"Está na moda um jogador transferido não festejar um golo que venha a marcar contra a sua anterior equipa. É, para alguns, uma espécie de amálgama de virtudes: a gratidão, o profissionalismo, o pudor. Os adeptos da nova equipa são compreensivos e os da anterior não sibilam perante tal 'deslealdade' de se lhes marcar um golo.Sobretudo quando ainda estão frescos na memória os óculos tão apaixonados que davam ao emblema do precedente clube na sua suada camisola. Em suma, um comportamento cauteloso qb e uma atitude pc. Todas as semanas temos exemplos empolgantes destes comoventes resguardados. Confesso que sou indiferente a estas expressões de 'bigamia' clubista. Um fingimento, no meio de tantos, que se vêm observando no futebol!
Caso diferente é o do golo marcado por um jogador ao seu clube contratual que, antes, o havia emprestado ao clube oponente. Neste caso, compreendo o recato da coreografia do golo, entalado que está a jogador entre o patrão de facto. Mas daí até se insinuar 'falta de profissionalismo' do atleta que marca ao seu clube de origem vai a distância entre desportivismo e um insuportável facciosismo.
No domingo o excelente jogador Tozé emprestado pelo Porto ao Estoril foi encarregado de marcar um penalty. Decisão destemida e, ao mesmo tempo, venenosa. Marcando - como foi o caso - uma traição para os mais sectários; falhando, um atoarda de suspeições ainda que injustas. Por esta e por outras razões, deveria haver duas regras: 1) jogador do clube 'comodatário' não joga contra o clube 'comodatário'; 2) deveria haver um limite para estes 'comodatos'. Acabavam-se as dúvidas e suspeições."
Bagão Félix, in A Bola
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