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segunda-feira, 7 de setembro de 2020

A actividade física desportiva... em nome da vida!... (2)


"Concluía no artigo anterior com a referência a Galeno (129-199 d.C.), médico estudioso da obra de Hipócrates, em que aplicava a educação do físico à medicina, criando a ginástica médica, em que dizia: “a cada indivíduo, segundo as suas características, deveria corresponder um conjunto de exercícios também específicos, associado o termo saúde ao prazer do movimento”!...
Continuando esta análise, necessariamente em termos de síntese da evolução histórica da actividade física e desportiva, entramos agora no tempo do Cristianismo, ou seja, a religião do amor, da bondade e igualdade entre todos os homens.
Jesus Cristo ensinou aos seus discípulos: “sempre que rezardes dizei: Pai Nosso”, proclamando uma doutrina da igualdade universal, contrária aos princípios da sociedade escravocrata de Roma. Deste modo, os cristãos passaram a ser objecto de perseguição, selvaticamente chacinados, servindo de atracção nos circos, ao serem atirados às feras, em espectáculos violentos e sangrentos. De facto, Roma até aí império duma dimensão cultural e artística dominante, começa a distinguir-se por vícios degradantes, caracterizados pela corrupção e pela degradação moral. Por isso não foi surpresa que tenha sida invadida pelos bárbaros, pelo ano 476, d.C.
A partir da queda do Império Romano do Ocidente, entramos num longo período de transição, considerando dois períodos: da Baixa e Alta Idade Média.
No 1.º período até ao séc. IX, baseado nos princípios do Ora e Labora, as actividades físicas praticamente não tinham um papel de fundamental desempenho.
A seguir, com o princípio da entrada no 2.º período, é no ideal de cavalaria que devemos encontrar as raízes mais profundas do espírito desportivo, recebendo apenas os nobres o treino militar, equitação, esgrima e natação, enquanto que o povo se divertia com os jogos populares.
É de referir, nos jogos medievais portugueses, a menção do livro de montaria de D. João I: “correr bem, saltar bem, lançar bem” e para os fidalgos, as justas e os torneios.
Do séc. XV a XVIII, com a considerada Época Moderna, o eterno divino vai suceder ao natural e humano.
De referir o movimento artístico, cultural e intelectual renascentista surgido em Itália com uma exponencial intervenção no sec. XVI, em que os exercícios físicos são considerados indispensáveis para que o homem atinja a felicidade, e só com o conhecimento das capacidades do seu corpo se conseguirá atingir a harmonia do homem com a natureza.
Montaigne (1533-1592), filósofo, escritor e humanista francês, influenciado pelo humanismo renascentista, inspirado pelo antropocentrismo (o homem no centro do mundo), afirmou mesmo: “não é a alma, não é o corpo que se educa, é o homem”.
Havia já preocupações em introduzir jogos na primeira infância, defendendo-se um período de duas horas diárias para o exercício físico.
O médico Jerónimo Mercurialis, (1530-1606), através da sua obra publicada em 1569, “De Arte Gynástica”, considerava a ginástica como um meio de prevenção de doenças e conservação da saúde e bem-estar, dividindo a aula em partes e sistematizando os exercícios em relação à idade e ao tempo de execução.
Mas à medida da evolução do tempo o absolutismo político e respectivas transformações sociais, em que o dinheiro tudo compra, incluindo títulos de nobreza, o capitalismo europeu entra em franco progresso, até quase metade do sec. XVIII, em que a crise económica provocada pelo suborno e acção das companhias especulativas, levou a rupturas económicas generalizadas.
As práticas físicas e desportivas deixam de ser olhadas como um fim prático, passando a ser consideradas especialmente em França como simples diversão, sem nexo, logo matéria desprezível. Descuida-se a educação corporal, pela falta de necessidade de preparação guerreira, e a preguiça passa a ser o ideal de felicidade, juntamente com os prazeres fáceis duma burguesia endinheirada.
Será, contudo, de fundamental importância referir, uma prática desportiva de características aristocráticas, implementada na Inglaterra do sec. XVII e XVIII.
Aos poucos e pela coexistência nos colégios dos filhos duma burguesia rica, tornou-se necessário motivar aqueles e daí a popularização do desporto nobre. Formam-se clubes (Jockey Club, Cricket Club…) formalizando-se regulamentos desportivos.
As apostas motivam marcas e a actividade desportiva tende para a especialização e mesmo para a profissionalização. A corrida ganha adeptos, a equitação e o boxe congregam grandes multidões via apostas elevadas. Publicitam-se os campeões e o desporto passa a vencer barreiras inimagináveis.
Com a entrada da Idade Contemporânea (meados do sec. XVIII até aos dias de hoje), a prática do exercício e actividade física recomeça a aparecer como fim terapêutico e higiénico, cabendo a responsabilidade do lançamento das bases do desporto organizado à Inglaterra, com a criação das associações e codificação das principais regras do jogo. E é nas escolas públicas e universidades que encontramos o gérmen aglutinador de paixões que o mundo adoptou e fez um crescendo de entusiasmo.
(Continua)"

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