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sexta-feira, 15 de julho de 2016

Campeões da Europa (Porque se ganhar não é tudo já querer ganhar é... quase tudo!!!)

"Esqueceram-se de criticar, com a mesma ousadia, a decepcionante Inglaterra, a previsível Espanha e, até, uma França bem arrogante.

10 de Julho, o dia em que se cumpriu Portugal!!!
«E ao imenso e possível oceano, ensinam estas Quinas, que aqui vês, que o mar com fim será grego ou romano: o mar sem fim é português.»
E no passado domingo, citando Fernando Pessoa, o mar sem fim foi português!
Na véspera de fazer 50 anos do início do Mundial de king Eusébio, em Old Trafford, passámos o Bojador, passámos a dor. Esbanjando emoções...
Um jogo de sofrimento, de lágrimas, e um golo, do meia da rua, já no prolongamento. Num País com uma comunidade lusa de cerca de 1,5 milhões, que mantém uma identidade própria. Perante um País. Perante o Mundo?
Qual Nação «valente», agora, sobretudo, «imortal» (passe, claro, o exagero)!
Para a história deste campeonato da Europa, fica a vitória destes 23 jogadores, guiados por um homem do leme, que sonhou e conseguiu, emocionado o País.
Para além de Fernando Gomes, que escolheu e acreditou em Fernando Santos!!!
A vitória da Selecção que não era favorita, excepto no discurso do Seleccionador nacional.
Que empatou quase todos os jogos, que se arrastou para alguns prolongamentos, que foi uma vez a penalties, mas que, ainda assim, chegou à final. Para vencer a França (tal como previ), o adversário que sempre preferi!!
Havia 40 anos de contas a acertar!
No domingo, as lágrimas das lesões e contratempos deram lugar a «sangue, suor e lágrimas». De alegria!
Um jogo que foi um teste a uma equipa, um teste à paciência do capitão Ronaldo e do comandante Fernando Santos.
Fora dos relvados, lá como cá, como no resto do mundo, uma ambição (desmedida, até há dias) e um discurso de coragem e de crença!
Uma união extraordinária em torno do plantel e da equipa técnica, traduzidas numa vitória.
Perante a auto-intitulada, por muitos, «toda poderosa» e favorita França que não nos conseguiu parar...
Apesar da revoltante entrada de Payet (internacional ou não) sobre a capitão de Portugal!!!
Ainda assim, sem Ronaldo, fomos campeões!!!
Um Ronaldo que, mesmo fora das quatro linhas, capitaneou como nunca, ainda que fosse impedido de jogar e ganhar, lá dentro, a final que lhe faltava...
Ganhou quem mais quis ganhar!
E se ganhar não é tudo, já querer ganhar é... quase tudo!!
A equipa uniu-se e superou-se, com humildade e perseverança.
Dentro do relvado, um adicional de alma e coragem, um maior sentido de compromisso, entre jogadores e treinador, talvez a maior razão do triunfo (à imagem do que havia sucedido, no Benfica, com Rui Vitória). Para a história deste campeonato, a vitória de uma equipa teoricamente menor, mas que foi superior. Eis, pois, o primeiro grande título da Selecção... de Portugal.
Um título há muito merecido e que nos permitirá sermos reconhecidos e vistos como um efectiva potência futebolística (da Europa e do Mundo). Um título com base na crença de Fernando Santos, que nos deu, desde sempre, uma lição de fé e de persistência. Porque, como o próprio disse, ninguém é campeão devido a um só jogo.


Virou-se o feitiço contra o feiticeiro!!!
Tantas foram as vezes que fomos fortemente criticados, enquanto equipa e por isso - porque nisto do futebol não há meios termos - enquanto Povo, pelos jornalistas franceses, numa inadmissível atitude chauvinista!

Desde o futebol praticado, ao modo de apuramento, e até mesmo, à sorte (esquecem-se que a «sorte protege os audazes»)!
Focaram-se demasiado em Portugal, espicaçando-nos para a vitória final. Esqueceram-se de criticar, com a mesma ousadia, a decepcionante, a previsível Espanha, e até uma França bem arrogante. E a Selecção que tinha um futebol «feio» e «nojento» e que dava «sono» é, agora, campeã da Europa!
Fomos desdenhados e massacrados, esquecendo-se que «nojento» talvez seja insultar de forma gratuita uma Selecção, «nojento» talvez seja lesionar o melhor jogador do mundo e «nojento» talvez seja não colocar as cores da bandeira de quem ganhou a final, à França, na Torre Eifell. Mas «cruel», mesmo, é perder a final contra a equipa que mais rebaixaram, num claro ajuste de contas. E com um golo de herói mais improvável, nestes 23, cujo nome perdurará, para sempre, na galeria de honra do futebol português: Éder, de seu nome!!
C'est la vie!

A recepção
Portugal foi recebido de braços abertos, em apoteose e em clima de grande euforia. Uma euforia desmedida, mas tão apaixonada, por um País que ergueu, finalmente, a voz, no mundo do futebol, para comemorar um 1.º lugar (em vez dos 4.ºs, dos 3.ºs ou dos 2.ºs que... eram tão imerecidos como prenúncios de uma futura vitória).
De Paris para Marcoussis até Lisboa! Depois de Belém (uma palavra devida, também, pelo optimismo e apoio do Presidente da República e do Primeiro-Ministro, sem complexos por gostarem e perceberem de futebol), o mar de gente pelas principais ruas de capital portuguesa, até à Alameda Dom Afonso Henriques. Nas ruas, nos passeios, em carros, em motas, nos viadutos, a loucura e a alegria de milhares de portugueses. Nos rostos, o imenso orgulho de ser português (como se tivéssemos esperado, todos, uma vida por esse momento)!
«Cumpriu-se o Mar», só faltava «cumprir-se Portugal»!!

Taça da mão e Eusébio??
Eusébio da Silva Ferreira, um dos melhores jogadores de todos os tempos, que conquistou tudo, com e pelo Benfica, mas a quem faltou um título pela sua Selecção!
Quis o destino que não o conquistasse e que, em vida, não pudesse assistir a esse momento.
Ainda assim, esta vitória também é dele, porque também lá esteve, no domingo, a interceder para, finalmente, festejar. E os jogadores, sabendo disso, trouxeram-no, em fotografia, no autocarro e depois no avião que os transportou para Lisboa. Já em casa, na capital portuguesa, no percurso pelas ruas principais, um grande pano com a imagem do pantera negra na sede da FPF.
Até porque a Taça do Campeonato da Europa também é sua.
«Tu és o Nosso Rei, Eusébio!», numa justa e sentida homenagem ao Rei do futebol português!!!
Resolvendo, de vez, a mesquinha divisão criada em torno de Eusébio e de Ronaldo, dois jogadores igualmente extraordinários, mas tão diferentes no tempo. Sendo, por isso, incomparáveis, mas, ambs, igualmente de nível mundial!!!

Marquês de Pombal
Em cerca de 8 meses de futebol profissional, Renato Sanches conquistou um Campeonato Nacional, uma Taça da Liga e um Campeonato da Europa. Já outros foram mais depressa campeões europeus, pela Selecção, do que campeões nacionais pelo seu clube (nem sabem o que isso é), apesar de lá andarem há muitos anos! Não quero entrar na graça fácil, que por aí circula, mas ainda bem que lá estavam, entre os 23, Eliseu e Renato Sanches... porque, dos outros, dos que jogam em clubes de Lisboa, ninguém sabia o caminho para o Marquês de Pombal...
Como alguém diria, agora em português, «é a vida»..."

Rui Gomes da Silva, in A Bola

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