"Portugal sempre foi um país dado à cunha, onde dava muito jeito conhecer alguém capaz de encontrar uma solução expedita. Sou do tempo em que as multas de trânsito desapareciam por artes mágicas, muitos empregos eram arranjados por influência do tio da prima da afilhada e ter um conhecido na repartição de finanças ou na urgência do hospital não fazia mal a ninguém.
Passaram-se anos a fio sem que houvesse condenações por corrupção ou tráfico de influências, como se o Estado estivesse prisioneiro da sua própria inércia, impotente perante uma teia de interesses, grandes e pequenos.
Hoje em dia, felizmente, tudo mudou, há uma transparência muitíssimo maior e sente-se que o poder judicial não é subserviente perante ninguém, por mais pintado que aparente ser. Esse é o sinal mais evidente de uma sociedade evoluída, que quer progredir baseada na meritocracia e disposta a erradicar as práticas de antanho.
Aqui chegados, há que evitar as derivas justicialistas, por vezes voluntaristas, por outras vingativas, às vezes motivadas por agendas obscuras, mas sempre desajustadas da realidade, por demonstrarem ausência absoluta de bom senso, a tal regra não escrita a que todos devem obedecer.
A sociedade portuguesa, que precisa de se defender assegurando o primado da transparência e os meios para implementá-la, necessita igualmente de fugir das práticas fundamentalistas e dos tiques prepotentes e ditatoriais, que acabam por ser perniciosos para a imagem das instituições.
Ah, é verdade, o Ministério Público arquivou o inquérito a Mário Centeno por causa dos bilhetes para a Luz..."
José Manuel Delgado, in A Bola
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