"A UEFA Youth League foi criada em 2013 como simulação da maior prova internacional de clubes, uma Liga dos Campeões para preparar as gerações mais novas face ao futuro competitivo que se espera da maioria dos participantes: o talento abunda em cada edição, muitos são os craques actuais que venceram o troféu Lennart Johansson ou deram nas vistas no relvado de Nyon, onde se realiza geralmente a final four.
O SL Benfica, com três presenças na final, é já um dos crónicos pretendentes ao trono europeu juvenil, apresentando geralmente equipas de valor superlativo e com andamento para as melhores academias da Europa.
Parece gerar-se um padrão geracional nos encarnados e que se torna curioso: o Benfica apresenta-se na final de três em três anos (2014, 2017 e 2020) e coloca na rampa de lançamento qualidade nas mais diversas posições.
Ainda que muitos se tenham conseguido consolidar em patamares de acordo com o potencial demonstrado, outros existiram que até aos dias de hoje não conseguiram confirmar previsões e o seu rendimento mantêm-se aquém do exigido, pautando a carreira com fases de grande irregularidade e clubes de pouca expressão.
1.
José Gomes, ponta de lança – Apelidado de ‘Zé Golo’ pela apetência rara pelo momento principal do jogo, José sempre se destacou como ameaça principal para as equipas adversárias, que respeitavam a sua fama de assassino de área e estilo felino no aproveitamento das oportunidades. Em 18 jogos de Youth League foi autor de 11 golos, apontou 31 em 63 presenças nas camadas jovens portuguesas – onde, aliás, foi um dos líderes da geração de 1999 campeã europeia em dois escalões, sub-17 e sub-19.
Ficou marcado de forma infeliz pelo penalty falhado em plena Vila Belmiro, no jogo do centenário do Santos FC, numa altura em que começava a ser aposta recorrente de Rui Vitória. Essa fase não encontrou continuidade, Zé parece ter saído afectado da experiência e, coincidência ou não, a sua carreira estagnou a partir daí. Aos 21 anos, tem todo o tempo do mundo para trilhar caminho de sucesso no futebol sénior.
2.
Romário Baldé, avançado/extremo – Um currículo de enorme prestígio, onde se incluem 52 internacionalizações nas camadas jovens da selecção, Romário destacou-se precocemente pela técnica prodigiosa que o permitia criar lances que outros nunca imaginavam.
Na Youth League, fez 7 golos em 15 jogos, foi destaque duas temporadas consecutivas (2013-14 e 2014-15) e mostrou talento para ser protagonista em grandes palcos – a coragem, vista quase injustamente como loucura, da panenka (mal executada) frente ao FK Shakhtar, é característica dos grandes artistas da bola. Talvez o desleixo não o tenha permitido manter toda a qualidade na subida aos seniores, mas a experiência que já leva acumulada de Primeira Liga mostra que ainda não é tarde para desistir dele.
3.
Hildeberto Pereira, avançado/extremo – Não é o melhor exemplo de um tecnicista puro como os enumerados anteriormente, antes prefere basear o seu jogo na sua capacidade física fora do comum e utilizá-la em prol da equipa. A nível sénior, já foi utilizado a lateral, médio centro, extremo, segundo avançado e ‘9’ – e será essa versatilidade que o fará ter sucesso.
Um dos goleadores da Youth League 2013-14, importantíssimo na caminhada benfiquista, cumpriu épocas de afirmação na Primeira Liga no Vitória de Setúbal, já depois de ter feito parte do contingente luso no Nottingham Forest. A sua prestação à beira Sado valeu-lhe transferência para a China, onde irá alinhar no recém-criado Kunshan FC.
4.
João Carvalho, médio ofensivo – Trequartista prodigioso, foi uma das figuras da edição de 2015-16 ao lado de Renato Sanches, e a sua qualidade permitiu-lhe introdução no plantel comandado por Rui Vitória. Infelizmente, não estava preparado para agarrar a oportunidade em 2017-18, aquando da lesão de Krovinovic e a vaga disponível no meio-campo a três dos encarnados – foi titular numa difícil noite no Restelo, saiu ao intervalo e nunca mais voltou ao onze.
Com o famoso rótulo de “15 milhões” estampado no seu talento, rumou a Inglaterra para vestir a camisola do Nottingham. Bastante utilizado, jogou e fez jogar, conseguindo impor o seu futebol rendilhado num contexto de kick and rush, demonstrando capacidade de adaptação fora do vulgar e que justificará regresso pela porta principal ao futebol português, assim o entendam os principais clubes.
5.
Rochinha, médio ofensivo – Ressurgiu em 2020, comandado por Ivo Vieira no Vitória minhoto, mas foi aparição tardia dada a qualidade demonstrada nas camadas jovens. Outra das grandes promessas do Seixal, foi um dos segundos melhores marcadores da edição de 2013-14, com seis golos, e melhor assistente da competição em igualdade com Munir El-Haddadi, com cinco passes para finalização.
Depois de um 2019-2020 a bom nível, espera-se plena temporada de afirmação para o jovem, que terá no Estádio Dom Afonso Henriques espaço e contexto para a consistência que o seu futebol ainda não conseguiu atingir.
6.
Raphael Guzzo, médio centro – De alta cultura táctica, aliava à técnica exemplar a visão de jogo apurada das grandes figuras da posição. Pêndulo da geração que chegou à final de 2014, era aos 18 anos uma das grandes promessas encarnadas, com experiência de equipa B e pronto a ser introduzido nos trabalhos de equipa principal.
O empréstimo ao GD Chaves, em 2014-15, parecia ir de encontro ao sucesso no seu desenvolvimento a nível sénior, mas empréstimos posteriores a CD Tondela e Reus pareceram desencaminhá-lo do protagonismo que outrora adquirira. Compete novamente pelo clube transmontano, agora na Segunda Liga.
7.
Yuri Ribeiro, lateral esquerdo – A experiência falhada nos seniores dos encarnados, onde nunca conseguiu ser alternativa válida a Grimaldo, não apaga o seu passado de sucesso nas camadas jovens, a nível de clube e de selecção, onde cumpriu presenças em todos os escalões formativos (conta com 66 internacionalizações no total).
Na Youth League, foi totalista de minutos na edição 2014-15 e ajudou na caminhada até aos quartos em 2015-16 – depois de uma fase de grupos exemplar, que ficou marcada pelo 11-1 ao Galatasaray.
A nível sénior, além da boa experiência em Vila do Conde, foi bastante utilizado no primeiro ano em Inglaterra, tendo participado em 31 jogos ao serviço do Nottingham Forest FC: experiência que certamente o ajudará a evoluir e a estar mais preparado para o topo competitivo.
8.
João Nunes, defesa central – Capitão da geração 2014, primeiro capitão da equipa B aquando do regresso em 2012, João Nunes era um dos principais projectos defensivos do Seixal para o futuro. Às capacidades de liderança juntava fortes índices de concentração, agressividade e uma elevada capacidade de tackle, sendo o parceiro ideal para alguém mais tecnicista.
Porém, com o avançar do tempo e sem as oportunidades a chegar da equipa A, foi um dos primeiros que o Benfica emprestou para a Liga Polaca, ao abrigo de outro protocolo. Chegou a Gdansk para representar o Lechia, experiência feliz onde acumulou muitos minutos ao longo de três anos (76 jogos) e as qualidades demonstradas permitiram-lhe uma transferência para um gigante grego, o Panathinaikos. Após uma época e apenas 10 jogos cumpridos na Liga, mudou novamente de ares e representa agora a Academia Puskas, no campeonato húngaro.
9.
Aurélio Buta, avançado/lateral direito – Um dos protagonistas da geração que em 2017 caminhou de forma triunfal até Nyon, Aurélio foi gradualmente adaptado ao lado direito da defesa com excelentes resultados práticos. As suas características permitiram-lhe grande rendimento na exploração do corredor vindo de terrenos mais recuados, apoiando uma frente de ataque recheada de talento onde se encontravam Félix, Jota, Diogo Gonçalves e José Gomes: a vitória por 4-2 sobre o Real Madrid na meia-final é a grande demonstração de força desse leque de talento encarnado.
Na Youth League cumpriu 19 jogos e, com ele em campo, o Benfica perdeu apenas em três ocasiões. Por estes dias, dá nas vistas na Liga Belga ao serviço do Antuérpia, tendo sido desenvolvido pelo histórico Lazslo Boloni.
10.
Rafael Ramos, lateral direito – Ala seguro, de técnica apurada e com forte propensão ofensiva, Rafael foi um dos protagonistas da caminhada até à final de 2014. Quando se esperava ascensão até à equipa principal pela mão de Rui Vitória, parte misteriosamente, junto com Estrela, rumo a Orlando para representar o City na MLS.
Protocolos à parte, a estranheza do negócio interrompeu o seu desenvolvimento como atleta de topo e só o regresso ao futebol europeu, pela porta do FC Twente, permitiu recomeçar essa caminhada rumo a um patamar que o seu potencial pressupunha. Hoje representa o CD Santa Clara, tendo aproveitado sobremaneira os minutos que João Henriques lhe deu na temporada transacta.
11.
Thierry Graça, guarda-redes – Titular da geração de 2014 que perde a final com o Barcelona de Munir El-Haddadi e Adama Traoré, de Thierry esperava-se muito perante as suas características invulgares para a posição. A coragem e agilidade demonstradas anteviam voos maiores nas balizas do futebol nacional.
Após uma época de Benfica B, parte em 2016 rumo ao GD Estoril Praia à procura de visibilidade – na Luz existiam Júlio Cesar e Ederson –, mas não conseguiu dar o salto, rumando em 2019 ao oásis do futebol português: no Chipre, Thierry representa por estes dias as cores do DOXA. É internacional por Cabo-Verde."
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