"No que respeita a palavra e acção, o desporto - e, em particular, o futebol - evoluiu muito cá no burgo. Nem sempre para melhor, é certo. A 'palavra', com a infindável panóplia de meios para ela se difundir e a variedade de personagens para se radicar no espaço público, é um instrumento de combate e manipulação por excelência. A 'acção', com os múltiplos instrumentos legais, institucionais e corporativos para se expressarem tomadas de posição e decisões em cada momento é um instrumento de reivindicação de interesses e de poderes. Os tabuleiros e os intervenientes são múltiplos. Os desafiadores de outrora pretendem ser os 'estadistas' do presente; os desafiadores de hoje pretendem ser os 'estadistas' de amanhã; os protagonistas alteram-se; os representantes disseminam-se; as instituições remexem-se.
Confuso? É entre palavras e acções que se enquadram denúncias para efeitos disciplinares, procedimentos negociais para a contracção de jogadores e a obtenção de receitas, confrontos com órgãos federativos, processos judiciais para avaliação das condutas de dirigentes e treinadores. É entre palavra e acção que entrará em cena o Direito (desportivo e não só): 'ofertas' legítimas ou não a agentes desportivos; obrigações de correcção e diligência no relacionamento entre esses mesmos agentes; exigibilidade e licitude da supervisão e coordenação dos dirigentes da FPF e da Liga junto de árbitros observadores e delegados aos jogos; esferas de protecção da honra e da reputação de clubes e 'SAD' atingidas por declarações dos concorrentes; averiguação do cumprimento do dever de lealdade dos treinadores no decurso e após a cessação dos seus contratos de trabalho; eventuais responsabilidades pré-contratuais pela frustração das legítimas expectativas das partes envolvidas em negócios potencialmente rentáveis para os clubes.
Confuso? No meio de tanta poeira, feita de gritaria nas televisões e de milhares de caracteres na imprensa escrita, tudo depois se resumirá, no dia próprio, às conclusões do Direito.
PS: O Governo a sair do '4 de Outubro' poderia ter a coragem de criar um Ministério do Desporto - como um ministério para a política e acção desportivas. Para já ficou-se aquém. Já era tempo de, com essa forma superior, assumir a reforma da administração público-institucional nesta área (a começar pelo CND e pelo IPDJ) e corporizar a sério os poderes públicos do Estado, desde a escola até ao alto rendimento. E, com isso, traduzir o que o desporto é para a estratégia de um país."
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