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segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Jornalistas distraídos

"Foi esta frase que, em boa medida, ditou o fim de Bruno de Carvalho. Até porque depois das agressões ficou sem moral para as condenar. Ele sabia que as tinha avalizado. Tinha consciência disso. Assim, limitou-se a dizer que tinha sido “chato” o que acontecera. E esta palavra enterrou-o ainda mais

Em Maio, a seguir à invasão de Alcochete, o “Sol” publicou uma expressiva manchete onde era atribuída a Bruno de Carvalho a seguinte frase: “Façam o que entenderem”. Esta afirmação fora proferida na sede da Juve Leo, sob as bancadas do Estádio de Alvalade. Tendo-se deslocado às instalações da claque para ouvir as suas queixas, e depois de vários elementos falarem do mau comportamento da equipa de futebol, sugerindo que os jogadores deviam levar “um apertão”, Bruno de Carvalho dissera-lhes: “Façam o que entenderem”.
Com esta frase, na prática, Bruno avalizava uma qualquer acção de represália sobre os jogadores do clube. É óbvio que o presidente leonino não pensaria numa agressão como aquela que viria a ter lugar. Um “apertão” seria uns palavrões e uns encontrões. Nunca agressões com ferros, cabeças partidas e insultos de morte.
Mas a questão não é essa. A questão é que, ao ouvirem o próprio presidente dizer “Façam o que entenderem”, os mais fanáticos da claque sentiram-se com cobertura superior para actuar. Essa aquiescência de Bruno deu-lhes ânimo. E um sentimento de impunidade. Ora o presidente, como pessoa responsável que devia ser, tinha obrigação de saber isto. “Façam o que entenderem”, perante gente que estava com sede de tirar desforço dos jogadores pelo que entendiam ser a sua falta de empenho, era um convite à guerra.
Foi esta frase que, em boa medida, ditou o fim de Bruno de Carvalho. Até porque depois das agressões ficou sem moral para as condenar. Ele sabia que as tinha avalizado. Tinha consciência disso. Assim, limitou-se a dizer que tinha sido “chato” o que acontecera. E esta palavra enterrou-o ainda mais.
É inútil explicar até que ponto as agressões de Alcochete prejudicaram o Sporting. Rui Patrício voou quase a custo zero, Gelson Martins também, William Carvalho, idem aspas. As pérolas leoninas, que o clube esperava renderem bom dinheiro, escaparam-se por entre os dedos. Bruno de Carvalho, que se mostrara tão desesperado pela fuga dos milhões da Champions, acabou por ficar responsável por uma fuga muito mais avultada.
Enfim, tudo isto foram sinais de uma cabeça fraca.
O insólito, no fim de tudo, é que essa manchete do “Sol”, hoje tão importante, foi ignorada por toda a imprensa. Não me lembro de um jornalista a ter citado. E atenção: era a capa dessa edição, ilustrada por um cartoon muito incisivo onde Bruno de Carvalho aparecia a segurar uma moca ensanguentada. 
Quase tão estranho como o comportamento de Bruno de Carvalho foi a desatenção dos jornalistas. Esta semana, cinco meses passados, o “Correio da Manhã” e “A Bola” titulavam com enorme destaque a frase que o “Sol” revelara há quase meio ano. Com uma única diferença: enquanto o “Sol” escrevia que Bruno dissera “Façam o que entenderem”, aqueles jornais diziam que a frase era “Façam o que quiserem”. Uma diferença importante…"

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