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terça-feira, 23 de julho de 2024

Cristiano, o capitão dos dias bons


"Harry Kane, capitão da seleção de Inglaterra, depois da derrota na final do Euro24. «Perder um jogo destes é muito duro. Depois do 1-1 não conseguimos ter bola e fomos punidos.»
Kylian Mbappé, capitão de França, após ser eliminado contra Espanha. «Foi um fracasso! Queria muito ser campeão europeu. Não vale a pena complicar o futebol. Ou és bom ou não és... não fui bom e vamos para casa.»
Virgil van Dijk, capitão dos Países Baixos, na derrota contra Inglaterra. «É muito difícil aceitar isto. Estou cheio de emoções. Foi um ano longo e duro, tínhamos um sonho grande e sentíamos que o podíamos alcançar.»
Ilkay Gundogan, capitão da Alemanha, na queda contra Espanha. «Estou a digerir isto. A minha continuidade na seleção? Não posso dizer nada ainda, vou precisar de alguns dias para pensar e anunciarei uma decisão.»
Hakan Çalhanoglu, capitão da Turquia, seleção afastada pelos Países Baixos. «Neste Europeu, as equipas que estiveram a ganhar 1-0 decidiram baixar o bloco e defender. Hoje fizemos o mesmo, acho que o fizemos de forma exagerada.»
Granit Xhaka, capitão da Suíça, depois de perder contra Inglaterra nos penáltis. «O Akanji falhou, mas vai voltar mais forte. Eu também falhei um penálti contra a Polónia, sei bem o que ele está a sentir. Não o vamos deixar cair.»
Podia ir mais atrás e recuperar as palavras, mais ou menos fortes, mais ou menos sinceras, de todos os capitães no dia das respetivas eliminações no Euro24. Da Bélgica à Itália, da Eslovénia à Dinamarca.
Fico-me por estes, os que disputaram os quartos-de-final e chegaram mais longe no torneio germânico.
Faltam aqui dois nomes, das oito melhores seleções. O capitão de Espanha, porque não teve de lidar com o insucesso, e o de Portugal.
Cristiano Ronaldo foi o único incapaz de responder às perguntas da comunicação social, de endereçar explicações e um pedido de desculpas (se assim o entendesse) aos portugueses, de mostrar que é um capitão da cabeça aos pés, nos bons e nos maus momentos.
Esperei 17 dias por uma reação do capitão da Seleção Nacional. Nada, a não ser, claro, um post numa rede social pejado de lugares comuns, estilo auto-ajuda, digno de um qualquer curso rápido de coaching.
A aura salvífica já não se ajusta a Cristiano. É a lei da vida, natural e pacífica. Não era essa capacidade heroica, monstruosa, que eu esperaria dele em 2024. Esperava, sim, uma liderança serena, unificadora. A indicar caminhos através do bom exemplo.
Dentro e fora do campo.
Cristiano falhou em ambas. A um rendimento desportivo medíocre, o melhor português de sempre juntou um conjunto de ações/reações impróprias a um profissional de quase 40 anos, e a elas uns pozinhos de um silêncio ensurdecedor. E tanto lhe havia para perguntar.
Falar nos dias bons, de vitórias sonantes, é o mais fácil.
A verve nunca foi particularmente estimulante em Cristiano, mas um líder natural impõe-se apenas pela simples presença. O discurso, mais ou menos trabalhado, vem a seguir.
Dois anos depois da crise saída do Mundial do Catar – Cristiano no banco, Cristiano de relação cortada com Fernando Santos, Fernando Santos afastado, lembram-se? -, aí está mais uma era de duvidosa harmonia, germinada em silêncios inaceitáveis.
As luminárias da gratidão farão o favor de repetir os incensos mais do que gastos e acrescentarão, tonitruantes e ameaçadoras, que Cristiano não tem nada de dar justificações. Está, para elas, acima de todo e qualquer dever levemente associado a um ser humano.
Como lia num brilhante artigo do The Guardian, a federação tem a obrigação de impedir que o ego de um homem esmague todo o talento ao seu redor. E comprometa, assim, o desígnio de uma geração portuguesa inigualável.

PS: o zerozero não faz o tratamento noticioso de modalidades que não estejam (ainda) acopladas à nossa maravilhosa base de dados, mas não posso deixar passar em claro os resultados brilhantes de João Almeida (quarto lugar no Tour) e de Nuno Borges (vencedor do 250 de Bastad, com o sagrado Rafa Nadal do outro lado da rede). Dois campeões portugueses."

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