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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Eram três, agora são dois

"Se há dores de cotovelo, a de Jesus deve ter sido aguda quando olhou para o lado e viu Augusto Inácio, que foi o último treinador português a ser campeão nacional pelo Sporting.

Quando a Liga começou o Sporting tinha o objectivo de ser primeiro, mas, nesta altura, a mesa principal passou a ser uma classificação que permita, na próxima época, «entrar na Champions», de forma directa ou indirecta. Diluíram-se as dúvidas: de três candidatos, restam dois...
A seguir ao empate com o Marítimo, o treinador leonino, em declaração a quente e apressada, apontou ao segundo lugar. Anteontem, após árdua e categórica vitória em Moreira de Cónegos, baixou a fasquia para o terceiro, a última posição de acesso à Liga dos Campeões através do play-off, parecendo esse desiderato de fácil alcance devido ao Sporting de Braga, outro assumido pretendente, não estar a recolher o sucesso desejado com a mudança de treinadores.
Pela segunda vez, em menos de um mês, Jesus confundiu-se no discurso. Entrou por atalhos que as circunstâncias não aconselhavam em face de uma exibição convincente e que nos transporta para a questão central: em vez de justificações que suavizem o atraso pontual para os primeiros, sugerem-se esclarecimentos para uma dúvida que emergiu do relevante desempenho de quase todos os jogadores, desempenho esse a encaixar mal na oratória do treinador, o qual, pacote de desculpas à parte, onde cabem azares, guarda-redes, árbitros e afins, não explicou por que razão um plantel que era bom há ano e continua a ser bom hoje perdeu o rótulo, no seu entendimento, de candidato ao título de corpo inteiro, sem dar conta que ainda há treze rondas por disputar, com dois clássicos de permeio (Benfica-FC Porto, 27.ª e Sporting-Benfica, 30.ª) que alguma agitação irão provocar no topo da tabela.

Na temporada passada, à saída da 21.º jornada, o Sporting estava a par do Benfica, ambos com 52 pontos. Agora, o leão soma menos onze. Trata-se de uma queda pronunciada, embora insuficiente para se proclamar a capitulação. A situação é problemática mas há futuro, prometido pela dimensão de Adrien Silva, jogador que merece uma Liga com mais visibilidade, pela valentia de Bas Dost, que pouco fica a dever a Slimani, pelo talento de Gelson Martins, um jovem especialista em desembrulhar jogos, o termo é feliz e tem a assinatura de Jesus, e pela estabilidade associada aos outros campeões da Europa: Rui Patrício (não se chama Casillas, mas foi considerado o melhor guarda-redes do Europeu de França) e William Carvalho, que tem resistido aos efeitos devastadores do furacão.
Os futebolistas são os menos culpados porque obedecem a ordens, respeitam estratégias e em caso de incumprimento ou menos aplicação saem de cena, são substituídos por outros. Que às vezes não existem com atributos para clube grande, mas, nesse caso, a responsabilidade continua a ser do mesmo: de quem escolhe. Sabe-se que o futebol é um negócio de risco, mas deve haver limites até para os enganos...

Apesar de sobrarem poucos adjectivos no dicionário para qualificar os méritos de Jesus, abro um parêntesis por causa das dores de cotovelo, que as há, sim senhor, e a dele deve ter sido aguda quando subiu ao relvado de Moreira de Cónegos, olhou para o lado e viu Augusto Inácio, que foi o último treinador português a ser campeão nacional pelo Sporting, fecho o parêntesis, insisto na convicção de que, nos seis anos em que esteve no Benfica, nas mesmas condições de trabalho, que foram excelentes, e dispondo dos mesmos jogadores, qualquer outro treinador com o mínimo de competências teria apresentado idêntico saldo. Por isso também já o escrevi, considerei o ataque leonino extravagante, no foguetório e nos milhões despendidos, sem o cuidado de acautelar que Jesus era contratado: o que ganhou três campeonatos ou o que perdeu três campeonatos. Se calhar o segundo,daí Bruno de Carvalho ter feito uma revisão de matéria e percebido que as coisas não eram como lhe terão pintado.
Parou para pensar, rectificar coordenadas e impor medidas. Vai ganhar as próximas eleições, porque depende só dele, mas não sabe quando será campeão nacional, porque não depende só dele. Um troféu (Supertaça) em duas épocas é o que Jesus tem para oferecer. Caríssimo.
«Não vamos baixar os braços», afirmou o capitão Adrien Silva, no final do jogo com o Moreirense. Mensagem simples e forte que, seguramente, calou fundo na família sportinguista. Porque é sincera e exprime um estado de alma. O resto é conversa de embalar...

Nota final - Rui Vitória, líder no Campeonato, e Nuno Espírito Santo, 2.º classificado, a um ponto, seguem os seus caminhos, firmes, lúcidos e discretos. Preparam-se para competir nos oitavos de final da Liga dos Campeões: mais logo, o Benfica, com o Borussia Dortmund; na próxima semana, o FC Porto, com a Juventus. É o futebol português representado ao mais alto nível."

Fernando Guerra, in A Bola

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