"Quatro jornadas formam um trajecto demasiado curto para balanços, mas esta primeira pausa na Liga serve para desvendar a primeira parte da equação que mais interessa aos adeptos, neste período em que as janelas de negócio já estão trancadas. Sim, são apenas quatro jogos, mas já se percebeu quem conseguiu aproveitar a sempre irrepetível oportunidade para criar uma primeira boa impressão.
No grupo da frente não há, por agora, espaço para o campeão em título. O FC Porto desligou-se do topo por causa de uma viragem à minhota no Dragão. O Vitória de Guimarães virou mesmo o resultado do avesso e confirmou credenciais de candidato europeu depois de um arranque mortiço e com três derrotas (uma na Taça da Liga e duas no campeonato). Luís Castro vai continuar a tentar impor um futebol positivo em todas as latitudes da Liga e essa opção corajosa vai tirar-lhe alguns pontos, mas também lhe vai garantir muitas vitórias e o aplauso dos adeptos. Na equipa vimaranense ganha destaque a qualidade das opções de um meio-campo que junta André André, João Carlos Teixeira e Mattheus Oliveira, mas também Celis, Wakaso e Tozé.
Um patamar acima surgem o Rio Ave e o Feirense, duas equipas de perfil diverso e unidas (talvez apenas conjunturalmente) pela classificação e pelos sete pontos já somados. A formação de Vila do Conde está ainda na ressaca do futebol enleante de Miguel Cardoso, enquanto José Gomes tenta construir um novo projecto europeu sem Marcelo na defesa, sem Pelé no coração do jogo e sem os pontos que João Novais garantia em lances de bola parada. O Feirense ligou os motores com três vitórias sem travagens (uma das quais na Taça da Liga) até coleccionar os resultados que faltavam, com um empate frente ao Boavista e uma derrota em Alvalade vendida ao preço do metro quadrado numa zona nobre de Lisboa. Sem espaço nos “Vitórias”, Edinho (quatro golos) e Fábio Sturgeon (dois golos) são dois dos reforços mais eficientes desta primeira fatia da temporada.
O grupo dos nove pontos coloca no mesmo degrau Marítimo e FC Porto. Os madeirenses caminharam pelas primeiras quatro jornadas com um futebol que não é exuberante, mas que tem sabido acasalar a eficácia ofensiva à defesa feroz do resultado, sempre que a equipa dá de caras com a vantagem no marcador.
O FC Porto soltou todos os fogos naquela noite quente de 11 de Agosto, mas a goleada ao Desportivo de Chaves ainda não teve réplicas do mesmo nível. As apostas iniciais em Diogo Leite e André Pereira parecem agora ter sido um recurso (de luxo e que se saúda) face às faltas de comparência de Mbemba e Marega. Com a chegada de Éder Militão e a redenção do maliano, a quota do Olival no “onze” poderá agora ficar confinada a Sérgio Oliveira, mas a verdade é que as mudanças colocaram o FC Porto perante um resultado mais amplo e a um equilíbrio mais evidente da equipa. Faltará o nível exibicional que Sérgio Conceição não abdica de reclamar.
No pináculo da classificação, ao lado de Benfica e Sporting, está o Braga, uma equipa que não demorou a mitigar as marcas dolorosas de uma eliminação europeia em pleno Agosto. Os minhotos prometeram empurrar para longe essa desilusão e depois do empate a três golos nos Açores, a equipa de Abel Ferreira juntou seis pontos aos quatro das duas primeiras jornadas e encostou-se na liderança a dois dos grandes, dois dos adversários que quer ter por perto ou deixar para trás. A equipa do Braga perdeu a figura tutelar de Vukcevic no meio-campo, mas João Palhinha, João Novais, Fransérgio (de regresso após grave lesão) e Claudemir podem dar qualidade e lastro à ambição arsenalista.
O Sporting parte para uma espécie de segunda pré-época, agora que José Peseiro ultrapassou o período eleitoral sem perdas comprometedoras. Ficaram a faltar a nota artística nas exibições e um avançado capaz de evitar a transformação de Bas Dost em peça única no ataque. A melhor notícia para os leões foi Jovane Cabral, mais um talento capaz de resolver jogos quase como um “comum mortal” troca oxigénio por dióxido de carbono durante a respiração.
Rui Vitória pode olhar para o último mês com um sorriso, porque o Benfica fez oito jogos, assegurou a entrada na Liga dos Campeões e divide a liderança do campeonato. O Seixal produz novos talentos (Gedson Fernandes, João Félix) e na frente nota-se a abrangência do leque de opções. Jonas e Castillo estão de baixa, Ferreyra ainda parece nadar fora de água e assim ressurgiu, quase das brumas do passado, Seferovic. A recuperação do avançado suíço prova a qualidade e diversidade do plantel encarnado, que vai colocando à disposição do treinador uma espécie de “matrioska” atacante. Por cada opção que “cai”, Rui Vitória parece ter mais uma logo ali, mesmo à mão."
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