"Vejo Grimaldo jogar e não entendo como tantos o desvalorizam. Acumula épocas inteiras em rendimento elevado, atestadas em presenças consecutivas acima dos 40 jogos por ano e, para os que ligam mais às estatísticas, com número de assistências, mas também de golos (fruto da qualidade na bola parada), invulgarmente raros num lateral. Então para quem aprecia mais que números, a variedade de soluções que oferece em momento ofensivo, desequilibrando por fora ou construindo por dentro, consagram-no como um dos principais organizadores do jogo encarnado nos últimos anos, ao ponto de me questionar como nunca foi sequer equacionado como médio interior. Explicação óbvia: não o valorizam mais porque não é robusto, mesmo se outros mais atléticos na aparência dificilmente garantem tanta fiabilidade. Ideia feita: defende mal, como se alguém com tanta qualidade ofensiva devesse ser julgado pelos momentos em que é o coletivo que deve proteger sem bola quem tanto lhe acrescenta com ela, em particular numa equipa grande. Impressão minha: Roger Schmidt já percebeu que ou lhe dão alguém de topo ou o lugar é dele e não do reforço Ristic. Opinião convicta: o Benfica bem pode procurar que não arranja melhor, muito menos pelos sete milhões de que se fala para a venda.
Vejo Trincão de regresso ao futebol português e aplaudo a escolha leonina. Privado do seu melhor jogador da época passada, o delicioso Pablo Sarabia, os leões rebuscaram de novo o futebol português, interna e externamente, para disponibilizar opções de qualidade naqueles dois lugares decisivos para o sistema de Rúben Amorim: os dos homens que gravitam na órbita do ponta de lança. Mantém-se Pote, a prometer voltar aos melhores dias pelo que se viu diante do Villarreal, aguarda-se a explosão definitiva de Marcus Edwards, mas, para além das alternativas Nuno Santos e Tabata, acrescentam-se dois nomes muito bem apanhados, Rochinha e Trincão, num claro acréscimo de qualidade onde ela é mais necessária, na zona de criação rumo à definição. Rochinha terá de esgravatar para encontrar o seu espaço, à partida como destro alternativo a Pote. Já Trincão pode rivalizar com Marcus, mas também ser compatível com ele, e espero que seja, pois pelo menos desde o Brasil de 70 que sabemos que se há craques a sério o único desafio justo é conseguir juntá-los. Talvez por isso Amorim ensaie agora uma estrutura alternativa, para finalmente abdicar de uma unidade defensiva e poder ter uma peça extra no processo de ataque.
Ao contrário, saem do Porto Vitinha e Fábio Vieira e nem adianta dizer que partem precocemente, já que a partir de certo nível o dinheiro fala e 75 milhões em receita (dos dois somados e no imediato) é sempre um grande negócio, sobretudo para quem só tem de descontar os custos da formação. Agora que o FC Porto perde duas unidades já muito importantes não há como iludir, que não é fácil encontrar sequer parecido. Vitinha tornou-se indiscutível, acrescentou critério com bola, pegou na batuta e definiu ritmos. Fábio Vieira foi ganhando espaço agarrado a uma criatividade rara, esbracejando para encontrar vaga em terrenos que eram ou de Otávio ou da profícua dupla Taremi-Evanilson, e a verdade é que logrou brilhar. Vitinha, o maestro, cresceu com a equipa mas sobretudo a equipa cresceu com ele. Fábio, o solista, brilhou sempre que lhe permitiram o destaque da titularidade. Curioso como tantos, há menos de um ano apenas, mal percebiam a qualidade que ali estava. O Wolverhampton não percebeu, por exemplo, e recuou em dar 20 milhões por um homem que agora valeu o dobro. Outros jogadores, bem mais celebrados, nunca chegarão nem perto de PSG ou Arsenal. É onde já estão os levezinhos do Dragão, mais uns a provar que o talento não se mede com balança e fita métrica.
rendimento elevado, atestadas em presenças consecutivas acima dos 40 jogos por ano e, para os que ligam mais às estatísticas, com número de assistências, mas também de golos (fruto da qualidade na bola parada), invulgarmente raros num lateral. Então para quem."
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