"O título é, evidentemente, irónico. Bruno de Carvalho está muito bem onde está – quieto e calado. Mas Frederico Varandas é uma enorme desilusão.
Nos cargos de liderança há momentos decisivos. E, aí, os líderes ou impõem a sua vontade, e serão respeitados no futuro, ou vão atrás das massas, e todos lhes perderão o respeito.
Luís Filipe Vieira foi confrontado com uma situação dessas depois de uma época em que perdeu tudo. A “nação benfiquista” exigia a cabeça de Jorge Jesus. Mas Vieira resistiu – e hoje é respeitado por aqueles que então defendiam o contrário do que ele fez. Se tivesse cedido, teria entrado numa espiral negativa.
Depois da derrota com o Rio Ave, os habituais bota-abaixistas do Sporting puseram a cabeça de fora. Um exaltado adepto, que também é comentador televisivo, vociferava que os sportinguistas querem ganhar – e que quem não ganha vai para a rua.
Ora mente do homenzinho não alcançava que “ganhar” querem todos. A questão não está em “querer ganhar” – está em “como ganhar”. E para ganhar há uma condição necessária: estabilidade. Sem estabilidade, não se constrói nada, nem na política nem no futebol. Como é que o FC Porto se tornou durante muitos anos um vencedor crónico? Com a estabilidade que lhe trouxe Pinto da Costa. Como é que o Benfica reconquistou (até ver) a hegemonia do futebol português? Com a estabilidade que lhe trouxe Luís Filipe Vieira.
Depois dos terríveis acontecimentos que envolveram o fim do consulado de Bruno de Carvalho, o seu sucessor tinha uma missão essencial: reconquistar a estabilidade. Ora, Varandas começou logo mal ao despedir Peseiro. O importante na altura era acalmar as águas, e não agitá-las outra vez.
Mas, tendo despedido um treinador para ir buscar este Keizer que ninguém conhecia, Varandas deveria saber bem o que estava a fazer. Conhecer bem os seus métodos e o seu trabalho. E o homem até surpreendeu: numa época em que não se esperava que o Sporting ganhasse alguma coisa, venceu duas taças. Assim, teria pelo menos mais uma época para mostrar o que efectivamente valia. Mas não: à quarta jornada foi despedido.
Se, ao despedir Peseiro, Varandas mostrou falta de maturidade, ao despedir Keizer mostrou falta de personalidade. Porque não foi capaz de resistir à pressão dos adeptos mais básicos, onde se juntaram os tais que dizem querer ganhar sempre aos saudosos de Bruno de Carvalho – que querem instabilizar o clube e não se importam de o destruir.
Frederico Varandas teve uma oportunidade de ouro para se afirmar perante essa gente desmiolada. Mas fez o oposto: cedeu-lhe. Fez-lhe a vontade. Daqui para a frente será um factótum nas mãos daqueles que, por estupidez ou por raiva, arrastarão o Sporting para o abismo.
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