"1. Houve, in illo tempore, o Costa do Castelo que valeu saudáveis gargalhadas. Depois surgiu o Costa do Marfim, incapaz de explicar conversas gravadas e encomendas estranhas vindas de África. E também houve o Costa de África, que tratava o criado por Bijagós. Hoje em dia o Bijagós do Costa do Marfim, nos intervalos de mentir em tribunal e de oferecer cargas de porrada a jornalistas, entretêm-se a fazer relatórios médicos. Martelados como é hábito na casa. Eu sou daqueles que deseja sempre saúde aos seus inimigos. Mesmo quando, mais do que saúde, o que lhe falta é carácter.
2. Algum génio bizantino resolveu levar para o Estádio da Luz umas amostras de bandas filarmónicas ligadas a colunas gigantes de forma a que cada vez que o povo começasse a gritar «Portugal! Portugal!» pudesse abafar as vozes com modinhas e fadinhos tão pacóvios como a inteligência de tal iluminária. Para ser igual à Festa do Pau, lá da minha vizinha Assequins, só faltou um bacalhau pendurado no lato do pau de sebo à espera do valente que por ele trepasse a justificar a iguaria. Há gente que gosta de barulho. Sinal que dentro das suas cabeças confusas nunca se ouviu o som suave do silêncio.
3. O barulho também faz eco contínuo no cérebro daquele jovem que ainda não se decidiu se quer ser jogador, treinador, presidente ou roupeiro do seu clube. Por isso grita. E cada grito é mais alto do que o anterior. Grita tanto que já nem se ouve a si próprio. No dia que parar para se ouvir, achar-se-á ridículo. Tal como nós o acharmos."
Afonso de Melo, in O Benfica
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