"E disse «Mas que grandes incompetentes!» De facto, é uma experiência diferente ver jogos grandes do nosso clube na companhia de convivas de clubes adversários.
Sendo inevitável que uma pessoa, se for educada, não se sinta à vontade para vincar as suas emoções como, mais efusivamente aconteceria, se estivesse apenas rodeada de correligeonários, também é verdade que a pluralidade dos sentimentos reunidos acaba sempre por produzir pérolas de sabedoria, expressas em tom de amigável rivalidade.
-Mas que grandes incompetentes! - esta foi, por exemplo, a melhor pérola da plateia na minha noite de segunda-feira.
Como qualquer leitor minimamente qualificado já depreendeu, tratou-se do desabafo de um amigo portista dirigido a um amigo sportinguista. E foi proferido no mesmíssimo momento em que Artur Soares Dias deu por acabados os seis minutos de compensação em Alvalade.
Compreende-se, não é?
Falando sozinho, falou por todos os portistas que devem ter sentido o mesmo desencanto quando tanto, mas tanto, tinham apostado no Sporting e na visita do Benfica a Alvalade para a cerimónia de oficialização dos 11 pontos de atraso e, consequentemente, para a cerimónia da entrega do título.
É que o FC Porto ofereceu ao Sporting para esta jornada um apoio moral fortíssimo ao antecipar por largas semanas o seu confronto com o Nacional, da ronda correspondente, de modo a fazer tremer o Benfica só de pensar que ia entrar em Alvalade com os tais 11 pontos de atraso. Mas, obra do acaso, foi o Sporting quem não aguentou a pressão que era destinada ao rival.
Como se não bastasse, o FC Porto ofereceu ao Sporting - e de borla! - ideias divertidas para o ambiente do jogo. Em redor de Roberto choveram no relvado bolas de golfe, isqueiros, tochas e outros artefactos.
E foi também o FC Porto que inspirou o Sporting a passar no ecrã do estádio, antes do jogo, momentos antigos de golos marcados ao Benfica. É que os inspiradores-amigos tinham feito exactamente a mesma coisa no seu Estádio do Dragão quando o Benfica foi lá há menos de um mês jogar e vencer no jogo da Taça.
Não deixa de ser engraçado verificar que com tantas semelhanças os resultados acabaram por ser iguais. O Benfica venceu no Porto e em Alvalade por 2-0 e jogou as segundas partes com 10 jogadores apesar dos esforços dos comentadores da Sport TV que persistiram ao longo dos dois jogos em dar instruções, um tanto infantilmente, para o relvado.
No jogo no Porto bem disseram que para fazer companhia a Varela «precisavam» de mais alguém com as suas características, no jogo de Lisboa nunca desistiram de acreditar na reviravolta do Sporting, embora se enervassem com o volume de bolas pelo ar despejadas para a área de Roberto. Assim não podia ser.
Quanto ao árbitro do derby não se pode imputar qualquer responsabilidade ao FC Porto.
Artur Soares Dias veio do Porto, mas da cidade do Porto, não do clube, que fique bem claro. E a expulsão de Sidnei foi uma ajuda ao Sporting mas foi uma uma ajuda que veio do Porto e não do Futebol CLube do Porto.
E lá que foi uma ajuda, foi, apesar de não ter resultado. Daí o desabafo do meu conviva portista:
-Mas que grandes incompetentes!
Aceitar-se-ia até a expulsão de Sidnei se Artur Soares Dias tivesse expulsado vinte minutos antes Pedro Mendes, o que acabou por não se verificar.
A defesa da honra leonina está agora a cargo dos portistas com voz activa, unânimes em acusar o árbitro de ter roubado o Sporting miseravelmente. Não ficaram, portanto, satisfeitos com o trabalho do árbitro portuense.
Enfim, foi a maneira que arranjaram de não terem de reconhecer que apostaram com entusiasmo excessivo na incompetência de terceiros. Este azedume portista com o portuense Soares Dias só tem paralelo na crispação de Alberto Cabral, o adjunto de Paulo Sérgio, que aproveitou os seus cinco minutos de fama para conseguir exasperar a ala lúcida de Alvalade.
Até ao final da época ainda vai haver mais um derby, pelos primeiros dias de Março joga-se na Luz a meia-final da Taça da Liga. Desta vez é que vamos levar com o Jorge Sousa. Para equilibrar.
JARDEL estreou-se num derby e passou quase todo o tempo em campo de cabeça atada por causa de um choque com Cristiano que, do outro lado, também se estreou num derby embora longe, muito longe da eficiência do benfiquista.
Enquanto o jogo prosseguia, Jardel esteve cinco minutos a ser assistido fora das quatro linhas. Ou seja, o Benfica não só jogou com 10 toda a segunda parte como também durante um bocadinho não menos emocionante jogou com 9. No entanto, não houve danos a registar à excepção dos 9 pontos com que o central de 24 anos foi cosido na cabeça.
Nove pontos que não dão grande jeito na cabeça de Jardel e que são, precisamente, os mesmos 9 pontos que davam um grande jeito ao Benfica para ultrapassar o FC Porto na tabela. Mas não se pode ter tudo.
NA noite de terça-feira o Chelsea jogou em Copenhaga, para a Liga dos Campeões. À mesma hora, em Lyon, o Real Madrid fazia também o seu jogo, com mais e maiores ingredientes de atracção. Mas felizmente há o zapping. E por breves instantes surge-nos Ramires a lavrar o campo na Dinamarca, para a frente, para trás e para os lados, uma máquina impressionante.
Ramires é um jogador do outro mundo. Foi pena que a crítica portuguesa não lhe tivesse reconhecido as suas capacidades raras. Não é que não tenha sido sempre tratado, enquanto esteve no Benfica, como um jogador muito acima da média. Mas poucos se terão dado conta da real dimensão do seu futebol. Foi um prazer revê-lo.
FOI notícia de jornal que um grupo de adeptos portistas fez pela águia Vitória uma oferta de meio milhão de euros ao seu treinador Juan Barnabé. A ideia seria oferecer a grande ave ao presidente Pinto da Costa. Fariam melhor os mencionados adeptos portistas, em nome da amizade com o Sporting, em terem pegado no meio milhão de euros e oferecê-lo à SAD de Alvalade para que pudessem pagar os ordenados ao Liedson.
HOJE é noite de Europa para o Benfica e para o Sporting. Ontem foi tarde de Europa para o FC Porto que sofreu ainda uns vinte minutos mas seguiu em frente. Há uma certa curiosidade em ver como vão os rivais lisboetas, depois do derby, ressurgir em campo. Mas disso falaremos na próxima quinta-feira."
Leonor Pinhão, in A Bola
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