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sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Sporting: pré-jogo, quando a rotina fica em terra


"Este artigo analisa a importância das rotinas na fase de pré-jogo e os incidentes que marcaram a deslocação do Sporting a Nápoles. É escrito ainda antes do apito inicial e não pretende comentar o resultado, mas sim refletir sobre a forma como as rotinas, ou a sua perturbação, impactam na performance desportiva.
Como primeiro incidente as quatro horas dentro de um avião imobilizado. Esta espera provoca desconforto físico prolongado, em espaço apertado, com circulação comprometida e postura forçada. A isto junta-se a incerteza: vamos ou não vamos? Chegamos hoje ou já é demasiado tarde? Esta combinação de desconforto físico e incerteza é um terreno fértil para aumento dos níveis de stress. São, então, acionados uma série de mecanismos como o aumento da frequência cardíaca, tensão muscular e libertação de cortisol. A ansiedade não nasce apenas do eventual medo, mas também da ausência de controlo.
Ao tempo de espera segue-se uma refeição tardia (após as 22h00). Do ponto de vista cronobiológico, este horário de refeição interfere negativamente na produção de melatonina e altera a arquitetura do sono. O corpo entra num estado de digestão quando o que precisava era de iniciar um processo de recuperação. Uma refeição tardia, aliada à ativação prévia provocada pelo stress da viagem, compromete a transição para um sono profundo e reparador. Mas a perturbação à rotina e processo de preparação não ficou por aqui, a noite foi novamente interrompida por fogo de artifício, símbolo sonoro que não permite o desligar necessário. Sabemos que o sono, especialmente nas fases profundas, é o momento em que se libertam hormonas anabólicas responsáveis pela regeneração muscular e recuperação. É também durante o sono que o cérebro realiza processos de consolidação da memória e de regulação emocional. Um sono fragmentado, encurtado ou de má qualidade afeta diretamente a performance física e cognitiva do dia seguinte, os atletas acordam mais lentos, mais irritáveis e com maior propensão ao erro e também à lesão.
A pré-competição faz-se de rotinas, é na sua repetição que se cria previsibilidade, segurança e que se recupera de forma eficiente. E isto nada tem a ver com superstição, trata-se de neurociência. O cérebro otimiza-se quando sabe o que esperar, quando o inesperado sucede instala-se um ruído interno difícil de silenciar. Mas isto determina o que esperar do resultado? Claro que não, existem outros fatores cruciais, mas aponta para condicionantes desfavoráveis e implica um maior esforço dos atletas e uma maior atenção de gestão da equipa técnica."

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