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quarta-feira, 8 de junho de 2016

A França merece um grande Europeu

"Na sexta começa o Europeu e a França sustém a respiração durante um mês. O país que em menos de um ano sofreu dois atentados particularmente abomináveis (Charlie e Bataclan) não cedeu à chantagem terrorista e manteve a organização do Europeu nos moldes previstos: jogos com público nos estádios e fan-zones para promover a reunião e o convívio entre adeptos. A França podia ter desistido da prova ou realizá-la em moldes completamente diferentes - chegou a ser encarada a possibilidade de os jogos decorrerem à porta fechada. Não o fez e esse ato de coragem e dignidade merece o respeito e o apoio de todos os outros países europeus, que certamente estão com a França nesta luta de vida ou de morte (é mesmo o termo) contra a barbárie terrorista. É claro que este campeonato não decorrerá num clima tão alegre, e distendido como o do nosso Euro-2004: a tensão é latente e haverá muitas restrições e medidas de segurança pouco usuais, porque a possibilidade de novos atentados é real e, infelizmente, quase uma inevitabilidade. Toda esta gigantesca operação de segurança tem custos, claro. Na ordem dos milhares de milhões. Estão destacados mais de cem mil agentes de segurança (entre polícias, militares e seguranças privados) para vigiar 24 selecções e respectivas comitivas e os 2,5 milhões de adeptos esperados. A França endivida-se e gasta o que não tem para garantir a segurança de um evento que interessa e diz respeito a milhões de cidadãos europeus. Só por isso merece que tudo corra bem. Já decidi que se Portugal ficar pelo caminho é pela França que torcerei.
Sobre a Selecção. Gostava de partilhar o optimismo de Cristiano («estou em grande forma») e de António Costa («Cristiano disse-me que está em grande forma») mas não consigo. Acho difícil CR7 estar em grande forma apenas semana e meia depois de ter jogado o que jogou - bola! - na final da Champions. Mas pode ser que sim, que o Euro francês corra de feição e não seja uma repetição da tristeza mundialista de 2014: uma equipa estoirada, envelhecida, sem ideias nem energia. O sound byte inteligente do selecionador pegou e por todo o país se ouve dizer que «não somos favoritos», mas «candidatos à final». Uma espécie de bandeirinha à Scolari em modo verbal. Mas é claro que tudo depende da condição física de um e um só jogador. Para chegarmos à final precisamos de um Cristiano devastador (o que é muito duvidoso) e mesmo assim acho que não chega: é preciso que Nani e João Moutinho joguem com a dinâmica com que jogavam há quatro ou cinco anos; que Pepe e Carvalho não facilitem um milímetro; e que João Mário e Danilo, cada qual na sua função, repitam as melhores exibições da época. Por mim, confio no famoso pé quente do engenheiro - com ele no banco ganhámos todos os jogos oficiais (quase sempre à rasquinha, mas ganhámos caramba!) e na inversão do destino. Nos últimos vinte anos jogámos quase sempre muito bem e ganhámos... bola. Agora que não jogamos assim tão bem...

Nuno e Renato, a mesma luta
A meu ver o FC Porto escolheu Nuno Espírito Santo sobretudo para poder voltar a contar com a ajuda, os conhecimentos e a argúcia negocial do melhor amigo de Nuno, o superagente Jorge Mendes. Que, imagina Pinto da Costa, não deixará Nuno descalço ou pendurado no momento em que ele precisa, por razões óbvias, de recuperar todo o crédito perdido em Valência. Naquilo que lhe for possível ajudar, Mendes ajuda Nuno e, consequentemente, o FCP...; o risco que Pinto da Costa corre neste disfarçado escancarar de portas ao superagente é enfurecer os comissionistas que gravitam na órbita portista (leio que no último exercício abocanharam 13 milhões). É sabido que Mendes não precisa de intermediários nem costuma delegar no exercício daquilo que faz melhor que ninguém. Portanto...
De resto, Nuno não mostrou até agora capacidade para treinar uma equipa como o FCP. Por isso, não deixo de achar alguma graça à súbita profusão de comentários elogiosos ao ex-valenciano. Alguns jogadores conhecidos sentiram esse impulso ao mesmo tempo. Faz lembrar a súbita e genuína inspiração daquele miúdo que, com Cristiano em campo, invadiu o relvado para abraçar... Renato. Os portistas, pouco ou nada entusiasmados com a escolha de Pinto da Costa, sempre vão lembrando que Mourinho e Villas Boas também não tinham provas dadas quando chegaram ao Dragão. Isso é verdade. Como é verdade que Nuno até pode vir a ser um óptimo treinador. Mas para isso precisa de ser primeiro um grande condutor de homens. Nesse particular, alguns episódios valencianos (o modo como lidou com João Pereira e Alvaro Negredo; e se deixou enredar em guerras que não eram suas; a perda progressiva do balneário; o fecho sobre si mesmo...) sugerem que Nuno tem muito que aprender.

Viva a 'silly season'!
Campeonato com 20 à imagem da Premier e da Bundesliga? OK. Em vez de quatro ou cinco, passamos a ter seis ou sete jogos por jornada com pouco ou nenhum interesse. Faz todo o sentido. Viva! Slimani em férias castigado com um jogo de suspensão seis meses depois da cacetada a Samaris. Faz todo o sentido. Viva! Antigo vice- presidente do Sporting armadilha árbitros por sua conta e risco, já que para tribunal Sporting clube tem rigorosamente nada a ver com o caso. Faz todo o sentido. Viva! Juíza dá dez dias a Benfica para melhorar a geringonça judicial (alvo: Jorge Jesus) mais indigna e ridícula da história do clube. Faz todo o sentido. Viva! Pinto da Costa diz que querem matar o FC Porto (quem?) mas não vão conseguir (quem?) e Luís Figo (porquê?) diz que Pinto da Costa deve sair. Faz todo o sentido. Viva a silly season!"

André Pipa, in A Bola

1 comentário:

  1. Nuno e Renato a mesma luta? O vinagre com o azeite não se mistura. Será que não sabem disso?

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