Últimas indefectivações

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Pensamento nas vitórias


"Escrevo a horas do jogo em Haifa, inabalavelmente convicto de que venceremos, não obstante estar bem ciente de que esta partida se reveste de dificuldade significativa e os chamados imponderáveis estão sempre à espreita. Não se trata de triunfalismo ou optimismo desmesurado, tão somente de uma constatação irrefutável: a nossa equipa joga bem e fá-lo de forma consistente. Acaso não ganhemos, logo se verá e o apuramento está garantido, mas escrevo o que penso e, agora e até prova em contrário, é só na vitória que penso.
O desempenho da equipa, desde o início da temporada, é o mote para este estado de espírito. Nesta página, assumi as minhas legítimas expectativas de um bom resultado na deslocação a Paris. A anteceder o jogo com o Porto, declarei que ganharíamos. Porém, não menosprezemos a inevitável dose de crença; afinal, por vezes, até o ateu mais empedernido se deixa enredar em algo do domínio da fé.
É claro que, após uma semana em que “banquete de futebol” foi a expressão mais usada para caracterizar as exibições do Benfica ante Juventus e Chaves – adequada embora redutora, faltando-lhe acrescentar “pantagruélico” – nada mais é natural do que um reforçado optimismo.
Até porque as ditas exibições surgiram na sequência de uma importante vitória frente ao Porto, logo seguidas de tentativas de minimização da “qualidade” do triunfo tão confrangedoras quanto esperadas. O título do livro, acaso existisse, seria “Propaganda para totós à moda do Porto”.
Toda aquela conversa bafienta sobre o suposto mérito do vencido por oposição ao, deixem-me rir, demérito do vencedor, por acaso logo abafada pelo embate violentíssimo com a realidade na jornada seguinte, lembrou-me uma ideia de John Milton, acérrimo defensor da liberdade de expressão no século XVII, que me arrisco a adaptar.
Os dislates do Conceição após o jogo e a reprodução acrítica dos mesmos por certa comunicação social são como se fechassem os portões do parque natural da excelência futebolística para que as águias não o sobrevoassem. Em suma, inútil. Porque não nos afecta e, sobretudo, nem eles terão acreditado no que disseram. E a caravana passa…"

João Tomaz, in O Benfica

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