"É curioso. Nem a FIFA nem o Comité Olímpico internacional têm a coragem de enfrentar uma questão tão importante. O futebol continua a pairar em redor dos Jogos como se deles não fizesse parte. A coisa é tão óbvia que, ontem, começaram os jogos de futebol feminino, sem que tivessem começado os Jogos Olímpicos. Os hipócritas dizem que não há razão para alarme, afinal o futebol até abriu os Jogos. Que o futebol abriu, é uma verdade indesmentível, mas não se sabe bem o quê, porque os Jogos só abrem oficialmente amanhã à noite.
Terá sido uma abertura oficiosa que até teve a presença oficializada do inefável Blatter. A verdade é que o caso não dignifica o futebol, que vai andar por todas as terras britânicas, da Escócia ao País de Gales; nem o espírito olímpico que, em matéria de futebol, é mais justamente o espirro olímpico.
O problema é antigo. Vem dos tempos de Samaranch e de Havelange. Passou, depois, para o cinzento belga de Jacques Rogge e para o olímpico azedume de Blatter. Enquanto estas figuras perdurarem nos seus postos, já se sabe que nada acontecerá.
Mesmo depois, não me parece que possa haver grande esperança. Rogge abandonará o comité olímpico internacional depois dos Jogos de Londres, mas sabe-se pouco do seu provável sucessor germânico: Thomas Bach.
Quanto a Joseph Blatter estará de pedra e cal e se o sucessor for Michel Platini, também não deverá trazer grandes novidades.
E, assim, o futebol continuará fora de jogo, jogado por selecções nacionais criadas a bel-prazer de cada país e à luz de um filosofia de escolha verdadeiramente caótica."
Vítor Serpa, in A Bola
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