"Quem como eu, por dever de ofício, leia todos os jornais todos os dias, terá eventualmente reparado que nos últimos tempos se intensificaram na Imprensa, para designar o Benfica, as expressões 'os encarnados' ou a 'equipa encarnada'. E o mais curioso é que tais expressões até já contagiaram algumas publicações, impressas ou na Internet, afectas ou próximas do Benfica ou Benfiquistas. Os pequenos vícios, como os grandes, apanham-se por involuntário contágio.
Vermelho e encarnado são sinónimos por terem significado aproximado. Em rigor não querem dizer exactamente a mesma coisa. O vermelho é a cor do sangue vivo, o encarnado é a origem, a cor do sangue, que dá à carne a cor encarnado.
Ora, o 'encarnado', para designar o Benfica, em função da cor das camisolas, surgiu como uma imposição ideológica e uma carga censória. O Clube, os dirigentes, atletas e adeptos Benfiquistas eram os 'vermelhos' até que a Censura e a manipulação salazarista, nos pós-guerra mundial de 1939-1945, proibiram a referência 'vermelho' para designar o Benfica, impondo a expressão 'encarnado'. Do mesmo modo que proibiu o hino original e oficial do Clube, 'Avante, Avante pelo Benfica' que, no vazio criado, ceio pouco a pouco sendo substituído pelo belíssima canção 'Ser Benfiquista' interpretada por Luís Piçarra. Houve nestes casos uma manifesta intenção de escamotear a matriz popular do Benfica que o distinguia, e distingue, dos clubes de barões de Alvalade e de lordes da Foz.
Nos tempos difíceis que vivemos, o Benfica é uma imensa família de gente do povo que neste grande Clube procura, em colectivo, uma força solidária que transmita o amparo de algum calor humano. Os vermelhos nunca estão sozinhos perante a tormenta. Como dizia o hino original dos Vermelhos,
'Todos por um, eis a divisa'."
João Paulo Guerra, in O Benfica
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