"Tal como em Outubro de 2013, em Março de 1975 o Benfica estava em Paris, cidade que faz parte da sua enorme história. Vitória sobre o FC Porto, por 5-1, e Eusébio a marcar o seu último golo com a camisola 'encarnada'.
«PARIS sera toujours Paris», cantava Maurice Chevalier. Voltemos a Paris. Voltemos a Paris como o Benfica volta sempre, cidade encantadora para o Futebol 'encarnado', cidade maravilhosa para Eusébio, cidade que ficará para sempre ligada à história do mais famoso Clube português.
Em Março de 1975, tal como em Outubro de 2013, o Benfica estava em Paris. Jogaria no Estádio Columbes um particular contra o FC Porto. Nesse tempo ainda havia entendimento, quem sabe se mesmo amizade. Foi um tempo antes de o FC Porto ser ocupado pela inveja e a pequenez de gente mesquinha e inculta.
Eusébio ainda não o podia saber, mas marcaria nesse jogo o seu último golo com a camisola do Benfica. Seguiria depois a sua vida nos Estados Unidos do Futebol nascente, regressando episodicamente a Portugal para jogar pelo Beira-Mar e pelo União Tomar. Mas já lá vamos.
Nesse mesmo ano, a 30 de Agosto, o Benfica já estivera em Paris e Eusébio com ele. Outro particular, dessa vez com a selecção principal de França. Derrota, por 2-4 com Eusébio a marcar um golo. Talvez por isso continue a dizer: «Sempre fui feliz em Paris».
Aí recebeu duas botas de ouro, a última já depois de ter ultrapassado os 30 anos.
O Benfica seria Campeão nessa época. Tinha uma linha avançada temível, embora Eusébio, a conta com lesões, tenha falhado demasiados jogos. Fora à Final da Taça de Portugal e, na Taça das Taças, sujeitou-se a uma eliminação bisonha à conta do PSV Eindhoven.
Uma folha seca para a história
VEJAMOS, para já, como jogaram as equipas no Estádio Columbes, cheio de emigrantes, nesse tempo exacerbado de uma liberdade portuguesa ainda tão jovem.
BENFICA - José Henrique; Bastos Lopes, Malta da Silva, Humberto Coelho (depois Messias) e Barros (depois Artur); Toni, Eusébio (depois Vítor Baptista) e Simões; Moinhos, Artur Jorge (depois Móia) e Diamantino.
FC PORTO - Tibi; Nino (depois Rolando), Teixeira, Vieira Nunes e Gabriel; Marco Aurélio (depois Rodolfo), Simões (depois Seninho) e Peres; Laurindo (depois Flávio), Gomes e Cubillas.
Belas equipas. Esperava-se um confronto equilibrado. Não foi.
O árbitro era francês, como está bem de ver. Chamava-se Bancourt.
Aos 10 minutos já o Benfica vencia: golo de Artur Jorge. Depois, aos 17 minutos, Eusébio tomou conta do estádio e do calor das bancadas. Como sempre o fizera ao longo de uma carreira incrível. Livre directo à entrada da área do FC Porto. Eusébio corre para a bola no seu estilo inconfundível, ameaça o pontapé feroz e certeiro. Mas à última hora decide diferentemente. Abranda o «sprint», aplica o pé por debaixo da bola, fá-la subir sobre a barreira, sobre o guarda-redes Tibi, e cair em folha seca para lá da linha de golo, refugiando-se no conforto das redes.
Golo lindo. Golo de Eusébio! O último pelo Benfica, embora ele não o soubesse, embora ninguém o soubesse. Talvez tivesse, nesse caso, sido comemorado de outra forma, mais íntima, mais sensível.
Só que o jogo não estava para isso. O Benfica dominava por completo o seu adversário e prometia mais golos. Teve-os nos pés, mas não cumpriu a promessa. O seu golo seria único, irrepetível.
Até ao intervalo, o Benfica marcaria mais dois golos: por Humberto Coelho (23 minutos) e Toni (34 minutos). 4-0 em 45 minutos! Até onde poderia chegar a goleada ameaçadora, já concreta?
Tudo mudou no segundo tempo. O Benfica abrandou o ritmo, as substituições em cadeia confundiram a clareza do jogo.
Além disso, Eusébio não regressou para a última metade do confronto.
Também ainda não o sabia, mas só voltaria a jogar pelo Benfica mais uma vez, em Junho, em Marrocos, contra uma selecção de jogadores africanos. Um jogador chegava ao fim, nasceria o mito.
O FC Porto equilibra-se e equilibra a contenda. Gomes reduz para 1-4, aos 60 minutos, mas a desvantagem é demasiado larga para que ainda possa ser dobrada.
Aos 81 minutos há um penálti contra o FC Porto. Eusébio já não está, Humberto Coelho é chamado a marcar e faz o 5-1. A vitória é gorda, indiscutível.
Para o Benfica, como para Maurice Chevalier, «Paris sera toujours Paris»."
Afonso de Melo, in O Benfica
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