"Parece ter vindo para ficar, e por mais que a tentemos esquecer, ela não nos larga. Falo da profunda crise económica e financeira em que o País, e pelo menos parte da Europa, estão mergulhados, e que ninguém sabe ao certo até onde nos vai levar.
Não cabe aqui dissecar as suas origens, encontrar os culpados, ou discutir as melhores formas de a combater. No âmbito deste espaço, interessa sobretudo perceber que efeitos directos ou indirectos pode ela trazer ao mundo do futebol, e particularmente ao nosso Clube. Interessa também saber o que podemos fazer para atravessar este período com o menor dano possível, sabendo-se que, aconteça o que acontecer, o mundo não irá acabar - e o futebol também não -, existindo, apesar de tudo, um futuro para além da densa escuridão deste tempo presente.
Enquadrando o panorama económico-financeiro dos principais clubes portugueses no actual contexto de crise, ressalta desde logo à vista um elevado nível de endividamento, em larga medida ainda resultante dos efeitos da construção dos estádios do Euro-2204. A recente diminuição das taxas de juro por parte do Banco Central Europeu pode ser uma boa notícia relativamente a esses Passivos. Contudo, a falta de liquidez no sistema bancário, e a consequente dificuldade na obtenção de crédito, vai provavelmente obrigar-nos a rever algumas práticas, desde logo quanto ao modelo de abordagem ao mercado de transferências que tem sido genericamente seguido ao longo dos últimos anos.
Busca de talentos
Sem crédito, não há investimento, pelo que é natural que se torne muito mais difícil e clubes como o Benfica desenvolver uma política de contratações alicerçada na busca de talentos sul-americanos para valorização e venda, como aquela que tem sido seguida, com sucesso, nos anos mais recentes. Para dar alguns exemplos, poderia mencionar nomes como Di Maria, Ramires (já vendidos com imponentes mais-valias financeiras e desportivas), Cardozo, Gaitán, Bruno César ou Garay (entre aqueles que constam do nosso plantel, e cuja cobiça dos mercados garante largo retorno no caso de eventual cedência). Neste conjunto aleatório de jogadores está somado um investimento de mais de 40 milhões de euros, habilmente tornado possível e concretizado pela sagacidade dos dirigentes benfiquistas, mas que nas actuais circunstâncias, e com as crescentes dificuldades de acesso ao crédito, dificilmente poderemos ver repetido. Esta será pois uma das mais prováveis consequências da crise financeira em clubes como o Benfica, a qual irá obrigar a recentrar a nossa política desportiva em parâmetros alternativos - nomeadamente num melhor aproveitamento dos jovens oriundos da formação (e já vamos vendo alguns casos, como Nelson Oliveira, Miguel Vítor, David Simão, Luís Martins, Ruben Pinto ou Roderick), e provavelmente também num regresso ao mercado nacional, e à aposta em jogadores afirmados em território doméstico, coisa que, embora de forma ainda tímida, também já se vai verificando (vejam-se por exemplo, as recentes apostas em Jardel, ex-Olhanense, Artur Moraes, ex-Sp.Braga, Mika, ex-U.Leiria, e André Almeida, ex-Belenenses).
Tempos difíceis
Para além de uma diminuição da capacidade de investimento, também as receitas de bilheteira irão, necessariamente, sofrer quebras acentuadas. Por muito que os benfiquistas amem o seu clube, teremos de estar preparados para, nos próximos tempos, ver mais cadeiras vazias no nosso estádio (...e nos restantes) do que aquilo a que estávamos habituados. A situação actual obriga muitos portugueses a prescindir das despesas não essenciais, e por muito que o Benfica, com as vitórias que todos esperamos, constitua uma preciosa vitamina emocional para ajudar a ultrapassar um quotidiano extremamente complicado, a verdade é que, para muitos de nós, a ida ao estádio terá de deixar de ser uma rotina para passar a ser uma excepção. É natural que as receitas de quotização apresentem igualmente alguma quebra, pois também nesse caso, a depauperada carteira de muitos benfiquistas não deixará, infelizmente, muitas opções.
Por fim, mas não menos importantes, há que ponderar uma inevitável diminuição dos patrocínios, resultante do contexto difícil que, de igual modo, enfrentam muitos dos nossos parceiros comerciais. O próximo ano será de forte recessão, sendo que a publicidade é naturalmente uma das primeiras rubricas a sentir-lhe os efeitos.
Por tudo isto, mais do que nunca, a nossa equipa de futebol tem uma acrescida responsabilidade nas suas costas. É a ela, em primeiro lugar, que cabe atenuar (com vitórias, títulos, entusiasmo, valorização competitiva e atracção do público) todo este elenco de dificuldades que o horizonte próximo vai inevitavelmente colocar no nosso caminho."
Luís Fialho, in O Benfica
Não cabe aqui dissecar as suas origens, encontrar os culpados, ou discutir as melhores formas de a combater. No âmbito deste espaço, interessa sobretudo perceber que efeitos directos ou indirectos pode ela trazer ao mundo do futebol, e particularmente ao nosso Clube. Interessa também saber o que podemos fazer para atravessar este período com o menor dano possível, sabendo-se que, aconteça o que acontecer, o mundo não irá acabar - e o futebol também não -, existindo, apesar de tudo, um futuro para além da densa escuridão deste tempo presente.
Enquadrando o panorama económico-financeiro dos principais clubes portugueses no actual contexto de crise, ressalta desde logo à vista um elevado nível de endividamento, em larga medida ainda resultante dos efeitos da construção dos estádios do Euro-2204. A recente diminuição das taxas de juro por parte do Banco Central Europeu pode ser uma boa notícia relativamente a esses Passivos. Contudo, a falta de liquidez no sistema bancário, e a consequente dificuldade na obtenção de crédito, vai provavelmente obrigar-nos a rever algumas práticas, desde logo quanto ao modelo de abordagem ao mercado de transferências que tem sido genericamente seguido ao longo dos últimos anos.
Busca de talentos
Sem crédito, não há investimento, pelo que é natural que se torne muito mais difícil e clubes como o Benfica desenvolver uma política de contratações alicerçada na busca de talentos sul-americanos para valorização e venda, como aquela que tem sido seguida, com sucesso, nos anos mais recentes. Para dar alguns exemplos, poderia mencionar nomes como Di Maria, Ramires (já vendidos com imponentes mais-valias financeiras e desportivas), Cardozo, Gaitán, Bruno César ou Garay (entre aqueles que constam do nosso plantel, e cuja cobiça dos mercados garante largo retorno no caso de eventual cedência). Neste conjunto aleatório de jogadores está somado um investimento de mais de 40 milhões de euros, habilmente tornado possível e concretizado pela sagacidade dos dirigentes benfiquistas, mas que nas actuais circunstâncias, e com as crescentes dificuldades de acesso ao crédito, dificilmente poderemos ver repetido. Esta será pois uma das mais prováveis consequências da crise financeira em clubes como o Benfica, a qual irá obrigar a recentrar a nossa política desportiva em parâmetros alternativos - nomeadamente num melhor aproveitamento dos jovens oriundos da formação (e já vamos vendo alguns casos, como Nelson Oliveira, Miguel Vítor, David Simão, Luís Martins, Ruben Pinto ou Roderick), e provavelmente também num regresso ao mercado nacional, e à aposta em jogadores afirmados em território doméstico, coisa que, embora de forma ainda tímida, também já se vai verificando (vejam-se por exemplo, as recentes apostas em Jardel, ex-Olhanense, Artur Moraes, ex-Sp.Braga, Mika, ex-U.Leiria, e André Almeida, ex-Belenenses).
Tempos difíceis
Para além de uma diminuição da capacidade de investimento, também as receitas de bilheteira irão, necessariamente, sofrer quebras acentuadas. Por muito que os benfiquistas amem o seu clube, teremos de estar preparados para, nos próximos tempos, ver mais cadeiras vazias no nosso estádio (...e nos restantes) do que aquilo a que estávamos habituados. A situação actual obriga muitos portugueses a prescindir das despesas não essenciais, e por muito que o Benfica, com as vitórias que todos esperamos, constitua uma preciosa vitamina emocional para ajudar a ultrapassar um quotidiano extremamente complicado, a verdade é que, para muitos de nós, a ida ao estádio terá de deixar de ser uma rotina para passar a ser uma excepção. É natural que as receitas de quotização apresentem igualmente alguma quebra, pois também nesse caso, a depauperada carteira de muitos benfiquistas não deixará, infelizmente, muitas opções.
Por fim, mas não menos importantes, há que ponderar uma inevitável diminuição dos patrocínios, resultante do contexto difícil que, de igual modo, enfrentam muitos dos nossos parceiros comerciais. O próximo ano será de forte recessão, sendo que a publicidade é naturalmente uma das primeiras rubricas a sentir-lhe os efeitos.
Por tudo isto, mais do que nunca, a nossa equipa de futebol tem uma acrescida responsabilidade nas suas costas. É a ela, em primeiro lugar, que cabe atenuar (com vitórias, títulos, entusiasmo, valorização competitiva e atracção do público) todo este elenco de dificuldades que o horizonte próximo vai inevitavelmente colocar no nosso caminho."
Luís Fialho, in O Benfica
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