"Treinador do SC Braga abordou o tema e é preciso que mais vozes se juntem
Artur Jorge abriu o jogo esta semana para falar sobre um tema pouco comum - para não dizer inédito - numa conferência de imprensa: a saúde mental dos jogadores. Queixou-se o treinador do SC Braga que ainda há «pouca abertura» para se falar no quanto isso pode ter impacto no desempenho de um profissional de futebol. E apontou ainda o dedo às redes sociais, como «armas» que funcionam «atrás do computador».
Tem toda a razão o técnico bracarense quando admite que andamos a «esconder a cabeça na areia» e que não falamos o suficiente sobre isto. Está mais do que na hora de o futebol deixar de ser visto - e fomentado - como o lugar onde não há problemas de saúde mental (os jogadores são demasiado bem pagos para isso…), ou não há homofobia (porque nem sequer existem jogadores homossexuais…), ou racismo (porque os castigos são exemplares…), ou machismo (porque as mulheres até têm as mesmas oportunidades…).
Infelizmente, o que não faltam são histórias de como a saúde mental afetou e afeta jogadores de futebol. Ainda também por estes dias, Thierry Henry deu o seu importante testemunho, revelando que passou grande parte da carreira provalvemente em depressão, a chorar constantemente. Falamos de um dos jogadores mais marcantes da viragem do século, de um campeão da Europa e do Mundo, de alguém que, aparentemente, tinha tudo para estar bem na vida - e, sobretudo, no futebol.
Mas Henry, mesmo muito antes de as redes sociais servirem para qualquer um passar mensagens de ódio e violência (não são só isso, note-se, mas não o ignoremos), conta que desde muito cedo teve noção que só faria o seu pai feliz se se tornasse um futebolista de sucesso. Um tipo de pressão que Beckham também revelara recentemente no seu documentário e que continua a ser recorrente um pouco por todo o lado: o sonho do progenitor transforma-se numa obrigação para o filho, como se a dedicação (ou obsessão) extrema e o trabalho árduo desde muito pequenos fosse sinónimo da maior das felicidades para sempre.
Haverá muitos motivos para os jogadores terem problemas de saúde mental, mas o importante é que se faça alguma coisa sobre isso. Mais prevenção, menos tabus, mais atenção e apoio, menos preconceito e ignorância.
Henry poderá agora ser um exemplo para os mais jovens, que ele até treina. E o simples facto de se falar abertamente sobre o tema já ajudará certamente alguém a saber que não está sozinho, não é o único a passar por isso, não é anormal sentir isso. Daí o meu aplauso ao treinador do SC Braga por colocar o assunto em cima da mesa, como um pontapé de fora da área que abana as redes de tal forma que até nos levantamos da cadeira."
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