"O tema já foi levantado nestas páginas pelo Manuel Arons de Carvalho, mas parece-me oportuno trazê-lo aqui de novo.
Sabemos que os novos tempos são marcados por um mercantilismo radical, e que a imagem (de pessoas, de países, empresas ou clubes) é hoje explorada até à exaustão.
Entende-se pois que os equipamentos alternativos sejam uma forma de rentabilizar a imagem dos clubes, traduzida, em grande medida, nas suas camisolas. A utilização de cores, eu diria, criativas, é pois um mal, não só aceitável, como necessário. Já o exagero nessa utilização me parece mais difícil de compreender.
Um destes dias assisti pela televisão a um Marselha-Arsenal, da Champions, e confesso que até aos minutos finais senti dificuldades em interpretar o jogo, pois o Arsenal sendo vermelho, surgia vestido de azul, ao passo que o Marselha, sendo azul, equipava estranhamente de vermelho. Na mesma competição, também não percebi porque motivo o Benfica não equipou de vermelho nos jogos de Bucareste e de Basileia, pois não creio que a nossa cor tradicional perturbasse a necessária distinção entre as equipas em campo. Recentemente, até no Hóquei em Patins, e em pleno pavilhão da Luz, deparei com um Benfica vestido de amarelo(?), justamente na primeira partida que disputou esta época.
A paixão por um clube é algo difícil de racionalizar, e nessa medida os símbolos são o que resta de um desporto marcado por grande volatilidade de atletas e técnicos (outrora figuras geradoras de afectos e fidelidades, de que o nosso Eusébio terá sido o mais expressivo paradigma). Por este motivo, entendo que as camisolas, assim como os emblemas, são algo que não podemos tratar com ligeireza, sob pena de empurrar o objecto das nossas paixões para o espaço de uma mera abstracção.
Há ocasiões suficientes, creio, para que a necessidade de utilizar equipamentos alternativos se possa cruzar com a oportunidade de os mostrar ao público, rentabilizando-os. Ir para além disso, parece-me perigoso e contraproducente."
Luís Fialho, in O Benfica
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