"A modorra da banalidade instalou-se no universo dos comentadores desportivos. Estão todos ocupados em falar de assuntos sérios e de índole soberba e não abordam aquelas coisitas pequenas e inoportunas que ajudam a decidir campeonatos e a fazer de párias heróis.
Assim, não se pode incluir no comentário desportivo o facto de o Sporting andar há três das quatro jornadas a marcar golos precedidos de fora de jogo e a beneficiar de penáltis que não são assinalados aos seus adversários. É mais prático endeusar um Montero que está a aprender a aproveitar as linhas de fora de jogo que se calculam entre a miopia do fiscal de linha, a cegueira do árbitro, a surdez dos comentadores e a histeria daquele novo delegado sportinguista. Do mesmo modo, não convém falar do facto de o FCP não ter, em quatro jornadas, um único jogo em que não tenha beneficiado de um golo irregular ou de um penálti inexistente. Tudo isto é assunto tabu ou, pelo menos, varrido para debaixo do tapete da já proverbial bajulação bacoca, parola e subserviente com que o jornalismo desportivo insiste em limpar a imagem de agentes desportivos que contribuem diariamente para que tenhamos a corrupção a assentar arraiais ao lado da incompetência.
Tal como, em Portugal, ninguém comenta uma interessante investigação feita por jornalistas franceses, no programa ‘Cash Investigation’, do Canal France 2, que muito nos dizem sobre a metodologia dos negócios da 'estrutura perfeita' do clube da Torre das Antas e o tristemente famoso agente D’Onofrio, com declarações esclarecedoras de Maurizio Delmenico, administrador da Robi Plus.
De nada disso convém falar, a nada disso convém dar tempo de antena e, com o tempo, ainda nos vão querer convencer de que nada disto aconteceu."
Pedro F. Ferreira, in O Benfica
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