"Longe vão os tempos em que cada manhã de pré-temporada trazia com ela a sofreguidão de conhecer as capas dos jornais, para saber quem entrava, quem podia entrar, quem saía, ou quem podia sair, do plantel do Benfica.
Eram tempos em que a imprensa desportiva mantinha alguma respeitabilidade. E eram tempos em que as “notícias” encomendadas por “Agentes FIFA” (esses parasitas do Futebol) não tinham ainda tomado conta das páginas publicadas – que, pouco a pouco, se foram transformando numa plataforma de interesses negociais e especulações várias.
Hoje, uma espécie de casamento de conveniência entre esses interesses e a aflitiva necessidade de vender papel (agravada pela cruel crise económica em que vivemos), ditou uma verdadeira hemorragia especulativa, que primeiro perdeu a credibilidade, e depois perdeu a piada. Até porque a distância para a mentira mais desavergonhada passou a ser demasiado curta, e, consequentemente, mais fácil de ultrapassar.
Para este estado de coisas contribui também a gritante falta de cultura desportiva do nosso país - capaz de empurrar um Tour de France, um Wimbledon, uma Fórmula 1, um título europeu de Hóquei, um Mundial de Sub-20, ou até mesmo uma Final da Champions, para notas de rodapé face a um qualquer Herrera, Quintana ou Tejada, que ninguém conhece, que quer ir para onde lhe paguem mais, mas que é impingido como objecto jornalístico primário a um povo com coisas bem mais graves com que se preocupar.
Creio que esta lógica comunicacional tem os dias contados. Falando por mim, devo confessar que já nem compro diários desportivos. Leio apenas o nosso “O Benfica”, que além dos artigos de opinião dos meus ilustres parceiros, fornece informação sobre todas as modalidades e escalões de formação do Clube. De resto, procuro na Internet aquilo que me interessa, esperando pelo fim do defeso futebolístico para conhecer os plantéis definitivos. Isto, enquanto vou lamentando a morte anunciada de uma imprensa desportiva que, em tempos, me ajudou a crescer."
Luís Fialho, in O Benfica
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