"Luís Filipe Vieira estava convencido de que, finalmente, o Benfica controlava o “sistema”. Não controla. O apoio à candidatura de Fernando Gomes à presidência da FPF foi dado no pressuposto de uma lógica de dissidência.
Luís Filipe Vieira apoiou o ex-administrador do FC Porto e, por arrastamento, o “ex-futuro” nomeador dos árbitros (Vítor Pereira). Adivinhava-se um compromisso tácito: ausência ou moderação nas críticas supostamente em troca de nomeações coerentes e arbitragens não penalizadoras. Parecia estar tudo a correr maravilhosamente, tão bem que até se falou de “levar o Benfica ao colo”, quando -- num momento crucial do campeonato -- apareceram as primeiras arbitragens comprometedoras, coroadas com um golo do FC Porto obtido de forma irregular (fora de jogo descarado de Maicon).
Num ápice, o “compromisso tácito” transformou-se em “compromisso trágico”. Foi a gota de água e a prova de que afinal o (velho) “sistema” ainda funciona e está de boa saúde.
Fernando Gomes não se arrisca. Nem como presidente da Liga nem como presidente da Federação. Gere os silêncios, independentemente do grau de ruído que se manifeste em seu redor.
O futebol português nos últimos anos consolidou a caracterização de matriz oligárquica através do poder de certas entidades, pela influência de rostos visíveis mas também de eminências pardas, especialistas nos jogos de bastidores. Foram algumas dessas eminências pardas que asseguraram a eleição de Fernando Gomes como presidente da FPF, mais ou menos indiferentes às alterações suscitadas por força da lei.
É neste quadro que emerge uma figura, que teve o alento e a perspicácia de construir um monopólio à custa da fraqueza dos clubes e de quem lhe atapetou o caminho.
A agência de viagens, os adiantamentos feitos aos clubes à luz dos acordos em torno dos direitos televisivos, o posicionamento accionista junto das principais SAD do futebol português, as alavancas do marketing e da publicidade, as dinâmicas dos patrocinadores e a marcação abundante no território da comunicação social fazem parte da mesma lógica de poder. Quem não perceber isto, não percebe nada.
Não é fácil contrariar a força tentacular e, neste momento, principalmente num quadro de crise geral e de contracção do tecido económico também no futebol, só o Benfica poderia arriscar-se a fazê-lo.
Talvez o Benfica não queira afinal um sistema justo, mas apenas um sistema protector. A verdade, porém, é que, seja por uma razão, seja por outra, o Benfica nunca vai conseguir impor o contraciclo se se dispuser a alimentar este “jogo de sombras”.
A negociação dos direitos televisivos não pressupõe apenas um acordo de natureza financeira. O que está em causa, igualmente, é a lógica de poder que esteve na base da afirmação do seu grande rival.
É verosímil que o Benfica ainda se ponha de acordo com a Olivedesportos, mas está visto que este “sistema” não lhe serve.
Luís Filipe Vieira não pode deixar de ter consciência disso. Mas... terá coragem e fôlego para alterar, finalmente, os pressupostos que estão na base do “sistema” do futebol português?"
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