e melhorar as situações”. Pela sua mente, passavam imagens, de situações passadas, como jogador, treinador e dirigente, mas também como pai, em que não conseguiu chegar onde desejava e de igualmente tantos colegas de escola, equipa e direcção que também podiam ter comprometido a sua eficácia, por conhecerem apenas parcialmente (compreenderem). Para não se esquecer, meteu a mão ao bolso, tirou uma moeda de 2 euros, olho para ambas as faces e tocou-as, o polegar sentia a face da compreensão da racionalidade, o indicador sentia a apreensão intuitiva a seguir e com o indicador e o polegar da mão esquerda, sentiu a aresta, a inteligência emocional.
Entretanto, lembrou-se que o Detective Colombo tinha dito “uma das três resistências à eficácia” e perguntou – “Detective Colombo quais são as outras duas partes, para além da resistência ao conhecimento, que comprometem a eficácia e “matam” a mudança?” “Presidente, abordaremos essas situações, na próxima oportunidade, ok?” – respondeu perguntando o Detective Colombo. Com um misto de satisfação e curiosidade, o Presidente Angie respondeu – “acenou com a cabeça” – como dizendo – “muito bem Detective”."
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