"Recordemos Teixeira. O Gasogéneo. Um dia ficou para a história: marcou quatro golos num dérbi. Foi o primeiro a consegui-lo.
Quatro-golos-quatro! Assim como se costuma escrever nos anúncios das touradas. Quatro golos num dérbi são obra! É de estalo!, como diria o Ega, n'Os Maias.
Hoje é um dia tão bom como qualquer outro para falar sobre o assunto. E o assunto não se resume simplesmente aos golos. O assunto também é, como está bem de ver, o homem que os marcou.
Falemos então desse herói primeiro, inicial. Chamava-se Joaquim Teixeira. Chamavam-lhe o Gasogéneo.
Gasogéneo era uma forma de propulsão, poupadinha para esse tempo de guerra. A II Guerra Guerra.
Portugal, ao contrário do que aconteceu na Europa central, libertou-se das frentes e das trincheiras, e conseguiu manter vivo o campeonato. Uma geração inteira de jovens futebolistas desapareceu ao longo desses anos trágicos.
No dia 16 de Janeiro de 1944, o Benfica recebeu o Sporting, no Estádio do Campo Grande, para a 8.ª jornada do Campeonato Nacional. Nesse dia assistiu-se a um dos espectáculos mais apaixonantes da História do futebol em Portugal.
Vamos a isso!
Começar com um autogolo
Um autogolo do guarda-redes Martins dava vantagem ao Sporting aos 18 minutos. Responde o Benfica, e Teixeira faz 1-1 aos 24'.
O resultado curto que se registava ao intervalo não deixava adivinhar o vendaval que se levantava no segundo tempo.
É Peyroteo quem lhe dá início: 1-2 aos 50 minutos. Cinco minutos decorrem até que Teixeira volte a empatar. E aos 72 minutos é o mesmo Teixeira quem dá a primeira vantagem aos encarnados. Dois minutos depois, Júlio, o Julinho parece ter garantido a vitória do Benfica com um golo soberbo. Puro engano. Respondem Albano e Alfredo Mourão, aos 77 e aos 84 minutos.
Falta um minuto para o final. Teixeira não ganhara a alcunha de Gasogéneo por insignificâncias. Ainda tem fôlego para fugir à defesa contrária e bater inapelavelmente Azevedo: 5-4.
Quatro-golos-quatro.
Era a primeira vez, ficava para a história, poucos foram aqueles que souberam repetir a proeza.
A história dos Benficas-Sporting está cheia de histórias.
É bom recordá-las de tempos a tempos. Fazem, afinal, parte da própria história deste país tristinho mas banhado de sol."
Afonso de Melo, in A Bola
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