"O Boavista pôs à venda bilhetes a um euro para o jogo de ontem com o Arouca. Nas bancadas, estiveram 4689 pessoas (17% da capacidade), muito abaixo da média inflacionada pelos jogos com os três grandes já realizados no Bessa.
A iniciativa do marketing axadrezado não foi promoção nem saldo, foi o preço desesperadamente justo para atrair algum público distante a um espectáculo de reduzido interesse. E teve a resposta expectável, porque a massa crítica não surge de geração espontânea: a um assinante que veja um jogo por dia na “pay tv” seria mais barato ir ao estádio do que ficar em casa a ver na pantalha.
A única perspectiva interessante deste episódio é que o Boavista, pelo seu presidente, lamentara dois dias antes receber menos de metade dos clubes grandes em matéria de direitos de televisão e advogara uma “melhor divisão das receitas televisivas”.
Isto é espantoso - e transversal a praticamente todos os clubes, à excepção dos tais grandes e, em menor dimensão, do Vitória de Guimarães.
A ideia de que, recebendo mais dinheiro, os clubes pequenos, com reduzida implantação social e recursos limitados, se tornam mais competitivos e populares, pujantes mesmo, redunda em falácia ridícula, como um impossível milagre das rosas que transformasse estádios construídos numa escala megalómana, por causa do Euro-2004, em pontos de eufórica romaria semanal dos fiéis do São Futebol.
Quem é que estes dirigentes querem enganar?
Numa semana fecham as bancadas aos seguidores da principal equipa do campeonato, dispostos a pagar 30 vezes mais do que o “euro-ticket”, na outra aparecem nas redes sociais a apelar à força de adeptos indiferentes para um emocionante confronto entre 8.º e 6.º da palpitante Liga Portugal.
Na Premier League, o Boavista-Arouca corresponderia a um Brighton-Liverpool e teria 31.645 espectadores, com as entradas avulsas reduzidas a dez por cento da capacidade do estádio Amex, ao preço mínimo de 150 libras (170 euros, 170 vezes um bilhete para o Bessa)."
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