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sábado, 18 de dezembro de 2021

Bancadolândia


"José Torres. Ao debitar as letras que aqui dão forma e vida às palavras e às frases, curvo-me perante a memória do Bom Gigante, figura grande da história do futebol do Benfica e de Portugal que partiu há mais de 11 anos. Algum tempo antes, em 1985, foi graças a ele que, naquela altura, o sonho e a vontade de sonhar tornaram conta de garotos como eu, então acabado de completar 12 anos de existência.
Estávamos a 16 de Outubro de 1985, a Seleção Nacional precisava de 'um milagre', isto é, necessitava de bater a Alemanha, em Estugarda, para picar o bilhete com destino ao Mundial do México. Contra a descrença e a desperança envolventes, José Torres, à data no comando técnico da equipa das Quinas, soltou: 'Deixam-me sonhar!' E Portugal, incrível, ganhou mesmo, realizou o seu sonho, e ainda hoje me arrepiam as lembranças daquele fabuloso tiro de Carlos Manuel 'do meio da rua' e daquelas estupendas defesas de uma muralha elástica chamada Manuel Bento.
Sonhar anima, retempera, faz-nos viajar, desprende-nos para os alvitres. 'Sonho' é o termo que me cativa quando recordo a carreira da jovem equipa do Benfica na corrente edição da UEFA Youth League. O primeiro embate, em Kiev, seria uma lição, o gatilho rumo a cinco vitórias (com 14 golos marcados e 0 sofridos!) arrancadas com imensa qualidade e competência nos outros desafios da campanha. Ao todo, foram 15 pontos em 18 possíveis, e somente a Juventus teve um registo superior (16) na fase de grupos concluída no dia 8 de Dezembro.
A esta distância, sem bolas mágicas, não me atrevo a afirmar que o Benfica vai alcançar a final da prova pela quarta vez (esteve na decisão em 2013/14, 2016/17 e 2019/20) e, aí chegado, arrebatar um troféu que tanto tem feito por merecer, não só pelas capacidades expostas nos relvados, mas sobretudo pelo trabalho de formiga por detrás do pano, forjando polindo jovens craques de mão-cheia. Todavia (obrigado, José Torres!), o sonho é legítimo e muito fundado quando se atenta no calibre futebolístico de uma 'colheita' que esmaga pelo perfume do seu talento e das potencialidades. Esta juventude (que, precoce, atravessa Sub-19, Sub-23 e Equipa B) é entusiasmante! Assim, como não sonhar?"

João Sanches, in O Benfica

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