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terça-feira, 1 de março de 2022

Devagar, devagarinho, mas não abuses Benfica


"Depois dos jogos com Ajax e Vitória, Bruno Vieira Amaral fala de um Benfica que aos poucos parece ir dando passos de convalescente, a comer caldinhos que é para lhe cair bem no estômago, com moderação. Mas alerta para a “complacência exagerada”

Devagar, devagarinho, lá vai o Benfica dando os seus passos de convalescente, a espreitar pela janela que é para ver se não se constipa, a comer um caldinho que é para lhe cair bem no estômago, tudo com moderação e sem entusiasmos precoces porque agora, neste estado, o que é preciso é não abusar, ir aos poucos, um dia de cada vez, de preferência sem fazer muito barulho, em pezinhos de lã, que é para os outros não darem por ele. Porém, cuidado com a complacência exagerada.
Por agora, tudo se aproveita e tudo se aplaude. O Darwin que vai disparado na lista do goleadores, os cruzamentos milimétricos de um Gilberto que não acertava um, a ressurreição de um tal Meité, o miúdo Ramos segundo avançado, terceiro médio e central nas horas vagas, as defesas providenciais de Vlachodimos que, de tão frequentes, já perderam o carácter milagroso e, domingo, até a entrada emocionante de Yaremchuk que, com lágrimas, agradeceu a homenagem sentida da bancada (o avançado ucraniano viu que os festejos por um golo soam de outra maneira; domingo ouviu uma salva de almas que não esquecerá).
O jogo contra o Ajax já tinha saído melhor do que a encomenda. Veríssimo, com ou sem bazófia, apanhou as expectativas estilhaçadas do chão, pôs-se a fazer remendos e ofereceu aos adeptos aquilo que, tendo em conta o ponto de partida, pareceu um recital, pelo menos na garra, na entrega e na vontade. É pouco? De barriga vazia cada migalha é um manjar. Os instrumentos não estão afinados, os músicos não tocam pela mesma pauta, mas já não se notou aquela resignação antecipada, aquele derrotismo cervical.
Como se costuma dizer, ninguém embandeirou em arco porque isto de inopinados restabelecimentos e fulgores súbitos às vezes trazem más notícias. E, ontem, se a aselhice de Estupiñan e a intrepidez de Vlachodimos não se tivessem juntado para proteger o Benfica nos minutos iniciais lá haveria mais uma semana de divã, de dúvidas existenciais, de “isto só a nós” para aqui e “assim não vamos lá” para ali. Depois, a equipa respirou fundo, agarrou-se ao corrimão, mandou duas batatas para o saco e “já me sinto um bocadinho melhor, obrigadinho.”
É óbvio que um clube como o Benfica, ou qualquer outro grande, não pode viver para sempre neste estado semi-competitivo, tenteante, não ponhas o pé em ramo verde, enquanto os adversários andam lá em cima, onde o risco é maior, sim, mas onde tudo se decide. Este limbo em que se festejam empates nas competições europeias e cada vitória é recebida com um suspiro de alívio e aplausos de incentivo como os que se dão aos convalescentes é uma realidade paralela da qual o Benfica tem de fugir o mais depressa que puder.
Mesmo com todos os problemas vividos nesta época, o maior erro será baixar a fasquia só para se festejar cada saltinho, cada passinho do menino que, coitadinho, está a aprender a andar. Que se reconheça a debilidade geral, está muito bem. Que se use tudo para dar injeções de ânimo, também é de louvar. Mas, vá lá, um bocadinho de tensão também não fica mal ou qualquer dia os jogadores vão com o pratinho da canja e a mantinha para os joelhos e o terceiro anel explode em aplausos só por entrarem em campo."

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