"Jesus ficou surpreendido por não ser campeão com 86 pontos mas Vitória corre o risco da falhar o penta com 87.
No último sábado, em Santa Maria da Feira, Jiménez substituiu Grimaldo. O costume, substitui sempre alguém. Muito raramente sucede o contrário, ser ele o substituído. Li ontem em A Bola que apenas por uma vez foi titular nesta Liga, com o Marítimo, à oitava jornada, empate 1-1, e que no universo das competições em que o Benfica aparece na presente temporada o nome do avançado mexicano só foi inscrito na formação titular no último dia de Outubro do ano passado, quando as águias defrontaram o Manchester United para a fase de grupos da Liga dos Campeões, uma participação humilhante e nunca vista, que se traduziu em zero absoluto.
No jogo com o Feirense, Raúl Jiménez precisou de menos de um minuto para descobriu a solução para a vitória encarnada.
Outra vez ele, afinal. O que contribui para adensar o mistério. Sabe-se que os treinadores não gostam de ser questionados, muito menos contrariados. Reclamam a posse da razão e olham para os praticantes como servos que devem obediência ao único senhor com poderes para fazer a destrinça entre os actores principais e os que constroem a carreira sentados no banco. Sem direito a perguntas, sob risco de intromissão no trabalho do mister, como se não existisse autoridade de arranjar dinheiro para os ordenados, treinadores incluídos, quer se ganhe, quer se perca.
Em 2016, no seu primeiro ano ao serviço do Sporting, Jorge Jesus surpreendeu-se por ter somado 86 pontos e não conseguir ser campeão. Creio que entendeu, mas deu-lhe jeito fazer de conta de maneira a evitar uma explicação pormenorizada para as causas do fracasso de um plantel que era manifestamente mais forte do que os outros. O que falhou então? Distraiu-se na gestão dos chamados detalhes: fartou-se de empatar e de empate em empate diante de opositores de inferior condição social foi deixando de acumular os pontos suficientes para chegar ao final na liderança.
Este ano, creio que vai calhar a Rui Vitória ficar de boca aberta pela surpresa, sem palavras para justificar o 'não penta', apesar dos 87 pontos, quantos alcançará se empatar com o FC Porto e triunfar nas restantes jornadas que lhe faltam cumprir, incluindo o Sporting, em Alvalade. É uma simples hipótese, embora plausível, dado acreditar que, com a linha de meta à vista e o calendário teoricamente mais acessível, Sérgio Conceição vai impor um regime de alerta máximo a todos os seus jogadores.
Raul Jiménez deve estar cansado de ser suplente. É natural. Mais de quinze minutos em campo já lhe dá para fazer uma festa, como aconteceu no sábado, o que reflecte o défice de confiança que Rui Vitória nele tem depositado.
Na iminência de campeonato perdido, a situação do avançado mexicano deve ser trazida à colação. Não pelo golo que apontou ao Feirense, mas, sobretudo, pelo que está para trás, limitando-me, no entanto, aos exemplos mais recentes, e confessando desde já parecerem-me estapafúrdios quaisquer argumentos que se pretendem esgrimir ao nível do ordenamento táctico para justificar a sua condição de figura subalterna.
Jiménez sujeita-se a tudo. Até João Carvalho lhe passou à frente, um jovem cheio de qualidades, quem sou eu para afirmar o contrário, mas a quem falta alma e mais alguma coisa, pois quem procura afirmar-se e responde como ele tem respondido é porque não será tão virtuoso para ser notado em patamar competitivo tão alto.
Em Paços de Ferreira, no tal jogo em que Rui Vitória descobriu que os seus jogadores são animais de competição, a verdade é que só o foram verdadeiramente depois de Jiménez ter saído do banco, o seu lugar habitual: foi ele o artífice da reviravolta ao intervir na construção dos três golos benfiquistas.
Diz o povo que mais vale cair em graça do que ser engraçado. Talvez Jiménez seja só engraçado.
Rui Vitória é quem manda e detém total liberdade para tomar as decisões que, no seu entendimento, melhor servem os interesses do Benfica. Deve convir, porém, que, sobretudo no nosso mercado, é pouco curial arrastar a desvalorização de um activo que custou ao clube mais de 20 milhões. É o chamado suplente de luxo. Em Inglaterra, Espanha ou Itália é normal, em Portugal é uma extravagância."
Fernando Guerra, in A Bola
PS: O Guerra é um cronista independente... concordo muitas vezes com ele, mas desta vez, voltou a cair num erro que 'cai' muitas vezes!!! Quem o lê, sabe, que não gosta do Jesus, e gosta do Vieira, e que não gosta do Rui Vitória!!! Entre outros gostos e desgostos...!!!
Algo totalmente legitimo, mas muitas vezes acaba por construir as suas crónicas, exclusivamente na base do preconceito!!!
O Raul é de facto um suplente de luxo, mas aquilo que o Guerra se esqueceu de referir, é que o jogador que está a jogar na posição do Raul, chama-se Jonas!!! E está a fazer uma das melhores épocas de sempre, como ponta-de-lança do Benfica...!!!
Sendo ainda perfeitamente defensável, a teoria de que alguns jogadores, dão o seu melhor, quando 'saltam' do banco... o Raul não é o primeiro!!!
Aquilo que deve ser realçado, além das qualidades futebolísticas do Raul, é o seu enorme profissionalismo e espírito colectivo... algo que o Raul tem demonstrado... Sem o conhecer pessoalmente, parece-me ser um rapaz com enorme carácter...!!!
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