"A fartura de jogos e de entre-jogos está a provocar-me um acrescido distanciamento do futebol televisionado. De tal monta que sou cada vez mais selectivo, evitando passar os olhos por soporíferos envoltos em excipientes e adjuvantes futebolísticos. Esta overdose tem o risco de conduzir ao mesmo efeito da inflação em relação à moeda: o de, por tanto excesso, se desvalorizar o seu valor.
A não ser - para mim, evidentemente - quando joga o Benfica. Porque aí a paixão clubista está bem à frente do gozo que me dá, em abstracto, um jogo de futebol. A minha paixão e o meu acicate é o clube, não obrigatoriamente a guarnição à volta do jogo.
É, por isso, que esgotado o período de fortes emoções da época (este ano foi mesmo até ao fim), costumo «tirar férias» e revigorar-me para a temporada seguinte.
Acontece que este ano, há, a nível internacional, uma acumulação que não deixa interstício temporal fora de «bola à discrição». Vão ser dois meses com o Euro 2016, a Copa América, e, por fim, o desconsolado futebol das Olimpíadas do Rio de Janeiro, desporto dito olímpico, mas que fere à saciedade os ideais que estão na base dos Jogos.
E até ao começo destas competições, lá temos os jogos chamados «amigáveis». Curiosa esta expressão, que, aliás, Bruno Alves caracterizou em Wembley. São também chamados «particulares» ou «não oficiais» (?), outras designações estranhas para bilhetes de ingresso, em regra, pouco particulares ou amigáveis. São jogos entediantes, sem chama, que servem para coleccionar minutinhos de «Internacionalizações» e empolar, por esse mundo fora, o valor de troca de (alguns) artistas."
Bagão Félix, in A Bola
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