"É óbvio que jovens com menos de 19 anos têm uma entrega e um desprendimento que não pode pedir-se a um jogador de 30.
A Selecção portuguesa de futebol foi ontem campeã da Europa nos sub--19, depois de há dois anos ter sido campeã nos sub-17.
Vendo raramente jogar as selecções jovens, o que primeiro me impressionou foi a qualidade do futebol praticado: um futebol alegre, virado para a frente, criando sucessivas oportunidades de golo. Marcámos três, mas poderíamos ter marcado sete ou oito.
E aí surge a pergunta: porque não jogamos assim na selecção dos adultos? Porque temos um futebol mastigado, sem chama nem alegria?
A resposta óbvia que ocorre parece estar na personalidade do treinador. Fernando Santos é um homem calculista, que gosta de jogar pelo seguro, que odeia o risco e, portanto, posiciona a equipa com o objectivo principal de não deixar jogar o adversário. Antes de querer jogar, Santos preocupa-se em anular a outra equipa. E isso conduz ao tal jogo negativo, do “nem o pai morre nem a gente almoça”.
Mas há outros factores a ter em conta.
O futebol dos adultos tornou-se muito táctico em todas as selecções nacionais. Muito “resultadista”. Primeiro está o resultado e a exibição só vem no fim. Ora, essa dimensão táctica do futebol tira espontaneidade e alegria ao jogo.
Depois também há a idade dos jogadores. É óbvio que jovens com menos de 19 anos têm uma entrega e um desprendimento que não pode pedir-se a um jogador de 30.
Finalmente, temos o facto de quase todos os jogadores da selecção sénior jogarem em clubes estrangeiros e, por isso, estarem sobrecarregadíssimos de jogos, estarem cansados de matches decisivos, não tendo disponibilidade física nem mental para jogarem daquela forma aberta, atirada para a frente, daqueles miúdos que estiveram ontem na Finlândia com a camisola nacional e venceram a Itália.
Portanto, entre a selecção principal e as selecções jovens há, como vimos, diferenças enormes. Nos sub--19 juntam-se todas as condições para ser possível a prática de um futebol mais bonito e muito mais espectacular.
Quando os jovens passam a seniores, tudo muda. Mudam as preocupações tácticas, mudam os clubes onde jogam – com os adultos a actuarem lá fora –, muda a irreverência.
E há algo que ninguém ainda soube explicar mas é um facto: nos jovens portugueses verifica-se uma dificuldade em dar o salto para as equipas seniores que não se vê nos jovens de outros países. Há muitos jogadores que se perdem, que não conseguem afirmar-se. A passagem para a idade adulta dos nossos jogadores é difícil, torturada, às vezes dramática.
Por isso teremos sempre mais facilidade em ganhar nas selecções jovens do que na equipa principal."
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