Últimas indefectivações

sexta-feira, 9 de março de 2012

O que eu quero dizer ao Rodrigo

"Saímos da Luz de coração apertado porque a vantagem se transformou em desvantagem, pouco expressiva mas nem por isso menos preocupante, sobretudo numa fase tão crucial do Campeonato. Foi um grande jogo de futebol e o Benfica merecia ter ganho. Mas a verdade é que não ganhou. E isso dói e deixa-nos frustrados, principalmente porque se registaram imperdoáveis erros de arbitragem.

A história repete-se. Quando jogam contra o Benfica, todas as equipas se agigantam, porque a adrenalina sobe e a responsabilidade aumenta. Até o Porto, que tem feito uma temporada sofrível e errática, conseguiu estar na Luz ao nível das suas melhores noites. Porque tinha o Benfica pela frente e estava a jogar na casa mítica do adversário, onde tudo adquire um significado redobrado.

Vi muita tristeza nos rostos de quem foi para a Luz com o coração a transbordar de esperança. Eu sei que nada está perdido, mas também sei que ficou um pouco mais longe de estar ganho, já que, quem vence, fortalece o ânimo e agarra-se com unhas e dentes à vantagem.

Não nutro especial simpatia pelos cronistas que transformam familiares em personagens dos seus textos, mas aqui concedo-me uma breve excepção. Tenho um neto chamado Rodrigo que é um ferrenho benfiquista, que frequenta uma escala de Futebol e que está sempre ansioso por ver o seu homónimo em campo. Os seus olhos brilham quando o outro Rodrigo joga, exibe o seu excepcional talento e consegue marcar. Mas, desta vez, isso não aconteceu. O meu Rodrigo continua a acreditar que o outro Rodrigo, o nosso brilhante Rodrigo, vai ser mesmo campeão. E eu também. Mas há alturas em que as certezas de um avô não chegam para dar alegria a um neto que só vê águias voando em círculos no céu dos sonhos por cumprir.

O Benfica tem o melhor grupo de jogadores do Campeonato (desculpem mas nunca da palavra 'plantel'), um grande treinador e uma poderosa base de apoio espalhada pelo País e pelo Mundo. É aí que reside toda a diferença. Desculpem lá, mas tem de ser!"


José Jorge Letria, in O Benfica

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