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sexta-feira, 29 de setembro de 2017

O fim da linha?

"Terá Rui Vitória compreendido bem o que significa a noite de Basileia num clube tão grande como é o Benfica?

Compreendo até que possa soar estranho, mas deve o Benfica admitir que o pior da humilhante noite de Basileia nem foi obviamente a derrota. Jogar fora de casa na Liga dos Campeões é difícil para qualquer equipa e, portanto, seria de esperar que fosse difícil para o Benfica esta viagem ao campo do campeão suíço, sobretudo se pensarmos que o Benfica já há muito que não anda propriamente de boa saúde competitiva e mesmo tendo em conta que este Basileia faz parte da terceira divisão europeia e nem é o Basileia que, apesar de tudo, conseguiu ser aqui há quatro ou cinco anos.
Nesse sentido, claro que podiam os campeões portugueses voltar a ter, agora em Basileia, uma noite infeliz, porque pode ter. Perder, pois, custaria sempre, porque perder pela segunda vez nesta Liga dos Campeões complicaria ainda mais as contas encarnadas na prova, e porque voltar a perder seria perder ainda mais do menor ânimo que a equipa tem mostrado no campeonato.
Em todo o caso, qualquer derrota seria sempre mais aceitável, evidentemente, se os adeptos vissem a equipa jogar outro futebol. E essa é que é a questão chave: o futebol, que a equipa joga e o futebol que a equipa não parece capaz de jogar!

O pior, em Basileia, parece não ter sido, pois, a derrota. O pior foi o tão pouco que a equipa jogou. E a baixa intensidade com que joga. E a fragilidade táctica. E a falta de andamento. O parecer que joga num ritmo de treino e de um treino muito pouco exigente. O pior foram os erros tão evidentes e tão chocantes.
O pior foi ver o confrangedor da opção por Júlio César na baliza, porque a experiência do Júlio César já não compensa a falta de agilidade. Como pode um guarda-redes a este nível evitar permanentemente qualquer contacto físico com os adversários (por certo com receio de voltar a lesionar-se...) e tornar-se assim um alvo tão frágil como o foi na triste noite de Basileia? Deu Júlio Cèsar algum frango? Não, na verdade não. Mas abordou quase sempre assim tão mal os lances) Sim, na verdade sim. Mal, muito mal. Tão mal que nunca foi Júlio César capaz de desafiar corajosamente o duelo com os pés dos adversários, como, no mínimo, se exige a qualquer guarda-redes na Liga dos Campeões. Revejam as imagens e logo perceberão o que quero dizer.
O pior foi também ver a opção por Jardel em vez do promissor, jovem, fresco e mais rápido Rúben Dias, porque já tinha ficado claro que Rúben Dias está, nesta altura, muito mais apto do que Jardel a dar à equipa o que ela precisa. E o que dizer da decisão de deixar de fora Seferovic logo no jogo em que Seferovic, por todas as razões e mais uma, mais poderia dar emocionalmente ao Benfica?
E pior ainda foi ver-se, depois, o treinador trocar então Jonas por Seferovic quando a equipa já perdia por 0-3 e contava apenas com dez homens em campo.
À procura, Rui Vitória, de quê? Não pensou no risco de desastre absoluto? Não foi capaz de prever que assim sujeitaria a equipa a perder por cinco, como perdeu, ou por seis ou sete, como quase chegou ao ponto de perder?
O pior, na verdade, foi, enfim, ter-se visto a equipa completamente perdida em campo. Sem rei, sem roque, sem norte, sem alma, sem a cabeça limpa, como se viu sobretudo na expulsão de André Almeida mas também na chapada (que o árbitro, felizmente para o Benfica, não viu) que Jonas, naquele mesmo momento, deu no número 11 Steffen.
O pior, realmente, para o Benfica não foi perder.

O pior foi ter ficado a sensação que a equipa não tem nesta altura capacidade para fazer muito melhor, mesmo frente a um adversário de baixo estatuto como é o Basileia, que, diz a estatística, parece que não ganhava na Liga dos Campeões há 11 jogos, ou seja, há quase, três anos (desde Novembro de 2014) e há quase dez mil minutos de jogo!!!



Tem, aliás, a estatística servido algumas vezes ao treinador do Benfica para justificar mesmo o que não parece lá muito bem justificar dessa maneira - como Rui Vitória fez, por exemplo, ao tentar justificar a pretensa influência de Filipe Augusto no jogo da equipa. Pois desta vez diz a estatística que nos 90 e poucos minutos da humilhação de quarta-feira não fez o Benfica qualquer remate enquadrado com a baliza do Basileia. Neste caso, sim, o que diz a estatística explica muito do que se passou. E nem é preciso recorrer a mais estatística. E muito menos puxar dos galões da posse de bola porque isso só aumenta a vergonha e ainda torna a emenda bem pior do que o sonete!
Muito pior do que perder foi ver o Benfica ser goleada pelo modesto Basileia quase da mesma maneira como foi goleado pelos outro modestos suíços do Young Boys, num 1-5 só disfarçado pela pré-temporada mas que não deixou de levar então o jovem Cervi a desabafar no final um «isto não pode voltar a acontecer».


A derrota desta semana na Suíça não é apenas e segunda pior derrota de sempre do Benfica na Europa, a seguir aos 0-7 de Vigo, há quase 20 anos, sofridos apesar de tudo frente a um Celta que era incomparavelmente muito mais equipa e jogava muito mais futebol do que este Basileia. Agora, o desaire de Basileia não é, pois, o segundo pior de sempre. É, que me lembre, o mais humilhante de todos. Humilhante, creio é mesmo a palavra certa!
Se compreender isso, poderá Rui Vitória ter ainda alguma esperança de conseguir inverter esta história e eventualmente reconduzir o Benfica à linha que, apesar de todas as circunstâncias especiais (e foram muitas, a meu ver, as circunstâncias especiais, que não vêm agora ao caso...), o levou nos dois últimos anos tetra.
Mas se Rui Vitória não o compreender, então pode ser o fim da linha.
Os sinais, para já, dizem que não compreender. Porque se tivesse compreendido teria deixado uma palavra (e, porventura, um pedido de desculpas) aos adeptos e, sobretudo, aos adeptos emigrantes (que incompreensivelmente não deixou) pela vergonhosa e triste que a equipa os levou a passar, e teria dado ordem para, à chegada a Lisboa, seguir tudo para o Seixal para estágio, treino e restante trabalho, até à viagem para o Funchal, onde, já este domingo, há um jogo que o Benfica deve, obrigatoriamente, exigir a si próprio um só resultado: ganhar!
Rui Vitória não fez nem uma coisa (mensagem aos adeptos) nem outra (fechar a equipa no Seixal). Terá compreendido bem o que significa a noite de Basileia num clube tão grande como o Benfica?
(...)"

João Bonzinho, in A Bola

PS: Este é um daqueles típicos artigos de ataque pessoal só porque sim!!! Desde dos bitaites tácticos (ex: o Seferovic que nos últimos jogos andava a 'pedir' banco; passou a insubstituível...); à ideia peregrina de 'prender' os jogadores no Seixal; ao estranho 'esquecimento' do momento da equipa junto dos adeptos no relvado; e principalmente da forma premeditada, como este e todos os outros jornaleiros, nos últimos dias 'esqueceram-se' da relativamente recente derrota do Benfica em Atenas, também com uma goleada: mas nessa altura o treinador era outro, o actual génio do portunhol!!!
E até a forma, como num texto tão grande, o colunista convenientemente não referiu nem uma vez as 'culpas' na construção do plantel...!!! Não fazia jeito a 'culpa' ser partilhada com terceiros, o importante era 'isolar' o treinador!!!

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