"No reino do pecado todos são corruptos
Vítor Norinha
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Sem triagem, os suspeitos ficam com o título de corruptos, são reputacionalmente destruídos, vão a tribunal e correm o risco de encontrar operadores judiciais potencialmente contaminados pelo efeito comunicacional.
Os cidadãos foram surpreendidos por uma semana de notícias de processos judiciais, de suspeitas e de constituição de arguidos envolvendo figuras públicas.
Para o cidadão comum, sentado no sofá à noite, enquanto vê ou revê os telejornais, ou ainda para o cidadão urbano que no escritório vai estando atento às notícias que chegam ao seu smartphone, a conclusão imediata é fácil e lapidar: isto é um país de corruptos. Depois ouve nomes de instituições que desconhece, ou então desconhece as relações entre elas: PGR, MP, DCIAP, Sindicato dos Juízes ou Ministério da Justiça.
Para quem está fora do sistema judicial, qualquer destas figuras tem o mesmo objectivo e persegue o mesmo intuito. Para o cidadão comum, que vê uma instituição, um líder dessa instituição ou uma figura com quem simpatiza, envolvido(s) neste “reino do pecado”, o normal é “conjeturar” uma motivação lateral. Uns ficam contentes com a história do ministro Centeno que pediu dois bilhetes para ir ao Benfica e com os secretários de Estado de Sócrates, que compraram livros e revistas e que não as deixaram nos Ministérios. Outros ficam contentes quando o Benfica é atacado porque se envolve o seu presidente num processo ou um juiz que já foi candidato aos órgãos sociais do clube. Outros ainda manifestam o seu gáudio perante o facto de um governante de outro país ser julgado em Portugal, porque o sistema judicial não confia nos congéneres desse outro país. Ninguém se importa com as motivações, umas verdadeiras, outras ridículas.
Mas o que está por detrás destes “tiros nos porta-aviões? São temas de fundo, que ligam o modelo judicial atual do Ministério Público e que, essencialmente, pretende acusar e prepara o caminho de uma forma bem estruturada, colocando os social media do seu lado. Mas sem triagem, os suspeitos ficam com o título de corruptos, são reputacionalmente destruídos, vão a tribunal e correm o risco de encontrar operadores judiciais potencialmente contaminados pelo efeito comunicacional.
Claro que neste ambiente judicialista o mensageiro aproveita e faz o seu trabalho, que é noticiar aquilo que é do interesse público, e as audiências confirmam que são estes casos que dão notoriedade. Mas este é também um ambiente politicamente comprometido, onde o poder judicial é aproveitado para abater um oponente. A delação premiada, alguma sem suficiente qualidade, envenena ainda mais o ambiente. E, claro, nesta escola não é entendível o princípio da razão do Estado. Os tiros nos vários “porta-aviões” até podem ser motivo de celebração, mas nem sempre o país ganha.
Falta ainda responder a outra questão: o que explica este avolumar de notícias judiciais que “nasceram” como cogumelos? Diz-se no inner circle dos assuntos político-judiciais que personalidades importantes deixaram de “segurar” as pontas porque eles próprios estão a ser alvo de suspeitas e se encontram sob investigação."
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