"Atendendo à história recente do futebol português, e olhando para os nossos dois principais adversários, podemos encontrar exemplos, por um lado, daquilo que não se deve fazer para ganhar, e por outro, de quase tudo o que pode fazer para perder. Deixando por agora os meios subterrâneos utilizados pelo rival nortenho, que lhe sustentaram o crescimento até ao patamar competitivo onde agora se encontra, mas que não fazem parte da nossa cultura de desportivismo, centremo-nos no caminho seguido pelo vizinho da 2.ª Circular, que o levou a um buraco onde decerto nenhum benfiquista gostaria de estar.
É curioso desde logo verificar como, numa década, a correlação de forças entre Benfica e Sporting se inverteu. Em 2022 o Sporting vinha de dois títulos em três anos, e o Benfica não festejava desde 1994. O nosso rival lisboeta apresentava-se ao País como o pináculo da modernidade, com a sua gestão empresarializada, e com um novo estádio prestes a ser inaugurado. Do lado de cá tínhamos a maior crise da nossa história (não só de resultados, mas de identidade, e até de dignidade), e quase perdíamos a esperança.
O que foi feito na nossa casa merece o realce que a memória de muitos por vezes parece esquecer. Do outro lado foram cometidos erros que não nos interessa escalpelizar, tirar algumas ilações.
A primeira das quais é a de que um clube de grande dimensão social e mediática, jamais poderá ser gerido de fora para dentro (e no Sporting tal sucedeu com demasiada frequência). A segunda é a de que qualquer minoria organizada de sócios, por muito fervilhante que seja o seu amor clubista, não pode nunca representar mais do que a mera soma aritmética desses mesmos sócios.
No Benfica, felizmente, os dirigentes são para dirigir (sujeitando-se, no fim de cada mandato, ao escrutínio dos sócios), o treinador para treinar, os jogadores para jogar, e as claques para apoiar. Qualquer inversão destes termos traria aquilo que, com sentimentos de piedade, vemos de outro lado da rua."
Luís Fialho, in O Benfica
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