"Tem 22 anos e recentemente foi apelidado pelo jornal “Marca” como “o novo Príncipe do Mónaco”. A fazer uma boa época sob o comando de Leonardo Jardim, Rony Lopes revela-se um jovem simples, que subiu a pulso com o seu esforço e apoio da família e que não tem problemas em ser comparado a Bernardo Silva. Gosta de jogar PlayStation, de ver séries e filmes e garante que não se deixa deslumbrar com o luxo do Mónaco. O que ambiciona mesmo é ganhar títulos, muitos, sobretudo individuais
O seu nome é Marcos Lopes. De onde vem o Rony?
Vem do Clube da Associação Desportiva de Poiares, onde comecei a jogar futebol. O Ronaldo, o Fenómeno, é o jogador brasileiro de quem mais gosto e eu treinava sempre com a camisola dele. No clube muita gente não sabia o meu nome, viam a camisola e começaram a chamar-me Ronaldo. Na altura, o treinador, Carlos Soares, começou a chamar-me de Rony e o nome pegou. Em Poiares toda a gente me trata por Rony, em vez de Marcos. É um nome que eu gosto e é uma maneira também de me lembrar de onde eu vim.
Começando por onde veio: nasceu em Belém do Pará, no norte do Brasil. Como é a sua família?
A minha mãe chama-se Luiza, nasceu em Angola, veio primeiro para Portugal, mas depois emigrou para o Brasil, onde viveu durante muitos anos e conheceu o meu pai, que também é Marcos. Ela lá era secretária e quando fomos para Portugal foi ajudante de dentista. O meu pai estava nos bombeiros e também trabalhou como enfermeiro. Em Portugal trabalhou como motorista de camiões. Sou o irmão do meio. Somos três, a minha irmã Daniela é a mais velha, tem 24 anos, e o mais novo, o Gabriel, faz 19 esta semana.
Em casa também é chamado por Rony ou por Marcos?
Em casa tratam-me por Marcos Paulo. Mas se estivermos em público chamam-me Rony.
Veio para Portugal com 4 anos, ainda se lembra do Brasil?
Não me lembro de quase nada. Lembro-me de algumas comidas, principalmente de açaí que era o que comia mais. Lembro-me também de brincar na rua, mas são poucas as recordações que tenho do Brasil.
Os seus pais vieram para Portugal porquê?
Porque não tínhamos condições no Brasil e a minha avó materna já estava em Portugal. Vieram à procura de uma vida melhor, para Vila Nova de Poiares, porque era onde estava a minha avó. No início ficámos a viver com ela até conseguirmos arranjar uma casa para nós.
A sua infância foi toda passada em Poiares?
Sim, comecei a jogar em Poiares, depois fomos viver para a Lousã, mas continuei a jogar à mesma em Poiares.
Como surge o futebol na Associação Desportiva de Polares?
O meu pai jogava futebol ao fim de semana no clube "Os Idosos" de Poiares e desde muito pequeno que eu ia ver e ficava lá a jogar à bola. Só que essa equipa não tinha formação e, por outro lado, eu ainda não podia ser inscrito porque era muito novo. Quando fiz 7 anos inscrevi-me logo na Associação Desportiva de Poiares porque era o clube da terra. Andava sempre com uma bola debaixo do braço. Era uma paixão desde miúdo.
Torcia por que clube?
O primeiro clube pelo qual comecei a torcer realmente foi o Benfica. Quando estava no Brasil era pelo clube do Belém do Pará, mas não era um grande paixão. Quando vim para Portugal... acho que me deixei influenciar porque há muitos benfiquistas.
Quando foi para o Poiares vai logo com uma posição em campo definida?
Não. Uma coisa era certa, não era defesa, isso era óbvio. Ainda era um futebol de 7 e eu podia fazer todas as posições da frente. Fui testando. Fiquei logo a médio.
Como surge o interesse do Benfica?
O Benfica tinha um olheiro que foi acompanhando alguns jogos do Poiares. Depois os responsáveis do clube falaram directamente com os meus pais. Estiveram a avaliar-me durante algum tempo, ainda me chamaram para fazer torneios e para uma captação. Lembro-me que para essa captação fui com mais alguns jogadores da minha equipa do Poiares. Fomos quase todos na carrinha do meu pai. Estranhei porque colocaram-me em todas as posições. Joguei a defesa direito, esquerdo, ala e até a guarda-redes. Fiquei um pouco sem saber o que é que estava a acontecer, mas no final os responsáveis do Benfica falaram com os meus pais e disseram que aquela captação era só para me conhecerem pessoalmente, porque era certo que eu ia ficar no Benfica.
Vai para o Centro de Estágio do Seixal com quantos anos?
Ia fazer 12 anos. Eu com 9,10 anos já era do Benfica, só que como era muito novo ainda não podia ficar no centro de estágio. Nessa altura a minha mãe levava-me duas vezes por semana – uma para treinar e outra para jogar – ao Benfica. A minha mãe teve de deixar o trabalho para fazer isso e o meu pai foi à procura de um trabalho onde ganhasse mais para nos sustentar e eu conseguir ir aos treinos e aos jogos. Durante dois anos foi assim. Treinava uma vez no Benfica e jogava ao fim de semana, e o resto dos treinos eram feitos no Poiares.
A sua família pelos vistos sempre o apoiou e sacrificou-se por essa vontade de ser jogador.
Sim, mas eles não viam isso como um investimento, apenas como aquilo que eu gostava de fazer; eles foram fazendo todos os sacrifícios para me dar essa possibilidade. As coisas foram acontecendo graças ao sacrifício deles e, felizmente, deram certo.
Como foi quando se viu sozinho no centro de estágio, longe de casa, da família?
Foi complicado. Eu estava habituado a estar todos os dias com os meus irmãos e amigos, e, de repente, vou para uma zona que não conheço, a 300kms de casa, com desconhecidos. Foi duro. Tive muitas saudades de casa, da família, dos amigos, mas consegui superar.
Chorou muitas vezes?
Algumas vezes, sim. Batia aquela tristeza, aquele sentimento de vazio, de que faltava alguma coisa para completar.
Quando foi para o Seixal muda de escola. Gostava de escola?
Fui para a escola pública que frequentavam todos os jogadores do centro de estágio. Acho que para o 8º ano. Honestamente, não gostava de estudar. Sempre fui aluno em que o mais importante era passar. Não queria chumbar nenhum ano, as minhas notas eram médias, nunca foram muito boas. Eram suficientes.
Quem são os primeiros amigos que fez no Benfica?
São os dois que ainda hoje são os meus melhores amigos. O Pedro Rebocho e o Rafael Guzzo. Claro que fiz outros grandes amigos, como o Nelson Monte. Esses foram os primeiros amigos do centro de estágio e com quem continuo a ter grande relação, passamos férias juntos. Eles sofriam o mesmo que eu. O Rebocho era de Évora e o Guzzo de Chaves, mais longe ainda. Acabámos por nos apegar porque estávamos todos na mesma situação e sabíamos o que é que um e outro sentiam.
O que faziam para se divertir e fugir às regras do centro de estágio?
Muitas vezes íamos jogar futebol para o campo de 7. Pegávamos em balões de água e começávamos a correr pelo centro de estágio, a atirá-los uns aos outros. Outras vezes jogávamos ao jogo “Polícias e Ladrões”. Ou ficávamos no quarto uns dos outros a jogar PlayStation. Também jogamos futvólei. Arranjávamos sempre qualquer coisa para nos entreter.
Quando e como surge o interesse do Manchester City?
Acho que eles andaram um ou dois anos a analisar os meus jogos e o processo foi igual ao do Benfica. Só que nessa altura já tinha empresário, o Ramiro Sobral que era lá do Seixal, e falaram com ele.
Dos treinadores que teve no Benfica, durante o período de formação, houve algum que o tivesse marcado mais?
O Luís Araújo. Foi o que mais me marcou e até tivemos um episódio interessante num treino, em que ele me expulsou. Por incrível que pareça as coisas a partir daí começaram a correr melhor.
Porque é que ele o expulsou do treino?
Eu não gostava que gritassem comigo, porque tinha noção quando as coisas não estavam a correr bem. Não sou uma pessoa que funcione porque as pessoas gritam comigo. Não é por gritarem mais comigo que dou mais. As coisas não estavam a correr bem no treino, ele só gritava comigo, entretanto há uma bola que vai para mais longe, ele estava a ensinar o exercício e mandou-me ir buscar a bola. Como já estava irritado fui a andar, ele mandou-me ir a correr, continuei a andar e quando peguei na bola e a atirei para ele, disse que eu estava expulso do treino. Fui tomar banho e no final do treino fui falar com ele. Foi aí que nos entendemos. Disse-lhe o que pensava, que não gostava que gritassem comigo porque sabia que as coisas estavam a correr mal. E fizemos um acordo. Ele diz: “Durante uma semana eu não te vou chamar a atenção e vamos ver no que é que dá”. Nessa semana não chamou a atenção e as coisas começaram a correr bem, a nossa equipa fez uma época fantástica, não perdemos um jogo. Ele percebeu minha maneira de funcionar e é um treinador que respeito bastante.
Tinha algumas referências de jogadores, no Benfica, que admirasse muito?
O Fábio Coentrão. Lembro-me que quando fazíamos anos podíamos dizer qual era o nosso jogador preferido da equipa A e recebíamos uma camisola assinada por ele. E assim foi: recebi a camisola autografada pelo Coentrão.
Até ir para Inglaterra foi chamado a alguma selecção?
Se não me engano fui só chamado à distrital.
Vai para Inglaterra em 2011-12, tinha 15 anos. Foi difícil tomar a decisão de ir?
Foi uma decisão que tomámos em conjunto, como todas as outras, só que esta era diferente porque ia para fora e sei que era complicado para todos. Decidimos em família que se era uma boa oportunidade, tinha de arriscar porque se não o fizesse não sabia como iria correr. Os meus pais sempre me apoiaram e nessa altura decidimos que o meu pai deixava de trabalhar para ir viver comigo em Inglaterra. Decidimos fazer um ano de experiência, eu e o meu pai. Se corresse tudo bem, no ano seguinte iam os meus irmãos e a minha mãe.
Foi com esse contrato que começou a ganhar dinheiro a sério.
Mas não foi muito dinheiro e as coisas até foram um bocado complicadas no primeiro ano, com o meu empresário e com o City, porque as coisas não foram bem explícitas no contrato.
No Benfica já ganhava dinheiro?
Sim. Lembro que o primeiro dinheiro que recebi, estava no centro de estágio, eram 25 euros por mês, para o passe. Nós guardávamos os €25€ íamos pé para a escola (risos). Depois passei a receber €200/mês, era só para ajudar, não era grande coisa. Os €25, às vezes, guardava para mim, outras dava aos meus pais. De resto, quando precisava de dinheiro era sempre os meus pais que me davam. Só comecei a ganhar um ordenado mais a sério quando fui para o Manchester City.
Qual foi a primeira coisas que comprou para si com o seu ordenado?
Acho que foi um telemóvel. Tinha um bem simples e queria um melhor. O resto do dinheiro eram os meus pais que geriam, quando precisava de alguma coisa falava com eles.
O que fazem os seus irmãos?
Neste momento o meu irmão entrou para a faculdade, em Manchester, Inglaterra, para business. A minha irmã esteve em Inglaterra connosco mas o ano passado foi para Portugal, fez um curso de estética, neste momento está desempregada.
Como foi a adaptação a Inglaterra?
O primeiro ano só com o meu pai foi complicado, até porque não falávamos o idioma. Chegámos e começámos a ver os carros do lado contrário, os horários muito diferentes porque os ingleses jantam às seis da tarde... Mas foi bom ter aprendido essa nova cultura. Tivemos sempre alguém do clube a ajudar-nos.
Deixou os estudos?
Sim, fiquei só com o 10º ano.
Como é que os dois, sozinhos, faziam com a comida e as coisas de casa?
No início ficámos num hotel e comíamos lá. Depois fomos para um aparthotel, e aí era o meu pai que comprava tudo e cozinhava. Ia telefonando à minha mãe para tirar dúvidas e eu era a cobaia dos cozinhados dele (risos). Mas a comida até era boa (risos).
A sua mãe e irmão adaptaram-se bem quando foram ter com vocês?
Eu estava com algum receio mas adaptaram-se muito bem, principalmente o meu irmão, que continua a lá viver e gosta. A minha mãe também começou logo a aprender inglês e até a minha irmã gostou e aprendeu a língua. Por isso foi bastante bom para todos.
Assinou por quantos anos?
Por 5 anos.
Ao nível de treino e jogo notou uma grande diferença para o Benfica, para Portugal?
Bastante. Inglaterra é um futebol muito mais puxado, muito mais intenso e em Portugal era um futebol mais técnico. Senti logo essa diferença. Em Inglaterra corriam muito e por vezes não tinham muita qualidade no futebol e isso foi uma grande dificuldade para mim porque não estava habituado a essa intensidade, a esse ritmo.
Foi jogar para a equipa júnior do Manchester City?
Quando cheguei comecei nos sub-16 e passadas algumas semanas comecei a treinar com os sub-18.
Em termos de balneário, muito diferente também?
Sim. Em Portugal tínhamos mais brincadeiras, mas a maioria de nós já vivia no centro de estágio e conheciamo-nos melhor. Em Inglaterra eu ficava no meu canto, até porque eram só ingleses e eu não falava a língua ao início. Mas o ambiente no balneário era bom, eles ajudavam no que conseguiam, tentavam fazer-me compreender as coisas. Era um ambiente bom.
Ao fim de quanto tempo estava a falar inglês fluentemente?
Um ano.
Os seus pais arranjaram emprego?
Os meus pais ficaram só a orientar as coisas em casa. Eu também preferi, porque graças a Deus conseguíamos viver assim. Eles criaram uma rotina: começaram a ir à escola para aprender inglês, também iam ao ginásio, e tinham que gerir as coisas em casa, acabavam por ter sempre alguma coisa para fazer.
No Manchester tinha a ambição e a esperança de jogar na equipa principal?
Sim, e aumentou ainda mais no segundo ano. Ainda com 16 anos fui chamado para fazer treino de pré-época com a primeira equipa. Foi aí que as minhas expectativas começaram a aumentar.
Quem foi o treinador que o chamou?
O Roberto Mancini.
Sabe por que não ficou a jogar na primeira equipa?
Porque a diferença entre a equipa de reservas e a primeira equipa do City, o ritmo e a intensidade, era muita. Eu precisava de um patamar que estivesse acima das reservas e que fosse mais próximo da primeira equipa do City. Acho que foi isso que fez com que não tivesse ficado lá, mas penso que estive bem nos jogos que fiz pela primeira equipa, conquistei boas coisas.
Entretanto o Manchester resolve emprestá-lo ao Lille.
Exacto. Foi no meu primeiro ano como sénior.
Como é que foi a adaptação a França?
Foi um pouco mais fácil do que em Inglaterra porque quando cheguei ao Lille havia jogadores que falavam inglês; eu já falava inglês, era mais fácil. Todo o grupo, a equipa técnica e adeptos me acolheram muito bem.
Era o único português na equipa?
Sim. Havia um cabo-verdiano, o Ryan Mendes, que falava português. De resto, eram só franceses e havia alguns de outras nacionalidades que falavam inglês.
Os seus pais e os seus irmãos foram consigo?
Não, fui só eu e o meu pai, porque era um ano de empréstimo, sabíamos que era só um ano.
Como correu esse ano em termos desportivos?
Não foi o meu melhor ano porque tive o azar de ter duas lesões, uma logo a seguir à outra. Ambas no mesmo local, no músculo posterior na coxa. Fiquei de fora durante um mês e meio e no primeiro jogo em que regresso lesionei-me outra vez e fiquei mais um mês e meio parado. Isso prejudicou a minha primeira época no Lille.
Foi muito abaixo psicologicamente?
Um bocado porque estava muito feliz por fazer o meu primeiro ano como um jogador importante numa equipa da 1ª Liga francesa. É complicado para um jogador como eu assim, explosivo, fiquei preocupado e triste. Só não me fui mais abaixo porque tive o apoio da minha família e dos meus amigos, mas foi uma fase complicada.
Recorreu a algum tipo de ajuda psicológica?
Não, a ajuda da minha família bastou.
Regressa a Inglaterra no final dessa época.
Sim, fiz a pré-época com o City.
E ganhou nova esperança de ficar no City?
Sim, mas já sabia que ia ser complicado porque ia entrar no meu último ano de contrato com o City e sabia que havia alguma coisa que tinha que acontecer. Ou renovava ou tinha que procurar outro lugar. Fiz a pré-época e no final da janela de transferências, o Mónaco, que já mostrava interesse há algum tempo, fez a proposta.
Nessa altura o treinador já era o Leonardo Jardim. O facto de ser um treinador português ajudou a optar pelo Mónaco?
Sim, sabia que ia ser uma grande ajuda ter um treinador português e pesou um pouco na minha opção.
Mas acaba emprestado outra vez ao Lille.
Fiz 6 meses no Mónaco, mas nem cheguei a fazer dois jogos completos. Vi que iria ser complicado, não estava a jogar, não estava satisfeito. Quando cheguei ,fiquei fora da lista para a Liga Europa e logo aí fiquei um pouco desanimado. Depois, como não estava a jogar e o Lille sempre se mostrou interessado em mim, decidi que seria uma boa opção para mim.
Foi o Rony que pediu ao Leonardo Jardim para sair?
Surgiu esse interesse do Lille e o Leonardo Jardim também estava de acordo porque sabia que eu precisava de jogar. Como estava toda a gente de acordo, voltei para o Lille.
Nessa altura continua só com o seu pai?
Sim. Era um bocado incerto não sabíamos por quanto tempo é que ia ficar, por isso foi sempre o meu pai que esteve comigo nessas alturas.
Esteve dois anos e meio emprestado ao Lille. Jogou ao lado do Éder.
Sim, foi no ano em que estive 6 meses no Mónaco e em Janeiro fui para o Lille. Fizemos o resto dessa época e a outra a seguir juntos.
Como é que ele lidou com o facto de ter sido o herói do Europeu? Falava com ele sobre isso?
Sim, falava. Foi um momento espectacular para ele e se há alguém que merece é ele. Mas o ano do Europeu foi bastante complicado para ele, era bastante assobiado em todos os jogos e é difícil para um jogador viver com essa pressão todos os fins de semana. Sei que foi um ano difícil para o Éder, mas, sinceramente, é uma pessoa com uma excelente personalidade para aguentar tudo o que passou.
O futebol francês é muito diferente do inglês?
No futebol inglês há mais intensidade, o futebol francês é muito físico, tem jogadores muito fortes fisicamente, mas o futebol inglês tem uma intensidade muito grande.
Em qual dos dois gosta mais de jogar? Porquê?
No campeonato inglês nunca tive oportunidade de jogar na Premier League.
Também nunca jogou como sénior na I Liga portuguesa, acha que adaptava-se bem?
Acho que sim. É um futebol que conheço apesar de só ter lá jogado quando era miúdo.
O que pensa do campeonato português?
Gosto, a qualidade está a aumentar. Claro que há diferenças para os três grandes, mas este ano o SC Braga já se aproximou mais e equipas como o Rio Ave, Vitória de Guimarães e mesmo equipas consideradas mais pequenas estão cada vez mais fortes, com jogadores de qualidade.
Entretanto, regressa ao Mónaco esta época.
Sim regresso ao Mónaco esta época depois de praticamente dois anos e meio emprestado ao Lille.
Regressa porque o Leonardo Jardim o chamou ou porque o Rony quis voltar?
O Mónaco é um bom clube e é o clube com que tenho contrato. Queria que esta fosse a época da minha afirmação porque já tinha passado muito tempo emprestado. Queria mostrar que o Mónaco tinha feito uma boa aposta em mim.
As coisas começam a correr muito bem, sobretudo desde o final do ano passado.
Sim, esta época não tenho nada de que me queixar.
Como é que explica essa “explosão” repentina?
É o trabalho que tenho vindo a fazer. Sempre procurei fazer o melhor para mim. Procurei trabalhar sempre com pessoas o mais profissionais possível, procurei o melhor em termos de alimentação, em termos físicos e graças a Deus as coisas estão a correr bem.
De tal maneira que entretanto é chamado à selecção. Aconteceu em Novembro passado. Estava à espera?
Não, não estava à espera. Na altura em que saiu a convocatória estava num restaurante a almoçar e comecei a receber chamadas.
O que é que sentiu?
Senti um orgulho enorme – todo o meu trabalho, todo o meu esforço estava a ser recompensado naquele momento. Foi um momento de felicidade e orgulho.
Quais foram as primeiras palavras que o Fernando Santos lhe disse?
Basicamente: “Bem-vindo”. E para eu estar tranquilo.
Chegou a jogar contra os EUA. Como acha que lhe correu?
Em 10 minutos não deu para fazer muito, mas para mim valeu pelo sentimento de estar a viver aquele momento.
Nunca lhe passou pela cabeça jogar pela selecção brasileira?
Claro que passou, quando surgiu o interesse da selecção brasileira, enquanto estava no City. O seleccionador do Brasil foi lá falar comigo e com o meu pai. Mostraram interesse e nessa altura claro que me passou pela cabeça, mas foi uma ideia que passou rápido porque Portugal foi sempre o meu país, foi sempre a selecção que representei e então não foi difícil tomar essa decisão.
A hipótese de jogar pelo Brasil já está descartada?
Há sempre possibilidade, mas é uma coisa em que nem penso sequer.
Quais são os seus maiores concorrentes na selecção?
Tem muitos jogadores para a minha posição: o Bernardo, o Gelson, o Quaresma, o André Gomes, o João Mário, uma série de jogadores.
Muitas vezes comparam-o com Bernardo Silva. Chateia-o?
Não, sinceramente não me chateia, passa-me ao lado porque estou de consciência tranquila e porque sei que comparação vai haver sempre.
Em que posição se sente mais confortável a jogar?
A minha formação toda foi como Nº 10, mas desde há alguns anos que tenho jogado mais pela linha e já me habituei. Claro que gosto muito de jogar a 10, mas neste momento a 10 ou na linha é igual.
Quando foi chamado à selecção, em termos de ambiente, era o que estava à espera, superou as suas expectativas ou foi muito diferente do que imaginava?
Não, já estava habituado porque fiz as selecções todas jovens e é um pouco parecido. Nessa convocatória a que fui já tinha jogado com quase todos os jogadores, isso facilitou bastante.
Vamos falar desse percurso da selecção. Foi chamado a todas as selecções desde a de sub-16. Houve alguma equipa ou algum seleccionador que o tenha marcado mais nesse percurso?
Talvez o Hélio Sousa, porque foi o treinador com quem eu passei mais tempo. Treinadores como o Filipe Ramos e o Emílio Peixe também foram excelentes.
Algum jogador com quem tenha criado maior empatia?
Sempre me dei muito bem com o Bernardo por exemplo, também me dou muito bem com o André Silva.
No ano passado, depois de ter completado a grande maioria dos jogos de qualificação para o Europeu de Sub-21 acabou por ser não ser chamado pelo Rui Jorge, em detrimento de outros jogadores. Foi difícil lidar com isso?
Admito que não estava à espera, até porque tinha feito a maior parte dos jogos de qualificação como titular. Depois, não ser convocado, foi uma grande desilusão.
Alguma vez foi praxado?
Fui, em Novembro, na selecção A, tive que cantar.
Cantou o quê?
Cantei uma música dos D.A.M.A., a “Balada do desajeitado”. O problema é que cantei essa música a pensar que todos conheciam e que iam cantar comigo e depois reparei que ninguém conhecia a música. Fiquei ali um bocado tímido (risos).
Foi a única praxe de que foi alvo?
Quando cheguei ao Mónaco também tive que cantar e quando cheguei ao Lille tive que dançar. No Mónaco cantei Xutos e Pontapés: “As saudades da minha casinha”. No Lille dancei um remix durante um minuto. Iam metendo várias músicas e eu só tinha que ir mudando o ritmo da dança.
Tem o João Moutinho como companheiro no Mónaco. Que tal?
É um jogador com muita experiência que já conhece os cantos à casa.
Deu-lhe algum conselho, ensinou-lhe alguma coisa?
Todos os dias. Eu treino muito com ele. Dentro de campo, então, dá-me sempre conselhos sobre movimentações, é uma pessoa que me ajuda bastante.
Qual é sua maior ambição como jogador?
Ganhar títulos, ambiciono ganhar a Liga dos Campeões.
Tem algum clube pelo qual gostasse de fazer isso?
Tenho dois clubes em que gostaria de jogar: o Barcelona e o Real Madrid.
Em termos pessoais qual é a sua maior ambição?
Quero ser um jogador reconhecido, quero ganhar títulos, títulos individuais, para mim essa é a minha maior ambição, títulos individuais.
E namoro, há alguma coisa?
Neste momento estou solteiro e estou bem assim.
Continua a viver com o seu pai e com a sua mãe?
Estou a viver só com o meu pai. A minha mãe e os meus irmãos vêm aqui sempre que podem. A minha mãe ficou com o meu irmão em Manchester.
O Mónaco conhecido pelo luxo. Já perdeu a cabeça com alguma coisa?
Não, nada.
Já foi ao casino ou ainda não?
Não, ainda não entrei no casino. O casino não é para mim, não jogo nada, nem poker, nem sequer às cartas eu jogo. E prefiro continuar assim, pelo menos não perco dinheiro nessas coisas.
Qual foi a maior loucura que fez porque se podia dar a essa luxo?
Eu não compro por impulso. Não sou assim. Vejo, gosto mas se for muito caro, guardo sempre para comprar na altura certa, não compro por impulso.
Nem carros?
Comprei dois. O primeiro foi um Mercedes Classe A ou outro um Range Rover Evoque. Mais para a frente talvez compre um mais potente.
No futuro equaciona voltar a estudar?
Neste momento, não me passa pela cabeça, mas sei que daqui a alguns anos é uma coisa que me faria bem.
Tem alguma coisa de brasileiro?
A comida e o gosto musical.
Sente-se mais português do que brasileiro?
Sim, eu gosto de dizer que sou um português com algumas raízes brasileiras.
Costuma visitar o Brasil?
Não, desde que vim para Portugal nunca mais voltei ao Brasil.
Como é que é um dia normal para si?
Normalmente acordo às 7 e meia, tomo o pequeno almoço em casa com o meu pai, chego à Academia às nove e meia e, como o treino começa uma hora depois, nesse espaço de tempo fico a fazer uma massagem ou vou para o ginásio fazer qualquer trabalho. Depois do treino, às vezes fico a jogar futevolei, mais com os brasileiros, ou na piscina ou na conversa. Depois fazemos recuperação, banho de gelo e normalmente chego a casa por volta das 14h. É quando almoço, com o meu pai. Depois faço a sesta, fico a ver televisão, às vezes jogo PlayStation com o meu pai. Às 18 é hora do lanche e a seguir ou vemos um filme ou jogamos, a maior parte do tempo ficamos por casa.
O que é que joga na Playstation?
FIFA. O meu pai aprendeu agora a jogar e por isso jogamos os dois na mesma equipa contra a PlayStation.
É verdade que tem uma espécie de “duelo” com o Anthony Lopes?
(risos). Não. Dizem isso porque tenho tendência para marcar em todos os jogos contra o Lyon e este ano nós defrontámos o Lyon três vezes e eu marquei-lhe golos nos três jogos. É esse o “duelo” entre nós, não é nada de mais.
Para além da PlayStation tem mais algum hóbi?
Gosto bastante de ver séries e de ir ao cinema.
Que séries é que tem estado a seguir ou de que gostou mais nos últimos tempos?
Adorei “Prision Break” e "Nikita”. Neste momento estou a ver a “Blacklist”
Quem é o seu maior ídolo?
O meu pai. E a minha mãe.
É supersticioso?
Um bocado. Quando as coisas correr bem tento repetir o que faço. Benzo-me sempre quando entro em campo. Depois há coisas que guardo para mim.
Qual foi o golo que mais gozo lhe deu marcar até hoje?
Gostei do que marquei na estreia pela equipa principal do City, contra o Watford, para a Taça, porque fui o mais jovem jogador da história do clube a marcar até hoje. Também gostei do que marquei contra o Lyon esta época, que deu a vitória à nossa equipa.
Portugal tem hipóteses de chegar até onde neste Mundial da Rússia?
Se me perguntar se acho que Portugal tem hipóteses de ganhar, digo-lhe, sem dúvida. Mas vai ser difícil. Portugal tem um grupo bastante forte com excelentes jogadores, de muita qualidade. Claro que não vamos meter a fasquia muito alta e que a maneira de encarar é sempre de jogo a jogo. Mas na minha opinião, Portugal tem uma palavra a dizer neste Mundial.
Em relação a esta convocatória, qual é o seu sentimento? Acha que tem hipóteses de ser chamado ou não tem grandes esperança?
Tenho sempre um pouco de esperança mas sei que é complicado. Sinceramente estou tranquilo, estou de consciência tranquila, gostei de fazer o meu trabalho e estou satisfeito comigo mesmo, que é o mais importante. Depois as coisas que tiverem que acontecer, vão acontecer, sem pressa, tudo no seu tempo certo.
Acha que o facto de não ser chamado tem só a ver com a concorrência?
Sim, com a concorrência e com o momento, como eu não fiz nenhum jogo na qualificação, acho que é apenas isso.
Em 48 jogos oficiais nesta temporada, leva 15 golos marcados e 12 assistências. Bateu vários recordes do clube e da Liga francesa (nomeadamente o de número de jogos consecutivos a marcar) e foi o primeiro jogador português, depois de Pauleta, a chegar aos 10 golos marcados em França. Acha que este argumentos deviam ser suficientes para Fernando Santos chamá-lo para o Mundial da Rússia?
São números muito bons para mim. Claro que quero sempre mais, mas estou contente com meu trabalho. Agora, se são argumentos suficientes para o seleccionador levar ao Mundial isso já não sei, já não é comigo.
Se pudesse dizer alguma coisa agora a Fernando Santos para o convencer a convocá-lo, o que dizia?
(risos). Dizia que estou aqui e estou pronto para representar Portugal. E também que tenho feito o meu trabalho e posso acrescentar algo à selecção."
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