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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O aviso trágico de Port Said

"A primeira vez que li sobre a cidade de Port Said foi no livro 'O Egipto', de Eça de Queiroz, uma obra de juventude que revelava já o extraordinário talento literário e jornalístico daquele que viria a ser autor de 'Os Maias'. Port Said, num tempo em que se viajava pouco, devido às dificuldades com os transportes, ainda lentos e arcaicos, era um nome envolvido pelo mistério das paragens exóticas.

Desta vez o nome ressurgiu associado a uma das maiores tragédias de história do Futebol, com 74 óbitos registados em consequências da violência com que a equipa visitante, o Al-Alhy, treinado por Manuel José, mesmo perdendo, foi tratada pelos adeptos enfurecidos do Al-Masry, que cercaram a mataram pessoas totalmente indefesas nos balneários, no relvado e nas bancadas.

Este quadro de violência extrema só pode ser entendido se tiver em fundo a profunda tensão política, social, económica e religiosa que envolve um país de história milenar, com uma população de mais 80 milhões de habitantes.

Muito boa gente, no chamado Ocidente, convenceu-se de que a 'primavera árabe' iria franquear as portas a saudáveis e sustentáveis democracias de tipo europeu ou norte-americano. Esqueceram-se, porém, de que a realidade política e religiosa dessas países nada tem a ver com a nossa e também de que, na sombra, nunca deixaram de actuar, de forma sistemática e experiente, as forças do Islão radical, prontas a chegar ao poder por via eleitoral para depois imporem todas as restrições resultantes de uma leitura fundamentalista do Corão.

Foi o choque dessas forças com as restantes que deu origem a uma tragédia como a que ensombrou Port Said e a história do Futebol. Quem quer dar dimensão mediática à violência, escolhe, em regra, grandes espaços como os estádios de Futebol para que a mensagem se globalize e chegue a todo o Mundo. Foi o que aconteceu e poderá voltar a acontecer noutros países com idênticos problemas, caso não sejam tomadas a tempo as medidas adequadas."


José Jorge Letria, in O Benfica

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