"Lamine Yamal não é um adolescente qualquer, mas há muito a aprender com ele
Pergunte-se, caro leitor ou cara leitora: o que estava a fazer com 16 anos? Provavelmente a estudar, algures ali pelo ensino secundário, a fazer amizades intensas e a viver os primeiros amores que julgaria para a vida. Nesta altura do ano, já a pensar no que fazer nos três meses de férias: as primeiras saídas à noite, alguns a fumar e a beber às escondidas (não aconselho), muitos a passar os dias a dormir ou na praia (ou ambas as maravilhosas opções ao mesmo tempo).
Também podemos admitir que não foi nem é a idade perfeita para tomar boas decisões. Os TPC (Trabalhos Para Casa) que parecem só atrapalhar as coisas mais interessantes que há para fazer, a passagem lenta da infância para a idade adulta e toda a inconstância e imaturidade que isso traz, os amigos que dizem verdades absolutas e a desconfiança e irreverência para com todos os avisos dos pais.
Nada disto parece poder aplicar-se, no entanto, a Lamine Yamal. Aos 16 anos (quase 17, vá!), o extremo espanhol é já uma das figuras do Euro 2024 e promete deixar a sua marca no futebol durante os próximos... 20 anos?
De Barcelona já nos tinham chegado muitos sinais disso, mas a exibição contra a campeã em título Itália foi suficiente para lançar o alerta europeu. A escola de La Masia está lá, a boa tomada de decisões também, a inteligência e o talento são óbvios, mas há algo de inesperado que pode sempre acontecer com Yamal em campo. Não acho que a idade justifique tudo, mas enquanto houver liberdade para deixar um miúdo destes fazer o que lhe apetece, por mim tudo bem. Numa era em que a formação prende demasiado as crianças a táticas e resultados, e em que a maior parte delas quer passar mais tempo com um ecrã do que com uma bola, perdoem-me a romantização do fenómeno, mas eu só espero que os professores de Lamine o deixem passar de ano por tudo o que é capaz de nos dar numa Europa que cada vez trata pior os filhos de mães guineenses e pais marroquinos.
É verdade que, ao lado de Yamal, Mbappé já parece um veterano, com os seus 25 anos, mas convém não esquecer que, aos 19, já o parisiense filho de pai camaronês e mãe argelina (só para ressalvar a beleza da multiculturalidade) andava a marcar e vencer uma final de um Mundial e a perseguir recordes de um tal de Pelé. Juntemos-lhe, então, um Jude Bellingham e um Musiala de quem aos 20/21 anos já se exige e espera tudo, um Arda Guler de 19 a despontar e, já agora, um Francisco Conceição de 21 que nos salva no último minuto e temos um Europeu perfeito para os adolescentes ou recém-jovens adultos brilharem.
Aproveitemos estes exemplos para se dar mais liberdade aos miúdos também por cá. É muito comum ouvirmos que jogador X tem de ganhar experiência, ou rodar num clube, ou aprender com os erros justificados pela idade. Bem sei que não se aplicará a todos, mas há por aí muito talento que só precisa de se mostrar em campo."
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