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quarta-feira, 7 de junho de 2023

Campeonato bem ganho


"Tanto me faz que melómanos e eruditos levem a mal a paráfrase de uns versos do refrão de uma obra-prima, pois o tempo é de alegria pelo autêntico hino ao futebol que o Benfica recitou ao longo da maior parte da época. “Abracem-se milhões de benfiquistas! Enviem esta paixão para todo o mundo.”
Inegável, irrefutável e inapelável mérito do campeão, é uma forma de caracterizar este título do Benfica, mas Rui Costa tem toda a razão ao afirmar que é nosso, não é contra ninguém.
O que, entendido por outro prisma, pode aconselhar a indiferença em relação ao que ressabiados de vária ordem apregoam, se calhar tentando já condicionar a próxima temporada e, de certeza, para consumo acéfalo de correligionários susceptíveis a tácticas tão bacocas e elementares. É da vida, diz o povo. E diz muito bem.
Confesso-me, no entanto, incapaz de o fazer. Nem que seja um cheirinho, vá lá, perdoem-me a fraqueza.
Uma das farsas desta época foi a panóplia de análises patéticas sobre a contratação de Roger Schmidt. Quase não passaram da infância, quanto mais envelhecerem bem… De não haver um treinador estrangeiro campeão nacional desde 2006 (um facto indesmentível, mas sem qualquer significado), defendendo-se implicitamente que as especificidades (seriam só técnico-tácticas?) do futebol português aconselhariam um treinador cá do burgo, à suposta loucura do futebol atacante vertiginoso e da “pressão alta” (atenção que os doutos especialistas, pelos vistos de algibeira, não se informaram que a contra-pressão não é [só] pressão alta), ouviu-se de tudo.
Bafejavam, no fundo, descontando os casos benignos de puro pessimismo, mais do que a ignorância, a má vontade. O desejo de que a época corresse mal ao Benfica era tão transparente que até dava pena. Mas lá foram metendo a viola no saco, esmagados pela lufada de ar fresco em vários domínios do ludopédio lusitano (só porque alguns deles têm a mania que são intelectuais da bola). Que diferença para certas personagens…
Acresce as costumeiras e bafientas manobras propagandísticas daquela malta lá de cima (já para não falar no que me parece tentativas de condicionamento). São sobretudo tristes, mas de igual modo irritantes. Porém, se nem sequer sabem ganhar, como haveriam de saber perder? É no lodo que se sentem como peixe na água."

Luís Fialho, in O Benfica

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