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terça-feira, 12 de maio de 2015

Lopetegui igual a nada

"Pinto da Costa no treino é quase sempre tema de notícia. Filipe Vieira raramente merece essa saliência e, no entanto, as coisas estão a mudar: o que fraqueja no Porto, fortalece no Benfica.

Julen Lopetegui (espero ter escrito bem) demorou duas semanas a descobrir uma oportunidade para desancar Jorge Jesus por causa da troca de palavras que protagonizaram no final do Benfica - FC Porto, ainda no relvado, num quadro de temperaturas elevadas e que, em rigor, só eles conhecem. Se é que sim, na medida em que o incidente foi por ambos desvalorizado nas conferências de Imprensa que se seguiram.
Só agora, depois da vitória com o Gil Vicente, Julen resolveu confessar, à boleia de pergunta aparentemente inofensiva, que perdeu o respeito por Jesus, por este, alegadamente, ter feito uma comunicação distorcida daquilo que, afinal, não passou de 'conversa da treta', em face da nenhuma relevância que lhe atribuíram, na tarde de 26 de Abril.
A reacção do treinador portista é deselegante ao atacar um colega de profissão e desconchavada quanto à argumentação de suporte, revelando uma personalidade zangada com o mundo e, sobretudo, mal informada sobre a história do futebol português, suspeitando-se que na altura da contratação lhe terão contado apenas uma versão resumida e conveniente. De aí o tom petulante com que se apresenta ao trabalho numa realidade futebolística que desde o início desconsiderou, proclamando uma competência superior que a prática não justificou.

Objectivamente, Lopetegui está à beira de encerrar a sua primeira época no FC Porto com a total ausência de troféus, o que, a confirmar-se, representa um birombo na organização portista, vista até aqui como inexpugnável, de uma solidez à prova de bala, mas claramente distante do que era. Razão pela qual o treinador basco tem sido obrigado a expor-se mais do que devia, um pouco à semelhança de Paulo Bento no Sporting, com o desfecho que se conhece. É, no mínimo, estranho, por indicar que dessa endeusada estrutura pouco resta além das esporádicas ironias presidenciais; e é isso que começa a doer aos adeptos do emblema do dragão, aperceberem-se que depois de uma temporada falhada, com a desculpa de ter sido de transição (pelo menos Paulo Fonseca ergueu a Supertaça), outra se lhes depara despida de títulos, servindo-se habilmente Lopetegui do seu percurso na Champions, em contraponto ao eclipse de Jesus, para tentar esconder o que toda a gente vê: o FC Porto continua a transitar, apesar do forte investimento no plantel com o objectivo de incomodar a águia no seu voo ascendente.

Jesus ficar a saber que Lopetegui não gosta dele, deve ser para o lado que dorme melhor. Expressões como «manto protector» ou «eco social», além de desculpas de ocasião, servem para sublinhar a renitência de Lopetegui em assumir a abundância de erros que tem praticado, e, provavelmente, a impreparação para treinar em clube de topo. Deu-lhe jeito, por isso, que Mourinho, uma pessoa com «bastante experiência» e que «costuma acertar bastantes vezes no que diz», tivesse apoiado a sua continuidade no dragão. Creio, até, que devia servir-lhe de exemplo. Fica bem aprender com quem sabe mais, não obstante o professor ser português e o aluno espanhol. Paciência, é que o primeiro chegou em Fevereiro de 2002 em substituição de Octávio Machado e disse, mais ou menos isto: não me façam exigências, mas no próximo ano seremos campeões. Foram no próximo e no seguinte, e conquistaram a Taça UEFA e a Liga dos Campeões. Lopetegui chegou no verão de 2014, carregou uma rica equipa e não só nada disse como nada ganhou...

O problema central é mais profundo e complexo e passa ao lado dos destemperos de Lopetegui e dos enganos de Jesus. O que está em cima da mesa é o que me parece ser a irreversibilidade de uma mudança de ciclos, temida por portistas e perseguida por benfiquistas. Talvez não se note, mas existe. Pinto da Costa no treino é quase sempre tema de notícia. Luís Filipe Vieira raramente merece essa saliência e, no entanto, as coisas estão a mudar: o que fraqueja no Porto, fortalece no Benfica."

Fernando Guerra, in A Bola

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