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sábado, 16 de junho de 2018

Mundial, dia 2: Só Cristiano Ronaldo podia assinar esta injustiça fantástica

"Ronaldo, e os seus três golos, foram uma injustiça à solta num jogo que a Espanha fez tudo para merecer ganhar - e que Portugal não soube por duas vezes defender. Mas quem tem Cristiano Ronaldo pode sempre sonhar. Até com imitações de milagre.

Cristiano Ronaldo! Que dizer? Talvez que, para falar deste jogador, é preciso recorrer ao dicionário e mesmo aí as palavras já só podem ser repetidas. Sou, portanto, substantivo: “o homem” fez um golo a abrir, a partir do nada; marcou outro a fechar a primeira parte, numa altura sempre importante; e, quando já tudo parecia perdido, para um adversário que mostrara ser superior, respirou fundo, concentrou-se, e arrancou uma cobrança de falta irrepreensível. Parece fácil mas é preciso confiança, personalidade e ser capaz. Conjugar tudo isso, a dois minutos do fim, num campeonato do Mundo, durante um jogo extremamente importante, só está ao alcance de muito poucos ao longo da História deste desporto-espectáculo. Por isso, revisito o dicionário e as palavras tantas vezes gastas: fantástico, magistral, lendário, sublime, estratosférico… E acrescento outra: injusto. Sim, injusto! Este empate (3-3) é injusto. Se aquilo acontecesse a Portugal, seria o que todos diríamos.
Ronaldo, e os seus três golos, foram uma injustiça à solta num jogo que a Espanha fez tudo para merecer ganhar – e que Portugal não soube por duas vezes defender. Mas quem tem Cristiano Ronaldo pode sempre sonhar. Até com imitações de milagre.
O que se viu ontem em Sochi, como na célebre exibição do “playoff” de apuramento para o Mundial do Brasil, com outros três golos numa noite em Estocolmo (3-2), são coisas que só vistas, e sempre para lembrar no futuro. Cristiano Ronaldo mudou dentro do campo. Já não é o extremo-goleador supersónico de outros tempos. Mas não mudou nem na vontade nem na classe. Ao mesmo tempo que se reinventou, nesses aspectos até melhorou. Simplesmente espectacular! Tudo o que fez, ao longo dos 90 minutos, foi bem feito. Um jogo enorme, à beira da perfeição, de participação no colectivo. Só ele podia ter cometido uma injustiça assim, marcando num jogo tantos golos como nos três Mundiais anteriores. Quem sabe se não deu o pontapé de saída para mais uma vez voltar a ser, para a FIFA, aquilo que é para os adeptos do futebol em Portugal: o melhor do mundo.
Volto atrás, ao princípio do jogo.
Portugal teve tudo a seu favor para conseguir um resultado positivo de forma mais fácil, mas a Espanha mostrou como é magistral no controlo da bola, no domínio do espaço, na inteligência em movimento, na paciência para abrir a defesa contrária. Neste aspecto, a equipa de Fernando Hierro só tem paralelo na do Brasil. Pode alegar-se que empatou indevidamente, num lance em que Diego Costa fez uma falta evidente sobre Pepe (que o vídeo-árbitro não assinalou, como deveria). Sim, pode. Mas tem de se reconhecer, também, que esse momento, aos 24 minutos, marcou o início da consolidação do jogo espanhol, apenas interrompido pelo monumental “frango” de De Gea num lance inventado por Ronaldo. O guarda-redes espanhol, que já esteve muito mal num particular com a Suíça (1-1), voltou a comprometer a sua equipa, na qual não se sentiu a mudança de treinador. O jogo está demasiado consolidado para abanar.
Este empate deixa algumas reflexões em aberto para os próximos dias. A primeira é se João Mário não faz mais sentido do que Bruno Fernandes, pela experiência e capacidade de promover a posse de bola. A outra é se, nos jogos que aí vêm, contra equipas mais defensivas, não é melhor ter André Silva de início. Gonçalo Guedes é um excelente jogador mas pareceu sentir em demasia a responsabilidade e o momento. Na primeira parte, em duas jogadas, teve nas pernas e na cabeça toda a pressão de jogar um Mundial.
E, sim, a defesa não esteve bem. Melhor dizendo: a equipa de Fernando Santos não defendeu como devia na maior parte do tempo. Começou a prometer fechar com esmero, pressionando alto, mas depressa descambou. É aí que se deve reconhecer o enorme mérito da equipa espanhola. Enfrentar David Silva, Iniesta, Isco e companhia a jogarem ao primeiro toque, abrindo e correndo, não é fácil. Os jogos seguintes serão diferentes. É preciso atenção mas não haverá este circo infernal que torna todos os lances capazes de serem um perigo.
Por várias razões, o empate merece ser festejado. Coloca Portugal no caminho do apuramento se a lógica se confirmar. E isso, como todos vimos, esteve mesmo para não acontecer. Uff!…"

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