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terça-feira, 2 de outubro de 2018

O Combate das Feras!

"Em 1973, Eusébio conquistou a sua segunda Bota de Ouro como melhor marcador dos campeonatos de toda a Europa. Bateu-se palmo a palmo com o alemão Gerd Muller. Em Maio, em Nuremberga, um desafio de rematadores colocou-os frente a frente...

Gerd Muller e Eusébio. Eusébio e Gerd Muller. Começo em toque ligeiramente enciclopédico, se o paciente leitor me dá licença.
Muller - Nascido no dia 3 de Novembro de 1945, em Nordlingen, Gerd Muller foi um dos mais extraordinários avançados da história do futebol mundial. Conhecido por Der Bomber, o Bombardeiro, jogou no Bayern de Munique entre 1964 e 1979, partindo depois em busca dos dólares americanos no Fort Lauderdale. Golo era o seu apelido: 68 em 62 internacionalizações pela Alemanha Ocidental; 365 em 427 jogos da Bundesliga; 66 em 74 jogos para as taças europeias. Muller tinha uma tal admiração por Eusébio, que, depois de o ter visto jogar no Mundial de 1966, em Inglaterra, adoptou o seu número nessa competição (o 13) e levou-o consigo para o Mundial de 1970, no México, e para o Mundial de 74, na Alemanha, no qual se tornou campeão do mundo. Por várias vezes, Eusébio e Muller se cruzaram no areópago do futebol mundial. Como Eusébio, Muller foi uma vez  Bola de Ouro (1970), e duas vezes Bota de Ouro (1970 e 1972). Em 1972-73, Eusébio levou-lhes a melhor numa luta apertada que só ficou resolvida nas últimas jornadas dos campeonatos dos dois países.
1973, portanto.
A luta entre Eusébio e Muller pela Bota de Ouro - criada na época de 1967-68 pela revista francesa France Football para premiar o melhor marcador de todos os campeonatos europeus - foi renhida como poucas.
Eusébio tinha 31 anos; Muller, menos três.
O Pantera Negra terminou o campeonato nacional com a formidável marca de 40 golos marcador, superando o alemão do Bayern de Munique, com 36, e o búlgaro Peter Jekov, do CSKA de Sófia, com 29.
Muller não lhe poupou elogios mais tarde. No momento de receberem o prémio, queixou-se: em Portugal era mais fácil marcar golos.

Feras à solta em Nuremberga
No dia 22 de Maio de 1973, pôs-se em campo uma ideia que vinha medrando na cabeça de alguns empresários ligados ao futebol. Eusébio e Muller frente a frente. Uma espécie de Combate das Feras!
É verdade que Eusébio e Muller já se tinham defrontado num particular, em Paris, no Estádio de Colombes, com vitória do Benfica sobre o Bayern por 2-1.
Mas agora era Eusébio contra Muller! Em Nuremberga.
O adversário do Benfica era um misto. Quero dizer, uma equipa com base no Nuremberga mas reforçada com três jogadores do Bayern de Munique - o principal destes Muller, como é evidente!
Estavam decorridos dois minutos de jogo e já Eusébio marcara um golo, de cabeça.
O público, a rondar as 20 mil pessoas, delirava nas bancadas. Afinal era para isso mesmo que tinha comprado o seu bilhete.
E voltou a delirar 18 minutos depois: numa recarga, à queima-roupa, Muller fuzilou José Henrique.
Eusébio, 1 - Muller, 1: nem de propósito, convenhamos.
A primeira parte fo divertida, cheia de movimento.
O meio-campo encarnado, com Jaime Graça, Matine, Toni e Vítor Martins, ia dominando as operações.
Aos 35 minutos, Matine fez o 2-1 num remate distante, bem colocado e violento. Dir-se-ia que um remate à Eusébio.
No minuto seguinte, 2-2: Muller, de cabeça.
Veio o intervalo e tudo mudou. Muitas substituições de parte a parte, a partida perdeu ritmo, houve excessos de individualismo, a paixão sumiu-se.
Na verdade, o combate tinha acabado. Eusébio não voltara para a segunda parte (entrou Artur para o seu lugar), e os assobios foram uníssinos quando toda a gente percebeu que o ombro a ombro entre as feras não teria novo capítulo.
Muller pareceu sentir-se só sem o Pantera Negra do outro lado.
Afastou-se da baliza, arrefeceu a chama.
Nem mais um golo em Nuremberga.
O Benfica partiu no dia seguinte em direcção a Hong Kong, para mais uma das suas infinitas digressões.
Nesse mesmo ano, a Imavox editou um single com duas faixas: Bota de Ouro, de Natalina José, e Os Invencíveis, de António Calvário. Tema: Eusébio e a sua segunda Bota de Ouro e a vitória do Benfica no campeonato sem derrotas. Lá dentro vinha um pequeno livrinho com textos de Carlos Pinhão e fotos de Nuno Ferrari.
O futebol era tão mais divertido..."

Afonso de Melo, in O Benfica

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