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quarta-feira, 10 de julho de 2024

O homem que marcava demais


"Este texto não é sobre o Benfica. È sobre desporto, sobre respeito, sobre paixão, sobre magia, enfim, sobre tudo o que me dez gostar de futebol.
No primeiro dérbi lisboeta que recordo, Manuel Fernandes marcou. No primeiro a que assisti ao vivo, voltou a marcar. Em ambas as ocasiões o Benfica perdeu. Pelo meio, antes e depois, o temível goleador anotou 14 golos ao meu clube, ao nosso clube - quatro deles, também não esqueço, nos célebres 7-1. Como não sou do tempo de Peyroteo, Manuel Fernandes foi quem mais vi marcar ao Benfica. Foi, porventura, o jogador de futebol que mais me fez sofrer - talvez em paralelo com Fernando Gomes, infelizmente também já desaparecido.
Dentro do campo, na área encarnada Manuel Fernandes era, na minha infância, a encarnação do diabo.
O meu fascínio pelo jogo e pelos jogadores crescia. Colava os cromos dele com o mesmo zelo que os de Chalana ou de Nené. Talvez até com mais, quem sabe para evitar despertá-lo, ou para que não saltasse da caderneta e se isolasse diante do Bento. Nessa apaixonante história de heróis e vilões, Manuel Fernandes era naturalmente, um dos personagens principais. Uns estavam do seu lado, outros do lado de lá, mas todos habituavam o mesmo universo mágico, todos se sentavam naquele Olímpo de deuses, até porque o Benfica não existira sem adversários. No mundo polarizado, fragmentado e fanatizado em que vivemos, talvez estas palavras não soem bem no jornal do clube rival. Perdoem-me por isso, mas não foi assim que cresci. E a verdade é que, com Manuel Fernandes morreu também um bocadinho da minha infância. Isso, caro leitor, está para além de qualquer vitória ou qualquer derrota, está para além de qualquer clube.
Obrigado, Manuel Fernandes, por teres contribuído, ainda que do outro lado, para a minha enorme paixão pelo futebol."

Luís Fialho, in O Benfica

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