"O Benfica saiu vivo graças ao argentino, o maior criativo que temos por cá
Provavelmente, em Rosário, se quiser pensar no futuro do argentino . Os sinais de saída do são alguns, a trajetória inversa na carreira para acabar onde tudo começou fará sentido, mas, até lá, a pergunta: onde fica Di María entre pares?
Já todos argumentaram que Viktor Gyokeres é a contratação da temporada. Justificações acertadas. O sueco mudou o jogo leonino e parece que o Sporting entra sempre a vencer 1-0 com ele.
Di María não chegou ontem a Portugal. Chegou em 2007. Três anos na Luz fizeram dele, também, produto do futebol português- até pelos parâmetros da UEFA no que respeita à formação de futebolistas. O argentino saiu quase feito, voltou como jogador completo e com currículo raro.
Na folha de títulos de futebolistas estrangeiros, Di María vive entre Casillas, que teve uma passagem com relativo sucesso em Portugal, e Capdevila, que no Benfica pouco mais fez do que, de facto, «passear» o CV. O argentino, diga-se, é muito mais Iker do que Joan.
Troféus são uma medida, o talento outra. Onde fica Di María? Muito dependerá da nossa memória e capacidade de visualizar o que será história.
Ainda fui a tempo de um pouco de Madjer, e depois Balakov, Valdo, Preud’homme, Schmeichel, o inevitável Jardel – e não digam que marcar golos, por si só, não é um talento -, Lucho, Pablo Aimar, e ainda mencionando os naturalizados – Deco o melhor – e toda a Geração de Ouro, precedida de Futre e António Oliveira: não vi este, mas ainda fico admirado cada vez que peço ao Youtube que me mostre o que jogava o antigo selecionador! Di María, no talento , está entre estes.
É esse talento, mais do que o CV, que lhe possibilita aos 36 anos e numa fase final da carreira decidir jogos com regularidade. O Benfica saiu de Alvalade com uma derrota, mas saiu vivo. Graças à qualidade do pé esquerdo, e da cabeça, do ‘Fideo’, o maior criativo que temos por cá.
Até pela perspetiva de negócio, Gyokeres é a maior contratação da época. Já Di María é o maior presente. O ‘Fideo’ nunca será consensual porque, ao contrário de Lucho ou Aimar, não é cavalheiro, nem tem jeitos de nobreza. Tem, antes, aquele engano sul-americano em que muitos talentos são forjados na tentativa de, muito mais do que um jogo, ganhar a vida. Di María chegou a jogar com um cartão falso para, simplesmente, ajudar a equipa dos amigos de bairro a vencer e ser feliz com eles. É rezingão, hiperativo, supertalentoso, campeão do mundo e um gigante. Não deste futebol por aqui jogado, mas na sua dimensão global. Onde fica Di María? A pergunta original aponta ao mundo e, para quem discorda, pode cingir-se ao futebol argentino, esse de Maradona e Messi, onde o Fideo caminha logo atrás deles.
Gyokeres vai deixar saudades em Portugal e terá uma carreira pela frente; Di María vai deixar saudades no mundo inteiro, pela carreira que teve para trás, fruto do seu talento inolvidável, que mesmo aos 36 anos continuou a ser maior do que todos os outros em Portugal 2023/24."
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